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Do anonimato nos blogues

O programa Aqui E Agora de 29 Maio 2008, na SIC (vídeo do programa), versou em larga medida os blogues anónimos. Ironicamente foi dado destaque a três blogues assinados: A Educação do meu Umbigo, Ramiro Marques e o Do Portugal Profundo. Grande jornalismo, sim senhor.

Sobre o assunto do anonimato na blogoesfera, que desperta o meu interesse - e recentemente ainda mais, deixei este comentário no texto Os Anónimos Com Nome do «A Educação do meu Umbigo»:
Também vi a reportagem e logo me saltou à vista o Umbigo em destaque. Aposto que quem não conhece este blogue, e os outros, ficará com a impressão que a questão do anonimato se referia aos blogues ali em destaque.

Compreendo que os jornalistas não gostem de blogues por aí além. Afinal de contas, eles precisam duma carteira profissional para escrever... Quanto aos anónimos no geral acham mal, pelo que depreendi desta reportagem, excepto se forem anónimos denunciantes, comparando-os a "fontes". Aí já está tudo bem. Curiosamente, não ouvi nada sobre "fontes" falsas ou sobre "manipulação".

Mas há outros aspectos não focados na reportagem. Um deles refere-se às consequências em dizer o que se pensa e, neste aspecto, o Paulo Guinote saberá melhor do que eu sobre o assunto. Refiro-me à situação em que alguém decide avançar para um processo judicial caso não concorde com algum aspecto, usando a instituição a que faça parte para pagar a defesa e os custos judiciais. Isto com o pressuposto que "atacar" a sua pessoa equivale a "atacar" a instituição. Em contrapartida, a pessoa que exteriorizou a sua opinião, o blogger no caso presente, terá que pagar a sua defesa do seu bolso. A questão aqui é que, mesmo que venha a ser absolvido por o processo não ter fundamento, o blogger perdeu tempo e dinheiro próprio.

Um outro aspecto respeita a ideia construída na reportagem de que os blogues anónimos não passam dum local de escárnio e mal dizer, uma destilaria de ódios e invejas. Como todas as generalizações, também esta será injusta. Não pretendo fazer a defesa de ninguém, nem do meu blog, já que cada qual julgará por si mesmo. Mas achei curioso, já que sobre a veracidade da escrita se falava, que nem uma referência se fizesse ao jornalismo. Como se a imprensa e o audio-visual fossem eles todos um mar de boas intenções.


15 comments :

  1. Eva disse...
     

    Pela tua argumentação um bloger será um jornalista frustrado?
    Quanto ao "processamento" dos bloguistas a ameaça pelo menos faz sentido que o pessoal só com a ameaça já se refreia. E parece que a ameaça é uma arma muito em voga ultimamente.
    Na prática intentar uma acção a esse nível só serve para entupir os tribunais e dar dinheiro a advogados com pouco trabalho. A liberdade de expressão neste país ainda está consagrada na constituição, que eu saiba.

  2. Anónimo disse...
     

    Que nada, o jornalista é que é um blogger frustado :-)

    Essas acções servem ainda para o que se defende ficar com uns tostões a menos para o gasóil, coisa que hoje em dia anda carita.

  3. Eva disse...
     

    É mais vice versa, mesmo.
    E haver tantos é mesmo por não existir a carteira de "bloguer profissional" ;-)
    Quanto aos gastos, não será bem assim.
    O "processado" pode sempre pedir apoio judiciário na modalidade de nomeação de patrono e isenção de custas e preparos. E fica-lhe a custo zero.

  4. j. manuel cordeiro disse...
     

    E é nomeado um patrono com experiência ao nível do concorrente? É que perder o processo ainda deve dar direito a umas despesas.

  5. j. manuel cordeiro disse...
     

    Bom, um jornalista não pode publicar sobre o que lhe apetecer. Nesse aspecto é um blogger frustado. Isto julgo eu na minha ignorância.

    A carteira de "blogger profissional" serviria para quê? E seria atribuida por quem? Os blogues trouxeram democracia à publicação, sem controlo editorial, político e económico. Com tudo o de bom e de mau que isso trouxe. Se não fossem os blogues, nunca teria hipótese divulgar estas balelas junto duma audiência. Creio que esta incapacidade de controlar o que se publica perturba muita gente...

