a política na vertente de cartaz de campanha

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Trabalhei alguns anos em Munique. Terreno quase plano, estradas exclusivas (exclusivas!!!) para as bicicletas ao lado de todas (todas!!!) as outras estradas, rede transportes públicos (metro + comboios regionais + autocarros + eléctrico) que cobrem toda (toda!!!) a área urbana e arredores até um raio de 60 Km do centro da cidade.

Realmente, lá usar carro é meramente opcional e muitas pessoas optam por nem sequer o ter. Aqui é uma necessidade: os transportes públicos não funcionam. Expliquem-me, por exemplo, como poderia usar os transportes públicos da área metropolitana de Lisboa para ir da Amadora para Algés. Da Expo até ao Campo Grande. Da Caparica até Belém. Certamente que haverá algumas ligações que em certos dias da semana e a certas horas permitirão realizar estes percursos. Mas demorando quanto tempo e a que preço?

Depois da década de 80 assistimos ao crescimento caótico, sem planeamento, dos subúrbios das grandes cidades. Em todo o "buraco" a construção foi autorizada, sem que primeiro existissem infra-estruturas e sem sequer se ter reservado terreno para a sua construção. Temo que o país tenha sido "desarranjado" de vez, mas isso é tema para outra ocasião.

É um facto que existem problemas. O aquecimento global em geral e, no nosso caso concreto, as eventuais sanções por excesso de produção de CO2; o caos automóvel; o fim da cidade de pessoas, substituída pela cidade dos carros; a dependência energética; etc. Problema que não será resolvido com essa ideia pateta de reduzir em 2 Km/h a velocidade média na auto-estrada, como foi anunciado ontem (01-09-2006) pela comunicação social uma das propostas para o Programa Nacional de Alterações Climáticas. Nem com a obrigatoriedade dos táxis pararem uma vez por semana! (Ainda não consegui decidir qual destas duas palermices ganha o título de orgasmo mental do ano...)

E agora, o que fazer? Todas essas medidas demagógicas de redução de poluição apenas vão dificultar a já difícil vida do cidadão que TEM que usar o carro para ir trabalhar. O que tem que ser feito é, a curto prazo, criar transportes públicos que sejam VERDADEIRAS alternativas, terminando com os constantes investimentos no transporte individual (i.e. estradas). É preciso acabar com essa estratégia, imagem de marca do Cavaquismo, que aposta no transporte individual. Certamente que alguém se lembrará de refutar esta ideia com números do investimento em infra-estruturas de transportes públicos. Então, que se compare mais uma vez a nossa situação com a da restante Europa, como tanta vez se faz para justificar aumentos que elevam o nosso custo de vida.

Urge que seja elaborada uma rede em que os existentes transportes públicos e outros a criar sejam inquestionavelmente a escolha mais económica, mais rápida e mais cómoda para se viajar na cidade. Impossível? Não, caro leitor. Num próximo texto abordarei este assunto com casos que conheço.

Depois de todas estas etapas feitas, então pode-se passar a penalizar o uso do transporte individual. Agora, que não se ponha a carroça à frente dos bois, fazendo de conta que as infra-estruturas já existem. Isso é puríssima demagogia e má fé por parte da classe política.

A longo prazo, é necessário criar condições para que regressem às suas origens os milhares de pessoas que TIVERAM que vir para Lisboa para terem trabalho. É sem dúvida uma estratégia de longo prazo mas fará, enfim, com que Portugal deixe de ser Lisboa e o resto paisagem. Mas isto não são políticas que produzam boas manchetes..



5 comments :

  1. Anónimo disse...
     

    Este é mais um sector em que Portugal parece ter parado ou, quanto muito, vive por períodos intermitentes de hibernação eleitoral, donde só acorda de quatro em quatro anos para se espreguiçar indolentemente.
    Obrigado pela visita e parabéns pelo post (quanto ao blog voltarei com mais tempo).

  2. Cazento disse...
     

    Não há dúvida que estas duas medidas são a coisa mais disparatada que ouvi em toda a minha vida, ao longo de 48 anos.

    Quanto ao facto de se utilizar o transporte individual porque não existe alternativa, como refere no seu post, bom, aí não concordo muito. Será que não há mesmo alternativa?
    Já pensou se não tivesse carro? Se por acaso por qualquer motivo não pudesse ter carro próprio, ou não pudesse conduzir, deixava de viver ou de trabalhar?

    Já pensou, por exemplo, que no local onde vive existirão certamente muitas outras pessoas que, apesar de não terem carro próprio, não é por isso que não deixam de ir trabalhar e fazer a sua vida?

    Ou será que onde vive todos têm carro?
    Ou trabalham todos perto de casa?

    Peço desculpa mas acho que hoje em dia existe alguma hipocrisia em relação ao modo como se encara o automóvel como transporte individual. Todos pretendem afirmar que são "amigos" do ambiente e que só têm carro porque a isso são obrigados, pois caso contrário até nem o possuiriam e até nem andariam sequer de carro.

    Sinceramente não acredito. Todos usamos o carro porque, obviamente, é mais cómodo e é melhor, e NADA o substitui em tudo o que podemos fazer com um carro.

    Eu tenho carro e assumo que o tenho porque gosto, porque prefiro sempre o carro ao transporte público, porque gosto de conduzir e gosto de carros. Não porque não pudesse viver sem carro. Porque é claro que poderia viver sem ele, teria era de planear a minha vida de outra maneira e sujeitar-me aos incómodos dos transportes públicos e aos seus horários.

    No entanto, por paradoxal que pareça, normalmente não uso o carro diariamente na minha deslocação de e para o emprego.

    Mas também não vou de transportes públicos nem de bicicleta.

    Vou a pé!!!

    (bom, às vezes em casos excepcionais uso o metro porque é um bom transporte, sim, reconheço isso).

