Um país pobre
Um país pobre
Esquecido o ouro do Brasil, as especiarias da Índia e o império africano Portugal está reduzido àquilo que é, o seu território e o seu povo. O território é o que é, com recursos escassos ou esgotados, pelo que nos resta o povo.
O problema é que enquanto povo também somos pobres, tão pobres que, tal como sucedeu no passado, de nada nos serviriam as riquezas naturais. Podemos desculparmo-nos com as elites, que equivale em política a culpabilização do vizinho que todos os dias praticamos.
Se não temos riquezas naturais restar-nos-ia ter ideias, sem elas não se pode ser ambicioso. Mas, infelizmente, temos menos ideias do que riquezas naturais. Basta olhar aos comentários que vão ser escritos na caixa em baixo para concluirmos que são muitos os que se limitam a usar adjectivos sem discutir ou sugerir uma única ideia, há mesmo quem tenha paciência para o fazer há imenso tempo. Vão comentar este post chamando mais uns nomes a Sócrates.
A verdade é que da extrema-esquerda à extrema-direita os portugueses são parcos em ideias. O PCP nada mudou, a imaginação do BE só chegou para disfarçar o seu bacalhau com todos, o PS governa como vem nos manuais, o PSD é a tristeza que se vê e do CDS nem vale a pena falar já que está reduzido a Paulo Portas e esse há muito que deu o que tinha a dar.
A televisão é o que se vê, o Marcelo faz da baboseira comentário político, a Quadratura do Círculo serve para sabermos o estado das relações entre Pacheco Pereira e a liderança do PSD, a generalidade dos opinion makers ou representam interesses ou gerem a sua própria vaidade.
Pior do que o país não possuir recursos é não conseguir produzir ideias novas, é não encontrar soluções inovadoras para velhos e novos problemas. E um país sem ideias é um país sem ambição.
Faltam os subsídios da CEE à lista das riquezas que nos banharam sem nos molhar.
De resto concordo com o texto, no sentido de serem as pessoas o factor que faz a diferença. A falta de recursos naturais, a pequena dimensão do país e os custos da periferia são desculpas de mau pagador (frequentes em todos os governos). Somos tão periféricos quanto a Noruega, temos o dobro do tamanho da Holanda e até temos mais recursos naturais do que a Irlanda (de acordo com o CIA facts book). Mas não são os Noruegueses nem os Holandeses nem os Irlandeses que vivem em Portugal!
Soluções... Dizem que temos os políticos que merecemos, que são o reflexo da sociedade. Mas assim não saimos da pescadinha de rabo na boca. Há lugares chave que podem impulsionar a mudança e os lugares políticos estão em destaque para o fazerem. Pelo menos, são profissionais pagos para o fazerem. Quanto ao resto da sociedade, havendo menos Estado até poderia a Sociedade ter um papel mais activo. No presente, bem se podem ter ideias - e elas existem, basta acompanhar por exemplo alguns blogs, dizia, bem se podem ter ideias que cairão em ouvidos moucos por quem tem o poder de as implementar. Por outro lado, querendo tomar as rédeas para levar a bom termo essas ideias, logo se descobre que só tendo estômago para a via sacra da carreira política se poderá chegar à possibilidade de as ver discutidas. Veja-se, por exemplo, a importância dada às petições à Assembleia da República.
Uma solução que vejo passa pela mudança de atitudes, o que implica promover a formação das pessoas, elevando o seu nível médio de conhecimento. Coisas que demoram anos, que dependem da vontade política e que passam pela aposta na efectiva aquisição de conhecimento em vez do contentamento perante melhores estatísticas.
"o PS governa como vem nos manuais"
Basta esta frase para saber o que o asno, perdão, jumento, defende.
Este país funciona como Chicago nos anos 30. Existem duas grandes "famílias" e os respectivos padrinhos, com a chusma de afilhados, os amigos dos afilhados, e os amigos dos amigos dos afilhados: os outros são para explorar. Não interessam a competência, o saber, a criatividade: só interessa é quem se conhece e a quem se pode meter uma "cunha".
Ideias é o que não falta aos portugueses; por vezes até têm ideias em excesso. O que falta neste país é honestidade, probidade e uma grande limpeza a toda a cadeia de pequenas corrupções e favorecimentos que impera, desde o futebol à política, desde os municípios às universidades. Duvido mesmo que em Portugal se tome alguma decisão que não seja para favorecer alguém, ou para tramar alguém.
Quanto ao jumento, há muito que deixei de frequentar e recomendo a escolha.