    Mas há, claro, o lado negativo disto. Como responsabilizar alguém que deva ser responsabilizado? E como conciliar isso com a (quase) infinita capacidade (financeira e logísitca) que alguns têm para processar outrém? Isso, não sei.

  6. António Balbino Caldeira disse...
     

    Cara Raposa

    O Dr. José Maria Martins tem uma teoria sobre o programa de ontem na SIC, que não é demonstrável, porque as orquestrações não são demonstráveis, apesar da coincidência dos factos, mas que assenta na mentira que é transmitida àcerca do caso do Dossier Sócrates. Quem veja a peça de ontem, estranha a falta de actualidade: sem o início do meu julgamento, a orquestra cancelou actuação, ficando apenas a ópera bufa...

    Publiquei a verdade sobre a vida pública do PM (revelei que não é engenheiro e nunca foi; disse que não tinha a pós-graduação que afirmavqa no seu currículo; e expus a forma como obteve a licenciatura). Queixou-se o PM disso como a reportagem refere? Não: queixou-se de eu ter dito que não tinha um MBA (referia-me ao grau de Master) e de eu ter dito que existia um "centro governamental de comando e controlo dos media"... Nicles sobre os outros factos. Mais: convidado formalmente a deduzir acusação particular quando o Ministério Público lhe arquivou o SLAPP, não o fez. Lá saberá ele porquê.

    Portanto, o jornalista Lourenço Medeiros da enxameada direcção da SIc, na famosa opinião do especialista Eduardo Cintra Torres, não só me pós ao lado dos caluniadores anónimos, como mente nos factos...

    Na verdade, sem

  7. Pata Negra disse...
     

    Sou bloguer meio anónimo, não vou em televisões, também tenho a minha opinião, a ASAE fechou a taberna onde me ouviam, agora falo aqui, querem proibir?
    O melhor mesmos é desprezá-los, não falo mais deles! Não toquem no meu mundo que eu não toco no deles, a não ser para lhes roubar os carros e os discos de vinil!
    Um abraço sem miguéis, pachecos, moitas, marcelos, vitorinos, valentes - ei-na! são tantos! ainda dizem que somos só dez milhões!

  8. Eva disse...
     

    Um jornalista pode perfeitamente publicar o que lhe apetecer desde que tenha segurança para o fazer e esteja a coberto da verdade. Sempre o fiz, e em nenhum dos sítios em que trabalhei, nunca vi cerceada alguma peça só porque não era da concordância do chefe de redacção ou de algum dos responsáveis máximos.
    Tivesse eu provas e o demonstrasse que podia avançar até onde conseguisse.
    É verdade que os blogs trouxeram democracia à publicação, se assim lhe queres chamar, ao permitir que todos pudessem usar livremente uma ferramenta que até aí não existia para divulgar as suas ideias.
    A verdade também é que inúmeras irresponsabilidades graçam por aí. Muita gente se esquece que a sua liberdade acaba onde começa a do outro.
    Em tempos de antanho era prática comum recorrer-se às cartas anónimas para fazer as denúncias que interessavam.
    Que diferença existe entre essas e um blog anónimo, cheio de “posts” sem fundamento e sem provas, que mais não pretendem que denegrir alguém.
    Das cartas ainda se podiam tirar as impressões digitais, agora dos blogs, nem que escrevas sem luvas!
    A grande questão, penso, é mesmo a auto-responsabilização de quem escreve, que não pode de forma alguma, ser confundida com auto-censura.
    Mas a liberdade de expressão não pode legitimar que se lancem anátmas por ódiozinhos de estimação, se insulte ou se incomode os outros com disparates.
    Quanto à questão dos processos e dos julgamentos (e lá vem mais uma frase feita) quem não deve não teme. Mas já reparaste na mania da perseguição que assola a blogosfera do lado dos blogistas? E enquanto se for mostrando isso mais se motiva o lado contrário para processar ou ameaçar processar.
    Pelo que tenho visto a simples ameaça já faz tremer e correr rios de letras.
    Afinal ainda somos um povo de medrosos que já não se sente ameaçado pela PIDE (ops! esqueci-me do SIS, da ASAE e afins) mas sim pela justiça.
    Será a justiça o bicho papão dos tempos actuais?

