Abaixo os professores
Abaixo os professores porque é deles a culpa do estado do país. Quando se esperam anos por uma justiça ineficaz, não é do legislador a culpa de não mexer num sistema que não funciona. É dos professores que não conseguiram incutir nos seus alunos a correcta noção da legalidade.
Quando grassa corrupção, é culpa dos professores porque falhou o ensino da ética. Se há desemprego é porque os professores não desenvolveram o espírito de iniciativa nos estudantes. Se há fome é culpa dos professores não terem ensinado a pescar. Se está escuro, é culpa dos professores não terem ensinado a fazer luz. Quando há problemas, é culpa dos professores não aparecerem soluções.
Tivemos a “paixão pela educação” de Guterres e a carnificina da avaliação docente com Sócrates. Vamos em mais de 10 anos de políticas para resolver os problemas do país mexendo na educação. Melhorámos? Basta olhar para as parangonas para se ler a resposta.
Em todas estas décadas, pese embora tantas “mudanças”, há uma aldeia de irredutíveis gauleses onde as fundações continuam inabaláveis: o sistema judicial. Um país onde a justiça seja incapaz de responder em tempo útil nunca poderá ter níveis de desenvolvimento aceitáveis. Se se perde um concurso devido a truques, de nada vale, passados anos, esgrimir argumentos em tribunal. Incumprimentos contratuais precisam de ser resolvidos na hora, não é num futuro incerto. Direitos violados assim continuarão até que, tantas vezes tarde demais, seja possível obrigar à reparação de danos. A incerteza quanto ao tempo necessário para que se faça justiça é um campo fértil para quem se disponha à ilegalidade.
Os governos têm passado e a justiça fica. Em contrapartida, a mensagem “abaixo os professores” trazida pela enxurrada de reformas após reformas tem sido uma constante, como se isso resolvesse os problemas do país. É mais do que tempo de parar com o faz de conta. Quando é que se reforma a justiça, começado pelas bases processuais?
Durante estes anos de chumbo do socratismo os professores passaram muito. Cenas como as do famoso vídeo da pancada em Benfica, vi-as eu todos os dias, sem nada poder fazer, pois os intervenientes e as testemunhas sempre negavam, os boys pressionavam e ameaçavam veladamente, e nem podia filmar, porque por causa disso uma professora no Reino Unido (então trabalhista/Socialista) foi severamente castigada.
Dói muito ser-se insultado, empurrado, cuspido, ameaçado, e nada poder fazer. Dói ainda mais ver as crianças decentes olharem para nós em busca de apoio e perceberem que estamos de mãos atadas.
Obrigado por me/nos ter ajudado a manter a sanidade. É dos poucos que, não sendo professor, não alinhou na política do ódio aos professores.
Mil vezes obrigado!
Jorge
Não resisti a republicar este texto no meu Blogue. É mais do que oportuno chamar a atenção para estas questões. Um beijinho e obrigada por teres voltado.