Vital Moreira escreveu no Público de 18-11-2008 uma crónica sob o título "Uma reforma que não pode ser perdida", ocupando a quase totalidade do texto sobre considerandos quanto à bondadade das medidas educativas emanantes do ME. Discorre ainda sobre o direito que cada qual tem à manifestação e a discordar. A já habitual cassete do PS quanto aos professores não serem avaliados não sei há quanto tempo, sobre a enorme justiça que traz a cisão da carreira docente e sobre imperadora necessidade de cumprir esta lei da availiação - já sobre outras não sabemos - têm lugar de destaque.
Balelas, portanto.
Termina, no entanto, com dois parágrafos esclarecedores:
«Nesta "guerra" da avaliação dos professores, o pior que poderia suceder era uma desistência do Governo por razões de calculismo eleitoral, imitando o grosseiro oportunismo eleitoral do PSD. Ao contrário do que alguns defendem, o PS pode bem suportar a provável perda eleitoral entre os professores que se opõem às reformas da educação, que aliás nenhuma cedência agora recuperaria. O que não deve arriscar são as perdas bem maiores que teria entre os eleitores em geral, que são a favor das reformas, caso cedesse à chantagem eleitoral, perdendo não somente a coerência política mas também a firmeza e a autoridade reformadora, que constitui o seu grande activo político nas eleições que se aproximam.
De resto, o saldo eleitoral desta contenda pode ser neutro ou mesmo positivo, se cada voto perdido entre os professores que não querem ser avaliados for compensado por outros tantos, ou mais, entre os eleitores que pagam a escola pública e querem ver aumentar a sua qualidade e eficiência, não aceitando que as reformas sejam sacrificadas por causa da defesa sectária de interesses profissionais.»
Não restam dúvidas que o PS nunca cederá na questão da avaliação. Poderá estar aberto a uma lavagem de cara que acalme os ânimos mas suspender a actual lei da avaliação nunca acontecerá. Quais questões de príncipio qual quê. Trata-se duma questão de mero cálculo eleitoral. Suspender não trará de volta os votos perdidos entre os professores e ainda fará perder mais votos entre a restante população.
Não sendo esta uma análise propriamente inovadora - até o PS a faz, temos que admitir que também os sindicatos a ela não serão estranhos. Assim sendo e sublinhando que suspensão nunca ocorrerá, porque faz disso Mário Nogueira uma bandeira? Porque colocou a FENPROF como condição para o dialógo que a ministra anunciasse de imediato que a suspensão da avaliação? Mário Nogueira sabia muito bem o resultado que sairia da reunião no ME ao anunciar publicamente este braço de ferro. Obviamente que a ministra não iria recuar.
Acontece que a uma certa forma de fazer oposição, na qual a Fenprof se integra, não interessa resolver os problemas mas sim manter o conflito em aberto. Para quê curar a ferida se ela ainda pode infectar mais? Mário Nogueira não está a procurar resolver os problemas dos professores que esgotam o seu tempo e energia num modelo de avaliação mal concebido. O conflito alimenta a estratégia de poder da Fenprof e das forças políticas que a suportam.
À saída da reunião furada, Mário Nogueira afirmou: "a posição da Fenprof, a posição da Plataforma Sindical dos Professores e a posição dos professores e posição dos Conselhos Executivos e a posição de todos aqueles que racionalmente estão neste processo é que o que há que fazer imediatamente é suspender este modelo". Mas a verdade é que ele não possui a legitimidade para falar em nome daqueles que enumerou! Uma manifestação de rua onde alguém anuncia tomadas de posição em nome de todos não confere representatividade a ninguém. Só a terá quando apresentar uma proposta que seja votada pelos professores. Só aí poderá falar em nome deles.
Resolver os problemas implica encontrar soluções. Os sindicatos e o ME fazem parte do problema.
É tudo uma questão de votos - bem pode o PS ficar com os votos que nunca teve e perder muitos daqueles que sempre teve.
Quanto ao Mário Nogueira, será sempre preso por ter cão e não ter cão: primeiro traiu porque cedeu, agora trai porque não cede? Às vezes, chego a pensar que o melhor seria o sistema americano (logo eu que não simpatizo com nenhum sistema americano): os sindicatos respondem, defendem e conseguem apenas para os seus associados.
Em Março de facto a plataforma discutiu alguma coisa com os professores antes de ir para o fatídico memorando (cujo texto não foi votado, no entanto...). De resto, são propostas que nascem nas direcções sindicais. Os sindicatos responderem e defenderem os seus associados é o me parece, de facto, mais sensato. Têm regalias quem luta por elas e não há o paternalismo de se proteger quem não queira ou importe com ser protegido.
um esclarcimento:
os professores,sindicalizados ou não,rejeitam no seu todo esta forma de avaliação.
quanto a novas propostas,se não forem meramente economicistas e sim estruralmente pedagógicas,não acredito que venham a ser feitas.
em relação aos votos dos professores,pesam mais do que parece,não fossem eles formadores de cidadões e filhos de pais e pais de filhos.
pode até significar,o fim de uma maioria absoluta.
Duarte, os professores que conheço também a rejeitam. Mas sem se encontrar solução não se chega a lado algum.