  9. j. manuel cordeiro disse...
     

    "Um jornalista pode perfeitamente publicar o que lhe apetecer desde que tenha segurança para o fazer e esteja a coberto da verdade."

    Eva, neste aspecto expliquei-me mal. Havendo uma linha editorial e um editor, um orgão de comunicação social tem um determinado estilo e âmbito. É nesse sentido que um jornalista não pode publicar o que lhe apetecer. Um blogger, tendo um curto-circuito entre a escrita e a publicação, pode perfeitamente ser incoerente em termos de conteúdos. Hoje posso publicar sobre a leveza da fuga na obra de Bach mas amanhã nada me impede de contar piadas sobre um queijo que aspirava ser perfume. Hmmm que tenho que anotar esta :-) Não me referia a um jornalista ser coagido por alguém com poder sobre ele no sentido de não publicar algo que supostamente se pretenderia esconder do público. Mas já que toco na superfície do assunto - e não me alongarei para não falar sem conhecimento de causa, como se equilibra a dependência financeira dum jornalista com a vontade (política ou económica) do orgão onde publica? Não há mundos perfeitos, certo?

    Quanto à mania da perseguição, pessoalmente não tenho razões de queixa. Mas tenho assistido a casos algo chatos e não me refiro apenas àqueles mais mediatizados.

    De resto, perfeitamente de acordo.

  10. j. manuel cordeiro disse...
     

    Caro António, boa sorte nisso e que seja célere.

  11. j. manuel cordeiro disse...
     

    Para roubar os carros, Pata Negra? Agora rouba-se a gasosa, que vale mais. Como escrevia o RAP há dias, roubar um carro é um problema, já que em cada três multibancos assaltados, dois são para abastecer o depósito.
    Abraço doutro blogger meio anónimo.

  12. Eva disse...
     

    “Havendo uma linha editorial e um editor, um orgão de comunicação social tem um determinado estilo e âmbito. É nesse sentido que um jornalista não pode publicar o que lhe apetecer.”
    Sim, é verdade e lógico.
    Um tipo que escreva, por exemplo no “Jogo” não poderá fazer artigos do âmbito da linha editorial da “Maria”, do “Diário Económico”, do “Público” ou do “24 horas”, só para citar alguns, tal como, por exemplo, um trabalhador especializado da área da metalomecânica não pode usar conhecimentos, mesmo que os tenha, da área da restauração.
    A especificidade de cada órgão de comunicação social é perfeitamente definida e o jornalista sabe disso desde o momento da contratação.
    Agora se concorda com ela é outra questão. Com o mercado de trabalho como está as pessoas aceitam tudo para podem ganhar a vida.
    Tenho uma familiar que esteve 4 anos (sim, quatro anos) como estagiária sem ganhar um tusto num órgão de comunicação super conhecido (não falo da imprensa regional) só para ganhar curriculum. Felizmente à conta disso conseguiu entrar como editora para um outro igualmente conhecido e tirar frutos desse investimento que só foi possível porque teve quem a apoiasse financeiramente.
    Mas é este o mercado que temos e daí resulta a qualidade de jornalismo a que assistimos diariamente.
    Quanto ao resto acordo total também ;-)

  13. Anónimo disse...
     

    Sendo jornalista e blogger, deverei sentir-me duplamente frustrado? Não há dúvidas: vou ficar esquizóide!

  14. Anónimo disse...
     

    No name bloggers

  15. j. manuel cordeiro disse...
     

    Lá está, caro Paulo, a simplificação trazida pela generalização também arrasta injustiças. Refiro-me ao que escrevi sobre a carteira profissional. Espero que não tenha ficado aborrecido com a minha ligeireza. Quanto a isso da frustração, não me leve a sério. Já que profissionalmente tenho que escrever de forma absolutamente estruturada (software), no tempo de ócio entretenho em escrita sem nexo :-)

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