Uma rede de ciclovias para Lisboa
O Geota (Grupo de Estudos do Ordenamento do Território e do Ambiente) está a organizar um passeio de bicicleta no dia 17 para pedir um corredor verde na zona ribeirinha de Lisboa entre Belém e o Trancão. Acho a ideia boa. Mais vale algo que nada.
Dada a morfologia do terreno lisboeta, ciclovias fazem mais sentido nalguns locais do que noutros. Mas há uma enorme área que é plana ou quase, sendo actualmente feudo do automóvel. Mas poderia muito bem ter algumas estradas para bicicletas, tanto para uso recreativo como para constituir uma efectiva e rápida forma de deslocação na cidade. Ideia demagógica? Olhe que não...
Observe-se o que se passa em outras cidades europeias e pode-se concluir que a bicicleta é o meio de transporte por excelência em muitas delas. Teste prático: ir ao google e fazer estas pesquisas:
1. munich cycling
2. paris cycling
3. madrid cycling
4. barcelona cycling
5. lisbon cycling
Comparar o número de endereços obtidos, abrir alguns e verificar os respectivos conteúdos. Facilmente se conclui que para todas as cidades, excepto para Lisboa, há muita informação sobre como circular de bicicleta na cidade, o que denota a existência de infraestruturas.
Entre nós, o betão e o alcatrão já tomaram conta de todo o espaço livre, pelo que não é possível construir ciclovias ao lado das estradas. Resta por isso fechar algumas estradas ao trânsito automóvel e transforma-las em ciclovias e em zonas pedonais, por forma a que a cidade dispusesse duma rede elementar de ciclovias. Podia ser feito, mas não o vai ser. Em vez disso, túneis do Marquês e vias rápidas continuarão a inundar a cidade de carros.
Eventualmente, seguindo a portuguesa tradição "para inglês ver", inventar-se-ão umas amostras de ciclovias. Como se fez na Amadora há uns anos, quando nas já estreitas artérias principais se pintaram uns riscos na estrada e nos passeios. Chamaram-lhe ciclovia mas só um masoquista se arriscaria a lá circular, com os carros a circularem a escaços centímetros, quando não na própria "ciclovia".
Ou então, promovem-se estes "corredores verdes" como lhe chama o GEOTA. Pelo que percebi a ideia seria a construção duma ciclovia (uma!) mas aquilo que a cidade precisa é duma rede de ciclovias, que seja uma efectiva forma de transporte. A título de exemplo, Paris tem 314 Km de estradas para bicicletas ( mapa de ciclovias parisienses); em Munique, cada estrada têm o seu passeio e.... a sua ciclovia. A
Voltando ao google, numa pesquisa encontrei este endereço: rede ciclável de Lisboa (http://www.isa.utl.pt/ceap/ciclovias/lisboa/index.htm). Confesso que fiquei entusiasmado e já pensava desistir deste post. Decidi que era para manter quando vi na página Clique para saber a situação do projecto! que a última actualização foi em 15 de Junho de 2003. Enfim...
Além do facto de não termos estas infraestruturas há uma outra coisa que me aborrece deveras. Na verdade, talvez ainda mais. É ver os nossos queridos políticos, sejam autarcas, governantes ou parlamentares fazerem-nos de burros. Volta e meia lá aparece um com um projectozinho, cheio de powerpoints e cerimónias oficias para anúncios de tapar o sol com a peneira, como se a partir daí ficássemos ao nível da Europa (esse terreno que fica a este da fronteira com a Espanha). É o caso aqui exposto: Capitais europeias restringem tráfego automóvel (artigo existente no site da Câmara Municipal de Lisboa, 2004-01-07)
À semelhança do que acontece nas grandes capitais europeias, Lisboa está a tomar medidas de ordenamento do tráfego e estacionamento automóvel. As medidas que foram implementadas na nossa cidade (tarifagem do parqueamento, restrições de tráfego no Bairro Alto, Alfama, Bairro Azul e outras zonas da cidade) encontram paralelo nessas cidades. Um artigo do semanário francês L'Express (www.lexpress.fr) faz o ponto da situação.
Em Paris, têm sido criados corredores bus e ciclovias e procede-se à instalação, neste momento, de um corredor para eléctricos rápidos nos Boulevards des Marechaux [...]
Em Londres, a política de restrição à circulação automóvel parece ter sido levada ao extremo: uma vasta zona, designada por "congestion charge", está sujeita ao pagamento de uma tarifa de circulação para o período diário compreendido entre as 7h e as 18h30, [...] Complementarmente, os fundos que advêm da taxação serão empregues no melhoramento do espaço público e do sistema de transportes colectivos.
