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Opiniões light

Vem este post a propósito do texto no blog Tonibler «Eu passo-me...», de CMonteiro. Segue-se esse texto e o respectivo comentário, demasiado extenso para deixar no blog em causa. CMonteiro procura uma analogia "Mac-esquerdazinha prafrentex" mas escolheu ir pelo sinuoso caminho da tecnologia. O que destingirá essa esquerda-caviar, que eventualmente terá motivado a sua escrita, duma atitude liberal que se fundamente em falsos pressupostos?


Eu passo-me...
... com o já velhinho discurso do PC é lixo e o Mac é que é práfentex. Tão velhinho como uma esquerdazinha prafentex, ecologicazinha e sempre a apontar o dedinho ao grande capital, aqui representado pelo gigante Microsoft, que equipa, sabe-se lá porquê, 95% dos computadores mundiais.

Deve ser o maior embuste da história da história da humanidade, porque a Microsoft, a que pôs o mundo a usar um computador, a que inventou um escritório dentro de um computador com o Office, a que inventou a única e universalmente utilizada folha de cálculo Excel, capaz de fazer a contabilidade de uma multinacional não presta para nada.

O único problema é que 95% dos milhões de pessoas que usa um computador não sabe. Utilizassem eles a merda do Linux (uma cópia do Windows) que passa a vida a crashar, e o Open Office (uma cópia do Office) que tem a porcaria dos comandos mais parvos que se possa imaginar, e não estariam na escuridão informática em que se encontram.

Deve ser cool, dizer-se isto... Mas fosga-se, não me consigo habituar a computadores que não me deixam piratear programas, todos certinhos e alinhadinhos, bonitinhos e carinhos.

Prefiro ser enganado pelo grande capital.



Moda? É então antiga, pois esta sempre foi uma postura comercial da Apple.

"95% dos computadores mundiais"

Inventou este número ou tem referencias? E isto refere-se à informática pessoal ou profissional? Ou ambas? E um servidor (IBM ou Sun, ou wintel, não importa) conta apenas como um computador?

Sobre o embuste, certamente saberá que tinham a Microsoft/IBM o Windows 2.0 (e a IBM o OS/2) quando a Apple tinha o Macintosh, o qual funcionava em (verdadeiro) ambiente gráfico, estava preparado de raíz para funcionar em rede, era vendido com uma suite de software e já suportava fontes Postscript (que a MS depois copiou para as TrueType). Ups, parece que foi a Apple quem meteu um escritório dentro do PC...

De resto, nos longínquos finais dos anos 80, já na minha faculdade tínhamos redes de computadores (Sun e Mac) e já todo o sector de desktop publishing usava Macs em rede. Portanto, onde raio foi buscar essa ideia do Apple não ter uso no meio empresarial?

Quanto ao Linux ser uma cópia do Windows que passa a vida a crashar, bom foi esta a parte que me levou a pensar estaria a brincar. É mais ao contrário, sabia? E porque compara o Open Office (com custo zero) com o MS Office (200+ euros)? A comparação terá que ser feita por outro produto pago, não concordará? Por exemplo, o StarOffice (44 euros).

Sobre quem inventou o Excel (foi a MS), já ouviu falar do Lotus 1-2-3 (anteceu o Excel!)?

Quanto a comandos parvos, já lhe aconteceu ter que editar o RegEdit? Contrariamente aos comandos xUnix, o RegEdit não tem documentação...

Bom, creio que mostrei o meu ponto de vista quanto a passado. E o presente? Este é sem dúvida diferente. O Windows já é uma opção de trabalho (desde o W2000). Mas está longe de ser a única. Aliás nem vejo que vantagem competitiva terá uma empresa de 20,000 trabalhadores em optar por uma solução Wintel. Certamente já ouviu falar do Total Cost of Ownership, TCO... É que por acaso neste aspecto as soluções Wintel não são assim tão vantajosas. Veja-se por exemplo a alternativa Sun Ray, de terminais simples e que até corre o Windows XP. Sim, convenhamos, para escrever uma carta e para um balancete não há melhor do que o MS Office; experimente lá usar o word para compor uma publicação repleta de gráficos, tabelas *grandes* e umas centenas de páginas e cá estaremos para falar.

A MS ganhou a sua cota de mercado por razões comerciais, tal como o VHS ganhou sobre o Beta. Sabe como é que o Office se tornou a plataforma dominante no mundo PC? Quando ainda havia luta no mercado, com a Wordperfect, a Lotus e outros a tentarem não perder posição no mercado, isto nos velhos tempos Windows 3.11/95/98, a MS não teve problema algum em optar por práticas anti-concorrenciais (venham daí esses liberais agora). Nomeadamente, a equipa de desenvolvimento do Office tinha acesso à próxima versão do sistema operativo Windows antes deste ser lançado, o que incluia acesso ao código, informação privilegiada e à própria equipa de desenvolvimento do sistema operativo. Desta forma, conseguia lançar em simultâneo um novo sistema operativo e a nova versão do Office para ele desenhado (agora até se dá ao luxo de lançar o novo Office antes do correspondente Windows...). É certo que a MS criou um programa de parcerias em que dava algum acesso à próxima versão do Windows antes que ele saísse. Mas apenas para parceiros seleccionados (a concorrência directa ficava a ver estrelas).

E se realmente sabe do assunto, lembra-se que o MS Office usava algumas funcionalidades não documentadas no Windows e que lhe trazia uma verdadeira vantagem competitiva em termos de integração software aplicacional-sistema operativo?

Hoje a concorrência no PC (SO+Offices) está realmente quase morta. Mas há um novo paradigma informático a ganhar terreno. E este torna secundário o sistema operativo e a existência duma cópia completa do software por utilizador. Refiro-me ao impacto que as ligações DSL + Internet + Web2.0 + standards abertos + Open Source estão a trazer aos utilizadores no dia-a-dia.

Já agora, não tenho problema algum em afirmar-me utilizador da plataforma Wintel, tanto em termos pessoais como profissionais. Tal como também sou utilizador de outras plataformas, já agora. A vida não é a preto e branco e há que fazer as melhores escolhas em cada momento, com as suas vantagens e desvantagens. Agora o que não vale mesmo a pena é passar uma esponja sobre o passado e pretender que quem desanca na MS o faz por anti-americanismo.


4 comments :

  1. Carlos Monteiro disse...
     

    Isso é mais do mesmo, retirado das sinistras páginas dos nerds da informática. Já todos conhecem essas histórias.

    A realidade é que se o mundo usa PC's, à Microsoft o deve. E isso é o maior feito da história da humanidade.

  2. Carlos Monteiro disse...
      Este comentário foi removido pelo autor.
  3. Fliscorno disse...
     

    Caro CMonteiro, leu mesmo o que escrevi?

    Opta por não argumentar, ok, não é a isso obrigado.

    A realidade é que decidiu usar meia dúzia de frases feitas para chegar a leituras políticas. Desmonto a sua argumentação com informação específica.

    Nerds da informática? Talvez. Fosse outro o tema, economia por exemplo, também seria necessário recorrer a nerds da economia. É a melhor forma de não dizer baboseiras, não achará?

  4. Tonibler disse...
     

    Raposa,

    Independentemente de se concordar ou não com os argumentos técnicos (e vejo razões dos dois lados), quem meteu o escritório dentro do computador foi quem fez os escritórios usar o computador.
    Eu usei o Lotus 1-2-3, usei um Mac que era um caixote com Solitaire, assisti ao Windows 2.0, essas merdas todas. E nenhum era passível de ser usado como "escritório". E por isso, não o é hoje.

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