a política na vertente de cartaz de campanha

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Notícias desse país

Campos junto ao Rio Pranto

Sem televisão e com pouca rádio - mas sobretudo sem net - têm os dias passado sem sobressaltos. O temporal que fez furor nas notícias, facto que pude (desnecessariamente) comprovar, trouxe-me anos idos à memória. Tempos em que as manhãs começavam com quinze minutos de caminhada até à camioneta que me levaria à cidade, a dezoito quilómetros de distância, onde depois de outros vinte minutos chegaria ao liceu. Nesses idos anos oitenta, antes das obras de hidráulica do Baixo Mondego, eram frequentes as cheias nos campos de arroz. Não havia televisões a fazer a cobertura - até porque só havia "a" televisão - nem prevenção civil a emitir alertas. Mas as pessoas sabiam que a chuva viria e preparavam-se. Limpavam valetas, removiam a vegetação das valas e, também, o solo não estava tão impermeabilizado com cimento como agora.

Tal como por estes dias, o dinheiro era igualmente escasso. Banalidades de hoje, como uma bola de berlim, eram uma alegria. Que por vezes se trocava por uma outra maior, que era a ida à Luna para dois jogos de Space Invaders - duas moedas de dois escudos e cinquenta centavos (vinte e cinco tostões como lhes chamávamos). Os dias de então eram como estes que agora experimento na ausência do frenesim noticioso. E sem o desemprego, coisa que se ouvia dizer ser alta em Espanha, deixando-nos patrioticamente confortados. E com as mesmas cheias, que eram boas por fecharem a estrada do Campo, o que significava dia sem aulas por causa do autocarro não passar.

Alcatrão e betão à parte, trinta anos não mudaram assim tanto os dias de hoje. Excepto que o desemprego chegou em força e a histeria político-noticiosa é mais omnipresente, muito graças aos novos canais televisivos.

 

Foto: bordadocampo.com. Sobre as cheias do Baixo Mondego, ver: A Ponte-Açude de Coimbra (e também a DGADR).



3 comments :

  1. José Lopes disse...
     

    Em 30 anos as mudanças são sobretudo na qualidade da miséria que hoje tomou novas formas, mais graves porque situada sobretudo nas grandes urbes, sem os recursos que a natureza pode proporcionar para um pequeno alívio no campo alimentar. A televisão distrai mais embrutecendo a mente.
    Cumps

  2. zedeportugal disse...
     

    Em Montemor-o-Velho?

    Obrigado por partilhar este bocadinho de descanso com o pessoal que ficou cá pelo "aceleródromo".

    ;)

  3. j. manuel cordeiro disse...
     

    Guardião,
    De há tempo para cá que não vejo TV. Não é por razões eclécticas mas apenas por outras actividades me ocuparem os fins de dia. No geral, posso dizer que me aflijo menos. E agora que estive afastado das notícias (já passou, snif snif), tem sido um descanso.



    Zé,
    é perto de Montemor-o-Velho, sim. A foto mostra este local, aproximadamente:

    http://maps.google.com/maps?q=40.070945,-8.740783&num=1&t=h&sll=38.707054,-9.135488&sspn=0.139383,0.256119&doflg=ptk&ie=UTF8&ll=40.070059,-8.75885&spn=0.072776,0.120335&z=13

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