a política na vertente de cartaz de campanha

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A cada quatro anos

Volta e meia passo por cima dum buraco na estrada e saem-me boca fora algumas interjeições azedas mas suavizadas pela certeza do remendo que me trarão as próximas eleições. Não importa quais. 

É sabido que a cada quatro anos há más notícias para os bate-chapas os quais, temporariamente, perdem negócio por menos jantes partidas e pneus furados. Pelos mesmos motivos, cada eleição é motivo de alegria pela berma que passa a existir onde antes estava uma valeta e pelo buraco tapado que permite transferir a atenção do rali urbano para os peões nas passadeiras. A cada quatro anos é certo e sabido as estradas melhoram. Nada mais costuma mudar mas agora há um novo evento cíclico. Tal como as obras de Santa Engrácia, processos judiciais que nunca parecem terminar ganham súbito vigor com o cheiro a eleições. No meio do ruído, fica-se sempre a saber um pouco mais do que se havia sabido durante os quatro anteriores anos de inacção.

Não compreendo por isso a indignação de Sócrates. Para que algo aconteça, é bom que processos adormecidos como o do Freeport reapareçam de cada vez que há eleições. Além disso, leva nas orelhas quem tem capacidade para mudar a justiça mas não o fez.