    E demoro mais de uma hora a fazer o percurso a pé, muito mais do que os 15 minutos que levo de carro nos 3 meses de verão, ou os 30 minutos nos restantes meses. Mas faço-o a pé, esteja o tempo seco, muito calor, ou chuva. É uma opção.

    Só levo o carro quando tenho outras deslocações para fazer.

    Portanto eu até poderia não possuir sequer carro, mas possuo porque quero, porque gosto e porque prefiro e uso-o porque acho que os altíssimos impostos que pago ao Estado por o ter me dão direito a usá-lo. Mesmo assim acho que poupo muito o ambiente, e sei que seria capaz de viver sem o automóvel, por muito que isso me custasse, e por mim nem os transportes públicos andariam pois estes também poluem, e bem, o ambiente, não tenhamos ilusões.

    Faço com o meu carro e outros carros que utilizo, uma média mensal de 2000 Km por mês, o que faz de mim, penso eu, um reduzido poluidor comparativamente a outras pessoas que andam muito mais.

    Por outro lado acho que a questão da poluição do tráfego automóvel está muito exagerada. Quantas toneladas de dióxido de carbono irão para a atmosfera em cada incêndio, normalmente por fogo posto, todos os verões?

    Isso não conta?

    Era bom que todos fôssemos amigos do ambiente, sim, e que nenhum de nós tivesse sequer automóvel, mas também pergunto: se assim fosse, para onde iriam trabalhar todos os milhões de pessoas em todo o mundo que trabalham nessa indústria?

    Será que o facto de a Opel na Azambuja fechar é um factor positivo para o ambiente?

    E como poderia o Estado Português viver sem o IA + o IVA (sobre o IA), mais os impostos nos combustíveis, imposto municipal, etc, etc, que todos nós automobilistas pagamos para sustentar o nosso Estado, o mais dispendioso do mundo (para o seu povo, claro), se não pagássemos esses impostos por não comprarmos automóveis?


    Bem, o post já vai muito longo, peço desculpa por todo este arrazoado, por acaso vim aqui dar uma vista de olhos no seu blog, que gostei muito, e ao ler este seu post não resisti.

    Cumprimentos,

    Cazento

  3. Fliscorno disse...
     

    Olá Cazento. Obrigado pela visita e pelo excelente comentário.

    Concordo com muitas das coisas que afirma. Mas não quando diz termos uma boa rede de transportes. Correndo o risco de ser apelidado de "olha mais um daqueles que diz que lá fora é que é bom", o facto é que os transportes urbanos de Lisboa (o caso "grande cidade portuguesa" que conheço) só em alguns casos são encarados como alternativa. Quando não exigem muitas ligações ou quando o peso do combustível se torna excessivo, como agora. Noutra ocasião voltarei a este tema, pois gostaria de mostrar o que é que entendo por uma boa rede de transportes.

    No meu caso concreto e no meu actual emprego uso o carro (no anterior usava comboio e metro). Venho de algures na linha de Sintra para a Margem Sul. Vir de transportes públicos significa:
    - apanhar autocarro - 15 minutos
    - a seguir o comboio da linha de Sintra - 25 minutos
    - a seguir o comboio da Ponte - 15 minutos
    - a seguir um autocarro - 30 minutos
    Tendo em conta que as ligações não estão sincronizadas, é preciso esperar consideravelmente. Esta viagem que faço em 30 minutos de carro demora-me 2h de transportes. Para estar no trabalho às 9, preciso de sair às 7h. E ao voltar, saio às 18h para chegar a casa pelas 20h30. Lamento, mas não considero isto uma alternativa.

    Enquanto trabalhei em Munique, usava a bicicleta para ir para o trabalho. Até quando nevava, o que de resto também os meus colegas faziam. E é algo de que sinto falta. A morfologia do nosso terreno não ajuda ao uso da bicicleta mas mesmo que não fosse esse o caso, só muito dificilmente me arriscaria a ir pelo meio dos carros.

    Quanto aos seus outros comentários, bom, são pertinentes. O transporte individual é, sem dúvida, uma excelente fonte de receita fiscal. Muito mais do que o transporte colectivo. Muito tema para dissertação, numa próxima vez ;-)

    Vai a pé? :-) Interessante.

  4. Fliscorno disse...
     

    Olá xicoxerto. Esse seu comentário faz-me lembrar que não existe sistema político perfeito, né? Obrigado pela visita.

  5. Anónimo disse...
     

    Bem eu não posso de maneira nenhuma concordar com o Cazento até porque as minhas opções para ir trabalhar são desastrosas e nao tem haver com as esperas porque anteriormente usava o comboio e para isso esperava 1 hora para poder ir embora. Agora o comboio não chega a horas para eu ir trabalhar e desculpa mas tem lá paciencia ir no comboio mais cedo é ridiculo eu não vou chegar a Barcelos ás 7h43 para entrar as 09h00.
    O problema é sempre o mesmo quem vive nas grandes cidades fica alheado da realidade, sim porque a realidade não é de maneira nenhuma Lisboa ou Porto que além de ter transportes publicos minimamente decentes têm um salario bem mais elevado dos que o resto da população e que fazem exactamente o mesmo serviço.
    O autocarro também para mim não é solução, quando o último autocarro é as 18h40. comprar um passe de autocarro e outro de comboio mais vale levar o carro pago o mesmo e nao espero tanto nao tenho a criança a gritar nem a pessoa ao meu lado a falar seja lá do que for que a incomoda.
    Claro que se tivesse alternativa seria o transporte publico o seleccionado, mas se pagar menos claro.
    Só para que fique claro no meu anterior emprego ia a pé para o trabalho ou de camioneta. actualmente trabalho a 24km de casa.
    bjs

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