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Ordenamento urbanístico

Um amigo benfiquista mandou-me, orgulhoso, uma foto com uma vista aérea do seu estádio. Não pretendendo tecer comentários clubistas, não pude deixar de reparar na confusão de estradas, acessos e prédios que compõem o caos urbanístico daquela zona. Acto reflexo, procurei uma foto que mostrasse o novo estádio de Munique, apesar de já saber o que ia encontrar: um espaço organizado, com áreas verdes e sem os prédios em cima da auto-estrada, à lá segunda-circular.

O Benfica, bem como o Sporting, o Leiria (por ventura, o maior dos descalabros!), a Briosa, o Dragão e muitos outros (todos?) clubes da altura glória (!) do 2004 poderiam ter optado por soluções que fugissem dos centros urbanos, como fizeram as cidades do Mundial 2006. E vendendo os valiosos terrenos dos antigos estádios ainda teriam encontrado uma receita adicional para, porque não, pagar os impostos que nos devem (sim, porque o Estado somos nós).

Mas para quê planear e fazer coisas com ordem quando se pode fazer tudo de forma caótica? E se com esta estratégia ainda recebem apoios camarários e governamentais, para quê mesmo pensar se quer no assunto?

Tem-se falado em colocar portagens nas entradas da cidades. Dizem que é para limitar a entrada de carros. Mas são as políticas estruturais conducentes a que as pessoas se afastem da cidade? Os factos falam por si e estes dizem:
  • investimento nas redes de transportes significa novas estradas (os futuros elefantes brancos OTA e TGV obviamente que não contam como transportes públicos);
  • a educação, a saúde (por enquanto maternidades e urgências), forças de segurança, a cultura, serviços estatais e tantas outras coisas concentram-se nas cidades - e a tendência não é a descentralização;
  • o comércio concentra-se cada vez mais - se não já exclusivamente - em gigantescos centros comerciais;
  • ...
Realmente, porque havia um clube de futebol colocar-se em dissonância com o resto da sociedade?

Se antigamente Lisboa era Portugal e o resto era paisagem, então agora já nem isso podemos dizer. Dunas devoradas pelo mar e serras que parecem plantações de geradores eólicos substituiriam essa paisagem. Factos que não preocupam os portugueses em geral. Que não toldaram, pelo menos, a exuberância de contentamento do meu amigo perante a foto que me enviara.


2 comments :

  1. Victor Figueiredo disse...
     

    Concordo parcialmente com a sua perspectiva. Contudo, não se esqueça que o modelo de estádio que os clubes quiseram imprimir a estes novos empreendimentos - sim porque acima de tudo são empreendimentos - foi o conceito do estádio/centro comercial dedicado ao clube e ao seu historial, e isso só seria viável inserido em perímetros urbanos com aquela densidade.
    Quanto ao urbanismo, acredite que, quando comparado a estes que apresentam, à primeira vista, uma densidade construtiva elevada, existem outros pelo país fora que tornaram o espaço urbano selvagem, sobretudo no litoral.
    Além disso, a cidade de Lisboa tem excelentes exemplos de bom urbanismo: o parque das nações. É evidente que a especulação imobiliária é galopante, mas a qualidade paga-se...

  2. Fliscorno disse...
     

    Olá V.F. Sem dúvida que Lisboa tem alguns bons exemplos de urbanismo. No entanto o panorama global, onde necessariamente se inclui toda a área sub-urbana, é manifestamente negativo.

    A certa altura é necessário tomar opções. E é cada uma delas individualmente que contribui para o todo.

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