Escutas a Pinto da Costa: é mesmo difícil descobrir quem as colocou no Youtube?
Pinto Monteiro disse hoje que é muito difícil saber quem colocou as escutas a Pinto da Costa no Youtube. Será assim mesmo? Para mim, cidadão ordinário, é quase impossível mas ao Estado, que tem outra autoridade, é uma questão de usar o seu poder. Basta começar por contactar a Google. Com efeito, numa entrevista de há um ou dois anos, o CEO da Google Portugal falava da colaboração da empresa com as autoridades. Em causa estava um email que tinha sido tomado de assalto, tendo depois sido usado pelo namorado da vitima para a difamar, escrevendo em nome dela. O CEO da Google dizia que recebia poucos pedidos de colaboração das autoridades judiciais – se bem me recordo ele disse mesmo que nunca havia recebido pedido algum – e que os dados das contas dos seus clientes apenas seriam fornecidos com um pedido vindo das autoridades competentes. E, acrescente-se, este caso do email acabou em tribunal mas mesmo assim a Google Portugal não recebeu nenhum pedido de colaboração.
Pois no caso para o qual Pinto Monteiro já está a dar uma desculpa para o insucesso, o primeiro passo consiste em a Judiciária – ou um tribunal – pedir à Google Portugal que forneça o IP (isto é, o endereço da máquina) que foi usado para colocar os vídeos no Youtube. A Google Portugal, como qualquer empresa responsável e segundo o que disse o respectivo CEO na referida entrevista, colaborará com a Justiça e encaminhará o pedido para a casa mãe. Obtido o IP, saber-se-á qual foi o fornecedor de acesso à Internet (ISP) usado pela pessoa em causa. De seguida, o ISP, tendo que colaborar com a Justiça, com o IP, a data e a hora, saberá pela consulta dos seus registos de onde veio o acesso. Se este partiu de contrato individual, está identificada a pessoa (ou um pequeno grupo de pessoas) que poderão ter colocado os vídeos no Youtube. Se o acesso pertence a uma entidade colectiva, mais investigação será precisa, com colaboração dessa entidade. Se, finalmente, não houver contrato com o operador (caso de cartões pré-pagos), será necessário seguir o dinheiro (transferência, multibanco, etc.) usado para carregar o cartão e, com a colaboração do banco, chegar ao dono do cartão pré-pago. Em qualquer dos casos, cruzar os dados do ISP com quem teve acesso às escutas certamente que daria rápidos resultados.
Portanto, é difícil descobrir quem colocou as escutas a Pinto da Costa no Youtube? Não, bastam no máximo 4 pedidos:Google Portugal, ISP, dono do contrato com o ISP e um banco. Dá trabalho? Claro que dá. Mas qual é a alternativa? Fazer como Pinto Monteiro que lava as mãos do assunto, com uma desculpa para ingénuos e assumir, como ele fez, que temos uma investigação criminal típica de uma república das bananas? Creio que a opção de dar trabalho é preferível.
Duas notas:
- o Youtube pertence à Google;
- este texto nada tem a ver com questões futebolísticas, as quais na verdade pouco me interessam; esta nota é de particular importância face ao facto de algumas mentes serem toldáveis quando questões de clubismo entram em jogo.
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