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Túnel do Marquês e decisões políticas sobre transportes

Em Maio de 2002, Santana Lopes, com todo o seu visionismo que dispensa qualquer estudo aprofundado, descobriu que a solução para os problemas do trânsito em Lisboa passavam pela construção dum túnel entre o fim da da A5 e a Praça Marquês de Pombal. Cinco anos depois o túnel foi inaugurado. E os problemas de trânsito ficaram mesmo resolvidos? É o que se pretende aqui abordar.

Mas antes, uma breve resenha.
  • Maio 2002 - decisão de PSL/CML de construir o túnel. Concurso público com base de 15 milhões de euros e 72 semanas de execução.
  • Maio 2003 - decisão da CML de proceder a ajuste directo por 19,686 milhões de euros.
  • Abril 2004 - obras paradas em consequência da providência cautelar de Sá Fernandes.
  • Abril 2007 - conclusão da primeira fase. Custou até aqui 18,749 milhões de euros, mas o preço final ainda está em litígio devido aos atrasos da obra e devido à providência cautelar. Esta última terá elevado o custo da obra em 4 milhões de euros. Supõe-se que a obra ficará pronta em 2008.

Infografia do Público. Clicar para ampliar.


E então, o trânsito melhorou o não?
Faço diariamente a A5 mas sem ir pelo túnel, já que tomo a saída da Praça de Espanha. Portanto não sei se o percurso se faz mais depressa agora com o túnel. No entanto, observei que antes do túnel existir as filas começavam geralmente no início da subida para Monsanto e que agora começam no fim dessa mesma subida.



Encurtou, portanto 1900 metros. Isto dá 9.8 milhões de euros por Km a menos de fila. Possivelmente até se faz o percurso em menos tempo (quanto? 15 minutos a menos?!) mas a questão é que estes milhões gastos não mudaram significativamente o panorama. O túnel simplesmente puxou a fila para um pouco mais perto de Lisboa e, eventualmente, permite que mais carros entrem em Lisboa.

A solução seria deixar de investir nos acessos rodoviários (e vem aí mais um, com essa 3ª ponte), centrando esforços para que se crie uma rede de transportes públicos interligada, funcional e que constitua uma real alternativa (económica, de conforto e de rapidez) ao transporte individual.

Como esta, por exemplo, em que toda a área suburbana de Munique está coberta por transportes públicos num raio de 30Km. No nosso contexto, isso significaria que a nossa rede de transportes chegasse a locais como Vila Franca de Xira, Mafra, São João das Lampas, Sintra, Cascais, Palmela e Sesimbra. Isto só para citar algumas localidades a 30 Km em linha recta. Dirão, "mas há comboio para Vila Franca de Xira". Então e que tal ir de Vila Franca para Mafra. E de Sintra para Cascais? E de Lisboa para São João das Lampas?

Soluções, onde estão?
Há, de facto, alguns transportes mas faltam as interligação entre eles e falta ligar muitos pontos que actualmente são de difícil acesso por transportes públicos mesmo que perto geograficamente (exemplos: Queluz-Monsanto; Estrela-Belém). Como está, algumas pessoas podem usar convenientemente os transportes públicos, aquelas que têm ligação por comboio ou por metro de casa ao trabalho (com as devidas aproximações). Como é o caso do secretário de Estado do Ambiente, Humberto Rosa. Para a maioria das pessoas, grupo onde me incluo, pesando os aspectos reais como o custo, a duração da viagem, o conforto e a disponibilidade de transportes (número e horários), creio que o automóvel continua a ser a solução ganhadora.

E dinheiro para fazer esta tal rede milagrosa? Bom, não tem ele surgido para coisas como o Túnel do Marquês? E não se vai fazer um novo aeroporto e um TGV? Quanto vale o tempo perdido em termos de PIB? E gastar menos combustíveis, baixando a nossa dependência energética relativamente ao estrangeiro, quanto vale para a nossa economia?

Certamente que dinheiro não será fácil de arranjar mas aparecerá, desde que haja vontade política. Esta, sim, é que é difícil conseguir*.

Finalmente, uma animação com o fotos do trânsito na passada semana. Excepto na sexta-feira, não choveu em nenhuma das manhãs, pelo que esse argumento não poderá ser usado para justificar as filas. Que de resto, são as habituais, como poderá constatar quem regularmente use este acesso a Lisboa. Quanto à sexta-feira, a fila era a do costume.

Entrar em Lisboa pela A5


2 comments :

  1. Anónimo disse...
     

    faz muita falta uma boa rede de transportes urbanos e parques de automóveis na periferia
    deviam recuperar as zonas degradadas de Lisboa

  2. Maquiavel disse...
     

    Grande artigo!

    Houve alguma altura em que as bichas voltaram ao ponto inicial (porque de 35.000 carros passaram a vir 50.000)???

    E agora ao fim de 4 anos, uma cryse, e uma troyka, qual é o panorama?
    As bichas começam mais dentro de Lisboa ainda?

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