a política na vertente de cartaz de campanha

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Afinal, governo e oposição até se entedem desde que... seja para aumentar a despesa

Depois de Passos Coelho ter decido aniquilar-se como oposição e de Louçã e Jerónimo declararem que o dinheiro dos impostos iriam melhor para mais estradas, TGV e aeroporto do que para os apoios sociais - se bem que o resultado para mim seja de igual aumento de carga fiscal! - e de, ainda, Paulo Portas ter feito um chinfrim por causa duns carros que a Segurança Social comprou apesar de se ter abstido na votação das idas a Paris por parte de Inês Medeiros, fiquei a matutar como poderia colocar isto tudo em alguns parágrafos, em vez de numa única frase entrecortada por vírgulas como se fossemos nós os alemães. Afinal, bastava-me um aqui colar o texto de Alberto Gonçalves, no DN do passado domingo 2 de Maio:

Sabem aqueles líderes que se consagram nos momentos decisivos, quando é preciso propor o que ninguém quer fazer e dizer o que ninguém quer ouvir? Pedro Passos Coelho não é um líder desses. Na terça-feira, enquanto Portugal se inclinava perigosamente sobre o penhasco, o dr. Passos Coelho convocou solenemente a imprensa a fim de informar a nação de que a "soberania nacional" é vítima de uma campanha manobrada por "especuladores". Não satisfeito, horas depois uniu-se ao eng. Sócrates para "defender" o país do "ataque especulativo sem fundamento quer ao euro quer à dívida soberana portuguesa". Misteriosamente, o país não se sentiu defendido. Mas devia ter-se sentido esclarecido quanto à redundância que o dr. Passos Coelho é.

Se a ideia é desempenhar o papel de queixinhas impenitente, a oposição não é necessária: o Governo e a adjacência denominada PS chegam e sobram. Teixeira dos Santos, que parece ter chegado ao poder anteontem, justificou a nossa penúria com o "ataque dos mercados" e pede "acção". Vital Moreira explica que, embora a culpa da situação grega (e portuguesa, presume-se) seja da Grécia, é desejável que os que disso se aproveitam "partam os dentes", não sei se em sentido literal ou figurado. Francisco Assis garante que é prematuro cancelar os investimentos públicos, esquecendo-se das aspas em "investimentos". E o eng. Sócrates, que preside à ofensiva de negação ou optimismo (na circunstância sinónimos), pôde citar o "responsável" (sic) presidente do PSD na defesa das obras estatais.

A existir, o que começa a ser polémico, suspeito que a solução para a nossa penúria não passa pelos consensos entre o eng. Sócrates e o dr. Passos Coelho em volta da manutenção das exactas políticas e dos exactos delírios que nos trouxeram até aqui, com um punhado de "cortes" pelintras para disfarçar. É certo que, há um ano e tal, os delírios, igualmente conhecidos por "despesa pública", nos salvariam de uma crise provocada pelo "neoliberalismo". Hoje, vai sendo tempo de admitir que o "neoliberalismo" não só era medonho como imaginário e que a despesa é, em larga medida, a própria crise.

Sinceramente, pensava que o dr. Passos Coelho tinha percebido essa evidência, a de que os ataques à "soberania nacional" provêm, quase todos, do Governo. Obviamente, não percebeu ou fingiu não perceber, o que, segundo afirmou fonte governamental, numa demonstração de que o tratamento dispensado ao Português não supera o da Economia, abriu uma "janela de oportunidade" ao entendimento. Porém, fechou as hipóteses de se distinguir da desvairada trupe que nos tutela.

Em nome da referida "responsabilidade", o dr. Passos preferiu rejeitar a nossa crescente má fama a questionar as suas causas. E isso, ao contrário do que foi dito, não reforça a confiança de ninguém. A confiança no futuro do país não depende de quem tanto se esforçou para a estraçalhar. Nem, já agora, de quem se prontifica a ajudar na tarefa.