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Como viver com a subjectividade numa avaliação de desempenho?

Indo ao encontro do que escreve Carlos Pires no Dúvida Metódica, parece-me que uma avaliação de desempenho docente (ADD) será com frequência subjectiva. Aceitando este pressuposto, imediatamente se torna redundante o modelo das fichas do ME, já que estas são uma tentativa de tornar objectivo, pela extensíssima lista itens, algo que à partida conterá diversos aspectos subjectivos.

Creio até que o ME, antecipando a subjectividade duma ADD, tentou ultrapassar o problema tornando-a na confusão burocrática que conhecemos.

Há, ainda, a eterna questão de misturar ADD com gestão da carreira, coisa que o ME tenta fazer em simultâneo, com o potencial de injustiça que isso acarreta.

Portanto, continuando a aceitar o pressuposto da ADD ser subjectiva, como se pode então avaliar alguém? Creio que a sugestão que apresenta fará sentido. Alguns aspectos terão, no entanto, que ser atendidos, tais como notas em exames nacionais possivelmente mais baixas para alunos de meios socialmente desfavorecidos.

No que respeita apenas a vertente dos resultados - haverá, seguramente, outros aspectos a avaliar, num contexto de avaliação centralizada, os exames nacionais são um instrumento de utilização não negligenciável. Não sei se exames nacionais para todas as disciplinas será praticável. Talvez em substituição do último teste no 3º período? Talvez no fim de cada ciclo? Sendo possível, poder-se-ia realizar um tratamento estatístico desta forma:
  1. a nota do aluno em exame é comparada com aquela que ele teve na escola;
  2. de seguida essa mesma nota de exame é comparada com as notas de exame dos outros alunos dessa escola;
  3. finalmente as notas dos alunos em exame dessa escola são comparadas com as correspondentes notas a nível nacional.
Destas três comparações resultarão desvios padrões. A comparação 1) posiciona o desempenho do aluno na sua escola, face ao quadro nacional; a comparação 2) posiciona a nota do aluno no contexto da sua escola, permitindo relativizar essa nota em função do contexto sócio-económico da escola; a comparação 3) permite identificar escolas que precisam de reforço para superar eventuais problemas.

Neste contexto, é necessário definir desvios padrão que se possam considerar aceitáveis. Ultrapassados estes limites, investiga-se o que é que se passou, por meio de uma inspecção, cujo resultado permite determinar se há ou não responsabilidades a imputar ao professor. Note-se que este uso de exames nacionais não tem por objectivo criar penalizações automáticas mas sim identificar grupos de professores onde algo de anormal se passa para, depois, se avançar com análise caso a caso.

Como a trás referi, esta abordagem com recurso a exames nacionais realiza um conceito de avaliação centralizada, com uma entidade que tudo controla e determina. Parece-me no entanto que o enfoque devia estar na gestão escolar localizada, com a também localizada avaliação. Os exames nacionais como instrumento de avaliação seriam a camada externa de controlo de qualidade; da garantia que tudo funciona como deve. Os Conselhos Executivos têm que ter responsabilidades e serem responsabilizados pelo seu corpo docente, o que inclui avalia-lo. Caso contrário, nunca acabará esta medusa da 5 de Outubro.


3 comments :

  1. Carlos Pires disse...
     

    A gestão escolar localizada e a autonomia das escolas são coisas boas. Mas como evitar o compadrio que se vê nas câmaras (indiferente à competência ou incompetência, atento apenas ao cartão partidário e ao interesse pessoal dos responsáveis camarários) e nas próprias escolas (naquilo que já depende delas - melhores horários para os amigos, etc)?

    Um sistema nacional de exames podia combater isso. Não se trata de nenhuma visão centralizadora, mas apenas de realismo ... e de outra coisa ainda mais séria: se um professor realmente ensina e se um aluno realmente aprende isso tem de ser perceptível numa prova de avaliação elaborada por alguém independente e exterior. A avaliação feita por cada professor não pode ser toda a avaliação do aluno, pois o professor é parte interessada.

    Em relação às desigualdades sociais e culturais entre os alunos que vão a exame é claro que elas existem e podem influenciar os resultados, mas por isso mesmo o que seria considerado para a avaliação do prof não seria a classificação obtida no exame nacional mas a coerência entre esta e a classificação dada pelo prof. Mais detalhes aqui: http://duvida-metodica.blogspot.com/2008/11/como-deveriam-os-professores-ser_06.html

  2. j. manuel cordeiro disse...
     

    MFerrer, vejo que "pastou" um comentário seu do Blasfémias. Está relacionado com o texto aqui em causa?







    Carlos, parece-me que não temos posições consideravelmente distintas. O problema da descentralização usando as câmaras municipais é real, de facto. Exames nacionais contextualizados pela escola ajudam a resolver este problema. Para mim a questão do centralismo reside no facto de serem as escolas quem melhor conhece os seus professores. Logo será quem melhor pode avaliar. Além disso, o centralismo tende para a burocracia, lentidão de resposta e cegueira para o concreto.

  3. Apache disse...
     

    A haver uma indexação dos resultados dos alunos à avaliação dos professores só pode ser feita através de exames nacionais (ou testes nacionais, obviamente), pois assim não teríamos o problema do diferente grau de exigência dos professores que tanta diferenciação cria nas classificações finais dos alunos. Mas isto só faz sentido se for aplicado a todas as disciplinas e anos de escolaridade e por um ministério liderado por gente séria. É que o grau de dificuldade dos exames não pode variar bruscamente de um ano para outro, como aconteceu, por exemplo, no ano lectivo transacto com os exames de matemática que eram “para inglês ver”.
    Ainda assim, parece-me que tal medida se afasta dos objectivos do ME porque, por um lado é dispendiosa e por outro aumenta o insucesso. Tantos exames nacionais implicariam muito mais gastos com os professores que os produziriam, com papel e tinta e com os correctores e, uma logística gigantesca. Além disso, os professores tornar-se-iam muito mais exigentes e muitos alunos reprovariam antes do exame. É que é moda em muitas escolas subir as classificações (no secundário) no 3º período, em 2 ou 3 valores para os alunos poderem ir a exame. Obviamente só 4 ou 5% é que se safam mas os professores ficam de bem com a sua consciência por terem conseguido mais um ou outro aprovado, mesmo à custa de uma média de frequência vários valores acima da média de exame.

    MFerrer, além deste comentário estar descontextualizado, bem mais de 50% do que afirma é disparate (ainda que tenha razão nalguns pontos). Dada a extensão e a descontextualização do mesmo nem me vou dar ao trabalho de rebater (talvez noutro local e/ou com mais tempo) mas asseguro-lhe que está mal informado.

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