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O carro eléctrico tem mesmo emissões zero?

João Dia 
(clique na imagem para ver o vídeo)

Ouvimos dizer com frequência que o carro eléctrico tem emissões zero. Ora aqui está uma mentira conveniente. Porquê?

  • Porque a energia eléctrica tem que vir de algum lado e as renováveis estão longe de chegar para o actual consumo, quanto mais para substituir o consumo de energia fóssil.
  • E porque as baterias precisam de um rumo depois de terem atingido o fim de ciclo de vida.

Segundo João Dias, Director do Gabinete para a Mobilidade Eléctrica, os carros eléctricos até poderão vender energia (no vídeo, aos 8 minutos). Pois, isso mesmo! «Num futuro próximo», carrega-se à noite, quando a energia é mais barata, e vende-se à rede durante o dia quando a energia é mais cara. Falta saber se sem subsídios (como agora acontece com as eólicas), isto será viável economicamente. Mas pronto, cá estará o contribuinte para pagar.

Finalmente, há a questão sobre qual será a fonte energética do futuro. Será, muito possivelmente, eléctrica mas estamos longe de saber sob que forma será distribuída. Veja-se por exemplo o que se está a fazer com as "fuel cells".

Cá opta-se por fazer uma «experiência nacional» e isto é apresentado como uma vantagem. Sê-lo-á seguramente para os outros países que podem esperar confortavelmente para ver se a experiência é bem sucedida antes de gastarem o dinheiro dos contribuintes deles.

Alguns números segundo João Dias:

  • Final de 2010 / Janeiro 2011: primeiros veículos
  • Para o ano: 5 mil carros eléctricos a circular
  • 750 mil em 2020 (15% a 16% do parque automóvel)
  • Produção actual de energia eléctrica a partir de fontes renováveis: 40%
  • Julho de 2011: haverá 1300 postos de carregamento lento instalados nas ruas de 25 cidades e mais 50 postos de carregamento rápido
  • Carregamento "rápido" da bateria: 15 a 30 minutos

Atendendo a que o ciclo de desenvolvimento de um carro com tecnologia madura (a actual) demora 4 anos, duvido muito que antes de 2012 haja produção em massa de algum carro eléctrico. Mas como estamos perante um carro com tecnologia nova, creio que esses 4 anos serão ultrapassados. Suposições, claro. Cá estaremos para ver.

Mas o aspecto que me parece mais falível é precisamente a questão da rede de distribuição de energia. É sabido que uma parte considerável da população não tem garagem própria. Logo, como vai carregar a bateria? Usa uma extensão desde o seu apartamento no 8º andar até ao carro estacionado à frente do prédio? Depois, um carregamento que demore 15 a 30 minutos só com boa vontade se pode chamar de rápido. E por fim, quanto a carregar a bateria enquanto o carro estiver estacionado em lugares públicos coloca a séria questão do vandalismo.

Apesar destes factores, somos o país que terá a primeira rede pública de carregamento baterias. Uau, sinto-me orgulhoso. Existe a forte possibilidade do Infocid, do Via CTT e dos Quiosques do Cidadão ganharem companhia nova.

Então, dirá, vamos ficar paradinhos sem tomar iniciativa? Neste caso, diria que sim. Porque estamos a optar pela adopção de tecnologias sem mostras dadas e em que não há a certeza de que sejam as que venham a vingar. Nestas condições, o risco de se fazer a escolha errada é elevado e, consequentemente, existe a forte possibilidade de se estar a estoirar dinheiro. Estoirar por estoirar, seria preferível optar pelo incentivo à investigação no domínio energético. É que se cá se desenvolvesse a tecnologia energética a usar no futuro estaríamos, aí sim, na vanguarda tecnológica. Assim, fazendo de cobaias, estamos apenas a financiar a investigação dos outros e não ficaremos com as respectivas patentes.



3 comments :

  1. Anónimo disse...
     

    Então não?

    É como a cerveja sem álcool... não tem mesmo álcool nenhum, não senhor.
    Quem acredita nisso piamente é que tem emissão zero de inteligência.

  2. Pata Negra disse...
     

    De vez em quando é novidade: um carro eléctrico.
    Noticiam-se avanços tecnológicos e apoios do governo, passam-se imagens de protótipos, anunciam-se lançamentos a preços só para alguns.
    Pois fiquem sabendo que o primeiro carro em que viajei era eléctrico e andava em cima de carris.
    Porque é que o desenvolvimento das redes de transportes públicos das nossas cidades não apostou nestes veículos pouco poluentes? Porque é que se apresenta repetidamente, com tiques de pura propaganda, um pequeno automóvel eléctrico de díficil comercialização e não se investe nos troleys?
    Como bem referes, as características não poluentes dos transportes eléctricos não anula os efeitos poluidores da energia eléctrica produzida a montante nas centrais termoeléctricas.
    Um abraço à pata

  3. j. manuel cordeiro disse...
     

    Os carros eléctricos que agora se anunciam fazem-me lembrar os outros que alguns miúdos da minha idade tinham e que controlavam com telecomando. A diferença parece-me estar no preço.

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