É impressão minha ou este artigo foi escolhido para justificar a tarifagem do parqueamento, usando Londres como o caso extremo e, portanto, Lisboa seria uma situação normal? Sim, porque o caso de Paris em nada ilustra as medidas adoptadas para Lisboa!
Anuncia-se algo que pareça pomposo e sugere-se que ficamos na vanguarda. "Mesmo que alguns topem o faz de conta, o que interessa são as aparências". Mas nós temos que pagar a estes políticos?
apesar de não viver em lisboa parece me uma excelente ideia e tudo o que se puder fazer para pressionar os responsáveis a avançar é bem vindo.
é verdade que lisboa (e portugal) têm poucas ciclovias, mas a topologia do terreno também não é igual à dos outros países. Lisboa por exemplo tem zonas onde se tem de subir (e descer) muito. Mas concordo que se possa fazer muito mais. Esta iniciativa da Geota é muito boa. é pena já estarem esgotadas as inscrições...
Tornei-me utilizadora de bicicleta em Lisboa há cerca de uma semana. Estou entusiasmada com a ideia, e espero mesmo não vir a desistir dela.
Até agora tenho as seguintes observações a fazer:
a) As subidas não me incomodam assim tanto (e subir um bocadinho da Av. da Liberdade a pé não deve fazer mal a ninguém.
b) As pessoas não estão educadas para o uso das ciclovias. Ou então é o estado degradado dos passeios, porque encontrei imensos "empatas" a passearem-se na ciclovia, muito incomodados com a presença da minha bicicleta.
c) Os próprios funcionários da Câmara (ou da Junta, nem sei bem a quem isto compete) nem devem saber o que é uma ciclovia, porque vejo o meu percurso diário barrado por um maciço contentor de lixo. Podem ir vê-lo, na ciclovia que passa entre a Torre do Tombo e a FCUL.
d) Quando a ciclovia termina, por onde andamos? Junto dos carros, e corremos o sério risco de sermos atropelados? Ou nos passeios, ocupados por carros ou por peões que nos dão encontrões e olhares raivosos? Pela lei deveriamos ir pela estrada. Mas eu não sou suicida...
Nas minhas viagens a países "civilizados", vi toda a minha gente a andar de bicicletas pelas ruas. Até os ministros.
E lembram-se dos eléctricos? Sim, esse belo meio de transporte, que têm vindo a exterminar juntamente com os comboios, trocados por um império de autocarros sujos e barulhentos... Lá os eléctricos e os metros têm espaço para caberem bicicletas, pessoas e carrinhos de bebé. Na hora de ponta. E os utentes sabem que não precisam de forçar a entrada na carruagem e esmigalhar quem já lá estava, porque dentro de poucos minutos têm outro comboio com espaço para eles.
Num país civilizado pode-se levar a bicicleta no metro em qualquer dia da semana. Cá mal há espaço para as pessoas, por isso bicicletas não entram no metro aos dias úteis.
E ainda temos de pagar 2 bilhetes para levar a bicicleta a dar um passeio de metro ao Parque das Nações. Até porque se fossemos pela 2ª Circular nunca chegaríamos ao destino. Aliás, provavelmente iamos parar às urgências ou à morgue.
Olá.
Estou a ver que o Pai Natal trouxe uma bicla nova :-)
É verdade, uma pequena subida não faz mal a ninguém. Já o mesmo não se pode dizer da inexistência de ciclovias... :S Quanto à malta caminhar nas ciclovias, é um facto. É uma atitude que se aprende e como por cá (já) não há grandes tradições de bicicletar... Eu habituei-me, quando estive em Munique, mas confesso que ao princípio também me esquecia que as ciclovias não eram passeios. O que não era nada saudável, dada a velocidade a que os ciclistas por lá circulam!
Há uns tempos escrevi umas cenas sobre o assunto:
Munique e as bicicletas
Bom ano e boas bicicletadas ;-)
Sim, o Pai Natal é um tipo bem porreiro...
Na Alemanha - e redondezas - é impensável o pessoal ir trancar-se num shopping num dia de Sol. Estive a ler o teu post. Que saudades de terras civilizadas, onde os passeios parecem avenidas e há praças enormes sem carros à vista...
Enfim... parece que o meu desejo de Ano Novo não se vai realizar tão cedo em Portugal, mas, já agora, aproveito para desejar um
FRÖHLICHES NEUES JAHR!!