a política na vertente de cartaz de campanha

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A caneta é mais forte do que a espada e o discurso é uma arma

Os discursos portugueses são catalisadores. Depois do episódio do ministro e secretário de estado lerem o mesmo discurso, é agora a vez de um ministro indiano sucumbir ao poder da palavra portuguesa.

Já era conhecido o caso da anedota mortal, tão bem documentada pelos Monty Python, que era tão mortífera que morreria de rir quem a lesse na totalidade. Foi arma de guerra contra os alemães, com exércitos inteiros a lerem apenas palavra a palavra e em alemão. Devastador.

Eis que agora, depois de darem mundos ao mundo, oferecem os portugueses mais este notável artefacto, saído direitinho das Novas Oportunidades: o discurso pega-monstro. Tal como esse brinquedo que se atirava às paredes e por elas escorria viscosamente, este género de discurso cola-se ao orador, levando as cordas vocais da vítima a proferir as palavras escritas.

Aconteceu em Portugal e agora comprovou-se na Nações Unidas, provando-se a internacionalidade do conceito, quando o Ministro dos Negócios Estrangeiros Indiano  leu durante três minutos o discurso de Luís Amado, sem de tal se aperceber.

A admiração internacional é imensa, muito superior àquela trazida pelo belo azul magalhãnico dos computadores Intel que Sócrates procurou impingir ao Chávez. Com efeito, preocupados com a possibilidade de um tal discurso ser usado contra os EUA, levando-os por exemplo a efectivamente fechar Guantânamo, Portugal foi já convidado para membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, o que é visto como uma tentativa de controlo desta força bruta.

Felizmente, a arma discursal tem deficiências, que estão a ser estudadas para a produção de contra-medidas. Estudos promissores com banqueiros, em que um discurso de baixa de lucros lhes foi apresentado, mostra ser possível resistir à força do verbo português. Mesmo com exposição múltipla ao discurso, continuou o grupo a falar em taxas de juros elevadas e em lucros anuais pornográficos. Outro caso de sucesso, este a carecer confirmação, foi o de Sócrates ter admitido não ser socialista quando lhe apresentaram o discurso de juramento de dizer a verdade, apenas a verdade e nada mais do que a verdade.

Entretanto, para segurança de todos, os discursos em causa foram guardados em lugar secreto, lado a lado com os planos de redução da carga fiscal e de emagrecimento do Estado. Podemos todos ficar descansados, tão perigosos instrumentos estão onde, garantidamente, ninguém mexerá.