a política na vertente de cartaz de campanha

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Há ou não mentira? Os factos respondem.



Antes abordar a questão lançada neste post, vejamos primeiro dois textos.

«O Manicómio
O INE anunciou que no último trimestre de 2008 o PIB português caiu 2,1 por cento. Na "zona euro", o PIB caiu 1,2 por cento. E, no total dos 27 membros da União, só a Letónia e a Itália ficaram atrás de nós no mesmo período. Em Dezembro de 2007, o Governo de Sócrates previa um crescimento para 2008 de 2,2 por cento do PIB. Em Maio, desceu a previsão para 1,6 por cento. Em Outubro, para 0,8. E, em Janeiro, de 2009, para 0,3 por cento. Afinal foi 0 (zero). Parece que os peritos se espantaram muito. O ministro das Finanças, pelo contrário, não se espantou "inteiramente". Há uns dias que as coisas lhe cheiravam a esturro. Mais vale tarde do que nunca. Agora, acha ele, vamos ter "dificuldades". De todo a evidência, não percebeu ainda que o país já tem dificuldades.

O que está de acordo com a extravagância geral da nossa vida colectiva. Ao mesmo tempo que o INE anunciava a desgraça da nossa economia, um "jornal de referência" veio explicar que, felizmente, 900.000 pessoas trabalham para o Estado e não podem por isso ser despedidas como qualquer vagabundo da "privada". Essas 900.000 pessoas trabalham na administração central, na administração local, na administração regional, no "sector empresarial do Estado" e em empresas prestadoras de serviços (como, por exemplo, limpeza e segurança). Fora as que trabalham em empresas que fornecem ao Estado o que Estado consome, desde o papel, à electricidade e à gasolina. E, sem contar, evidentemente com as que trabalham nos bancos que Sócrates nacionalizou ou seminacionalizou para arredondar o bolo. O ideal era que a população inteira entrasse de um vez para o funcionalismo público, com vínculo e aumento. Depois se veria quem pagava.
Suponho que esta salvífica medida não incomodaria ninguém, nesta ditosa Pátria nossa amada, em que os serviços secretos não gostam de segredos. No tempo de Guterres circularam listas de agentes. No tempo de Sócrates, parece que uma força irresistível introduziu na Intranet da Presidência do Conselho uma lista de 23 nomes de "espiões" do SIED (um organismo nada oculto que se ocupa de assuntos de Defesa), com o respectivo retrato. Os 23 queriam, ao que consta, um "livre-trânsito" não se sabe ao certo para onde. Provavelmente, para o estrangeiro. Fazem bem. Portugal é um manicómio e começa a dar má reputação.»
Vasco Pulido Valente, Público, 15.Fev.09




Na melhor das hipóteses
Silva Lopes espera queda de 2% no PIB em 2009
O economista Silva Lopes manifestou-se hoje "surpreendido" com o recuo de 2% no último trimestre de 2008 na economia portuguesa, adiantando que "a melhor das hipóteses" para este ano é o de uma queda semelhante.
Jornal de Negócios com Lusa

O economista Silva Lopes manifestou-se hoje "surpreendido" com o recuo de 2% no último trimestre de 2008 na economia portuguesa, adiantando que "a melhor das hipóteses" para este ano é o de uma queda semelhante.

"A melhor das hipóteses é manter-se durante o ano uma queda semelhante [ao último trimestre do ano passado]. Esperemos que não piore", disse hoje à Lusa o economista José Silva Lopes, antigo governador do Banco de Portugal e ex-ministro das Finanças.

"Fiquei surpreendido, não pensava que fosse tão grande. Já se sabia há algum tempo que o quarto trimestre tinha tido um crescimento negativo, não esperava é que fosse de dois por cento. Mas este ano vai ser pior que um crescimento zero. Vai ser descida", acrescentou.

Dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgados hoje indicam que a economia portuguesa recuou dois por cento no quarto trimestre de 2008, face aos três meses anteriores, completando dois trimestres de quedas, terminando o ano em recessão técnica.

A estimativa rápida do INE hoje divulgada mostra que no conjunto do ano [de 2008] o Produto Interno Bruto (PIB) português fixou-se nos zero por cento - estagnação - depois de um aumento de 1,9 por cento em 2007.

Este ritmo de crescimento anual foi o mais baixo em cinco anos, desde a recessão de 2003.

"A economia portuguesa está a ser atingida fortemente pela crise mundial, as exportações estão a descer e por isso não é de esperar que o ano actual corra melhor que o ano passado, antes pelo contrário", sublinhou Silva Lopes.

"Todas as previsões, incluindo as do Banco de Portugal, mas que já estão ultrapassadas, apontam para que o crescimento económico este ano se possa aproximar dos -2 por cento", disse também o economista, acrescentando que também não acredita em melhorias para o final do ano.

Por outro lado, realçou Silva Lopes, as medidas tomadas pelo Governo podem ter um desfecho positivo, ainda que nunca antes de 2010.

"Estas medidas que o Governo está a tomar, e que outros governos estão a tomar, espero que tenham resultados positivos, mas vai demorar algum tempo. Talvez no ano que vem", adiantou.

Silva Lopes criticou ainda alguma descoordenação a nível europeu (Estados e bancos centrais) para fazer face à crise e apontou medidas à semelhança dos Estados Unidos.

"As política de taxas de juro [seguida na UE] é positiva no sentida da recuperação. Mas enquanto os Estados Unidos estão a encarar a hipótese - e talvez já a praticar - de os bancos centrais fazerem eles empréstimos directamente às empresas, o Banco Central Europeu ainda pensa só em fazer empréstimos aos bancos, que por sua vez estão numa situação que não lhes permite expandir o crédito como era preciso", concluiu.


A realidade é negra. Mas não é inesperada. Os sinais já vêm do primeiro semestre do ano passado, com o desemprego a crescer e com o INE a registar valores alarmantes para o PIB.

Mas basta recordar as palavras de Sócrates quando, na discussão do orçamento, chamava nomes a todos os que lhe diziam que as previsões eram irrealistas, afirmando que nenhum dado apontava para que o país estivesse em crise.

Bastava ver como o discurso foi mudando, com as previsões em contínuo decrescendo. Ainda há pouco mais de um mês, a o Governo oficial dizia que o PIB de 2008 crescera 0.3% mas afinal foi 0% (zero!).

Você decide: Sócrates mentiu-lhe ou é incompetente?

Adenda: o gráfico aqui apresentado está actualizado aqui: PIB Portugal 2006-2009