«PORTUGUÊS TÉCNICO
Anda por aí algum alarme em volta do texto de José Sócrates que os candidatos a um emprego no Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) são forçados a estudar. Não sendo suspeito de admiração pelo primeiro-ministro, julgo-me habilitado a detectar a má-fé "oposicionista" que contamina a polémica.
Segundo me pareceu, quase todas os reparos à utilização da peça dispensaram a respectiva leitura. Eu não dispensei, e fiquei, para citar o jargão dos tempos, agradavelmente surpreendido. Estilisticamente, "Ambição" (o nome do texto) é uma obra inspirada, onde a vertigem kafkiana ("A importância desta ambição está bem expressa na centralidade da estratégia de qualificação no âmbito (...)") convive com arroubos líricos dignos de um, ou de dois, Mussolini ("Esta escolha não admite hesitações"). Onde clichés bélicos ("vencermos a batalha da qualificação") são enriquecidos por outros clichés bélicos ("É aqui que temos que combater."). Onde originais incursões pela melancolia ("O atraso que nos separa dos países mais desenvolvidos ( )") são arrasadas por optimismo em tríades: uma "acção firme, persistente e determinada" que, através de "um caminho muito longo, duro e difícil", permitirá aos "activos" por "qualificar", jovens e adultos, "recuperar, completar e progredir" graças ao "empenhamento profundo" de "cidadãos, empresas e instituições".
Modesto, a páginas tantas o eng. Sócrates sugere que é preciso "fazer mais", "fazer melhor" e "fazer mais rápido". Por mim, acho que não vale a pena: a prosa já está óptima, sobretudo se tivermos em conta que versa as Novas Oportunidades e que as Novas Oportunidades constituem a trapaça que todos conhecem. Apesar das invejas que um governante dado às letras desperta, "Ambição" é claramente um monumento da sátira em português, não sei se consciente. Sei que os candidatos ao IEFP devem rir com gosto, incluindo os que não foram contratados.»
Quem quiser deliciar-se com a obra lírica completa segundo Sócrates, o sofista, pode ler o texto em causa em «A Ambição».
O dito é ambicioso, muito ambicioso mesmo, como se percebe quando ele pede nova maioria absoluta, mas pode ser que os portugueses também ambicionem um governo melhor do que aquele que têm e lhe dêem com os pés. Lamento não poder dizer isto em português ou inglês técnico, mas essas cadeiras não faziam parte do meu curso.
Cumps
Nem consegui ler tudo.... o meu estômago é sensível a certas porcarias.