a política na vertente de cartaz de campanha

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Mas... a culpa não é "deles"?

Escreve o Público citando o FMI:
"A deterioração do ambiente económico global está a limitar a retoma portuguesa, mas os problemas fundamentais da economia são domésticos: défice externo e público elevados, endividamento muito alto das famílias, empresas e Estado e um substancial diferencial de competitividade".

Parece então que a culpa da crise não é "deles", tem mesmo origem em nós próprios. Raios, é sempre tão fácil quando a culpa é dos outros. Evita, por exemplo, que se tenha que fazer algo para resolver os problemas!

Sobre isto, lembro-me duma velha piada que vem mesmo a calhar. É sobre o director duma empresa mas bem que poderia ser quanto a qualquer um dos nossos primeiro-ministros.

O novo director da empresa XZY, na tomada de posse, é abordado pelo director demissionário, o qual lhe entrega três envelopes. Explica-lhe que cada envelope contêm a solução para uma crise que ele não consiga ultrapassar, devendo abrir cada um deles só nessas circunstâncias. Passado o primeiro ano, eis chegada a Assembleia Geral e a situação da empresa está pelas horas da amargura. Não conseguindo encontrar nenhuma justificação válida para a sua incompetência, eis que se lembra dos três envelopes. Abre o primeiro deles e encontra este conselho «Culpa a anterior administração». Assim fez e logo se safou, tendo ganho mais um ano até à próxima Assembleia. Mas esta chegou sem que os problemas se tivessem resolvido sozinhos e, novamente, precisou de recorrer aos envelopes. O segundo dizia «Culpa a conjectura internacional». Novamente, a experiência do anterior administrador o salvou de apuros. Ficou de tal forma confiante nos sábios conselhos dos envelopes que nem se preocupou em resolver os problemas da empresa, deixando o ano passar em frivolidades e reformas cosmésticas. Chegada a sua terceira Assembleia geral, a empresa estava ainda pior do que quando iniciara o seu mandato mas a solução estava ali no terceiro envelope, à sua espera. Abre-o com um misto de confiança e curiosidade e o terceiro conselho que encontrou dizia «Faz o teu pedido de demissão e entrega estes três envelopes ao teu sucessor».

Bom, já se culpou o governo anterior, agora culpa-se a conjuntura internacional e a seguir... não, não haverá demissão. É que aqui há sempre o dinheiro dos contribuintes para estoirar em operações de charme.


Mas o relatório do FMI ainda tem mais uma curiosidade, que é o conjunto de receitas apresentadas. Para este organismo a solução para a crise passa por fazer mais do que se tem feito nos últimos três anos: continuar a consolidação orçamental, flexibilizar a legislação laboral e continuar as reformas. Ou seja, consolidar o orçamento pelo aumento de impostos (já que a despesa pública não baixou), ser-se mais competitivo à conta de salários baixos e incentivar reformas como a da educação (sucesso estatístico) e da saúde (menos serviços sem diminuição de impostos).

Eu, não percebo nada disto, apenas gostaria de saber quanto melhoraria a nossa economia se o Estado deixasse de ser "o" parceiro económico por excelência e se a justiça passe a funcionar em tempo útil. Bom, é a minha mania das curiosidades!


2 comments :

  1. Alien David Sousa disse...
     

    Raposa,não és único curiso. Eu no entanto já deixei de tentar entender o que se passa à minha volta, não vale a pena, como posso tentar entender coisas que para mim não fazem sentido?
    Vi - como muitos outros - que a politica de saúde do governo era um desastre enquanto o SOCRETINO nos atirava areia para os olhos e dizia que estavam no caminho certo. Mais tarde, perante as câmeras de televisão admite que FOI UM ERRO!!! Por favor. ELE É O ERRO! Ele devia de escrever a TAL 3ª carta, a de demissão. E fico por aqui.
    Beijinhos

  2. vieiragomes disse...
     

    "Mas... a culpa não é "deles"?"

    ESTA VALE A PENA DIVULGAR!!! é uma verdadeira vergonha...



    ... batendo as asas pela noite calada. Vêm em bandos, com pés de veludo...»Os Vampiros do Século XXI.


    A Caixa Geral de Depósitos (CGD) está a enviar aos seus clientes mais modestos uma circular que deveria fazer corar de vergonha os administradores - principescamente pagos - daquela instituição bancária.




    A carta da CGD começa, como mandam as boas regras de marketing, por reafirmar o empenho do Banco em oferecer aos seus clientes as melhores condições de preço qualidade em toda a gama de prestação de serviços, incluindo no que respeita a despesas de manutenção nas contas à ordem.




    As palavras de circunstância não chegam sequer a suscitar qualquer tipo de ilusões, dado que após novo parágrafo sobre racionalização e eficiência da gestão de contas, o estimado/a cliente é confrontado com a informação de que, para continuar a usufruir da isenção da comissão de despesas de manutenção, terá de ter em cada trimestre um saldo médio superior a EUR1000, ter crédito de vencimento ou ter aplicações financeiras associadas à respectiva conta.




    Ora sucede que muitas contas da CGD, designadamente de pensionistas e reformados, são abertas por imposição legal.



    É o caso de um reformado por invalidez e quase septuagenário, que sobrevive com uma pensão de EUR243,45 - que para ter direito ao piedoso subsídio diário de EUR 7,57 (sete euros e cinquenta e sete cêntimos!) foi forçado a abrir conta na CGD por determinação expressa da Segurança Social para receber a reforma.




    Como se compreende, casos como este - e muitos são os portugueses que vivem abaixo ou no limiar da pobreza - não podem, de todo, preencher os requisitos impostos pela CGD e tão pouco dar-se ao luxo de pagar despesas de manutenção de uma conta que foram constrangidos a abrir para acolher a sua miséria.


    O mais escandaloso é que seja justamente uma instituição bancária que ano após ano apresenta lucros fabulosos e que aposenta os seus administradores, mesmo quando efémeros, com «obscenas» pensões (para citar Bagão Félix), a vir exigir a quem mal consegue sobreviver que contribua para engordar os seus lautos proventos.
    É sem dúvida uma situação ridícula e vergonhosa, como lhe chama o nosso leitor, mas as palavras sabem a pouco quando se trata de denunciar tamanha indignidade.


    Esta é a face brutal do capitalismo selvagem que nos servem sob a capa da democracia, em que até a esmola paga taxa.




    Sem respeito pela dignidade humana e sem qualquer resquício de decência, com o único objectivo de acumular mais e mais lucros, eis os administradores de sucesso.




    Medita e divulga........Mas divulga mesmo por favor.


    Cidadania é fazê-lo, é demonstrar esta pouca-vergonha que nos atira para a miserabilidade social.



    Este tipo de comentário não aparece nos jornais, tv's e rádios....Porque será???


    Eu já fiz a minha parte.

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