Uma história típica, por Vasco Pulido Valente
Uma história típica
Vasco Pulido Valente, Público, 2008-10-26
A Câmara de Lisboa tem uma empresa, a Gebalis, altamente deficitária, como qualquer empresa pública que se preza, encarregada de administrar os bairros sociais. Várias criaturas, que passaram pela direcção da Gebalis até 2007, foram agora acusadas pelo Ministério Público de peculato e gestão danosa. De que se trata? Alegadamente, um pequeno grupo de três "gestores" (como hoje se diz) gastou em poucos meses 64.A Câmara de Lisboa tem uma empresa, a Gebalis, altamente deficitária, como qualquer empresa pública que se preza, encarregada de administrar os bairros sociais. Várias criaturas, que passaram pela direcção da Gebalis até 2007, foram agora acusadas pelo Ministério Público de peculato e gestão danosa. De que se trata? Alegadamente, um pequeno grupo de três "gestores" (como hoje se diz) gastou em poucos meses 64.000 euros da empresa em 620 "refeições" (calculo que em restaurantes que se recomendam) e nunca deu gorjetas de menos de 20 euros. Suponho que, a ser verdade a história, os gestores da Gebalis presumiram que a sua importância burocrática e política e mesmo, em última análise, a dignidade do Estado exigia esta despesa e esta pompa.
Mas parece que isto não bastava. A sra. dra. Clara Costa, vogal da direcção, andou, supostamente, à custa do contribuinte por Cracóvia, Belfast, Dublin, Marraquexe, Viena e Sevilha. Estas viagens, em que segundo o Ministério Público se fazia acompanhar pelo seu "namorado", custaram à Gebalis 34.000 euros. Como era de esperar, a sra. dra. Clara Costa não vê nada de impróprio neste arranjo. Nem na pequena quantia de 11.530 euros, que empregou, também ela, em "refeições", compatíveis com o seu estatuto. O Expresso declarou isto "falta de vergonha". Peço licença para não concordar. Se o Ministério Público tem razão, a dra. Clara Costa usou o Estado como milhares de outros funcionários, de que ninguém fala e com que ninguém se escandaliza.
Existem na Gebalis - cuja função, convém repetir, é administrar bairros sociais - cinco pelouros: de relações internacionais, de recursos humanos, de sistemas de informação, de comunicação e, compreensivelmente, um pelouro jurídico. Esta exuberância burocrática abre oportunidade a tudo: de "viagens de estudo" a Marraquexe a festejos na marisqueira Sete Mares. Principalmente, quando se dá a cada vogal da direcção um cartão de crédito da empresa. A Gebalis já esqueceu com certeza o fim para que foi criada. Como o resto da máquina do Estado, vive para justificar os seus pelouros, por inúteis que sejam, e anichar os "companheiros" do partido. E, quando chegam, os "companheiros do partido" querem muito humanamente tirar o ventre de misérias: ir a Marraquexe e à marisqueira - o ideal da classe média que a "democracia" lhe prometeu. Para alguma coisa "apoiaram" o sr. X ou sr. Y.
Interrogo-me se se encontrarão entre as 51.476 pessoas que deixaram de fazer parte da função pública algumas destas referidas neste texto.
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