Jornalismo?
A imagem supra é composta por duas partes: i) a infografia da parte inferior, publicada no Expresso de 22 de Maio passado e ii) o gráfico na parte superior, elaborado por mim e usando os mesmos dados presentes na infografia do Expresso.
Em ambos os casos está representado o crescimento da dívida pública total entre 2009 e 2040.
A primeira e obvia constatação é que as curvas dos gráficos são completamente diferentes. Enquanto que o gráfico do Expresso mostra um comportamento exponencial, crescendo abruptamente após 2015, já aquele que apresento evidencia um crescimento linear da dívida pública portuguesa. E porque acontece isso? Porque no gráfico do Expresso a escala não é linear! Entre 2009 e 2015 cada ponto do gráfico corresponde a um ano, enquanto que os últimos 3 intervalos correspondem a saltos de 5 e 10 anos.
O que terá o jornalista levado a usar este gráfico que induz em erro o leitor apressado? Ignorância, já que o gráfico em causa é o obtido se se apenas pegar nos valores em causa sem se ajustar a escala? Mas a edição do passado sábado 29 de Maio não traz nenhuma errata. A outra possibilidade é que o gráfico foi escolhido propositadamente para induzir o leitor em erro, mas é um pouco maquiavélico para um jornal que se diz sério. O facto é que em plena página 6 do 1º caderno do semanário lá está ele em todo o seu esplendor.
Seja por uma ou por outra razão, é uma peça jornalística infeliz. Se bem que esta em particular agrava a imagem do governo, durante o largo deserto de 2005 até há bem pouco tempo muitas outras pintavam a situação melhor do que a realidade. Por exemplo, onde andaram os senhores jornalistas durante a campanha eleitoral para as legislativas, em particular quando não colocaram em causa as teses das contas públicas equilibradas? Agora, não há jornal que se preze que não apresente a sua lista de esbanjamento de dinheiros públicos. Acordaram?
Jornalismo, onde andas?
Nota: Se bem que a imagem pintada pelo gráfico do Expresso é alarmista, o facto é que o gráfico correcto não nos deixa mais tranquilos. Com efeito, é de sublinhar a subida em elevado declive da nossa despesa pública. O mundo mudou mesmo em 15 dias? Não é isso que os factos mostram.
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