a política na vertente de cartaz de campanha

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Vou requalificar o meu quintal

Confesso que fiquei fascinado, possivelmente por não compreender o significado. Por isso fui em busca, num dicionário da língua portuguesa, da definição de "requalificação", no contexto de "requalificação urbana". Não a ter encontrado no primeiro que me veio à mão despoletou uma aborrecida e inconsequente pesquisa pelos diferentes dicionários, que por aqui tranquilamente repousavam na estante. A demanda terminou quando as versões online dos dicionários da Porto Editora, da Texto Editora e da Michaelis também não foram esclarecedoras.

Fiquei assim sem saber o que tinham feito ao Jardim Municipal da Figueira da Foz. Segundo a Câmara Municipal, em 30-07-2005 ocorreu a "Inauguração das Obras de Requalificação do Jardim Municipal", o que em nada me esclareceu. Precisei então de comparar o antes e o depois para sair deste impasse.

Jardim da Figueira da Foz, anos 801. Jardim da Figueira da Foz, anos 80

2. Jardim da Figueira da Foz, Agosto 2005

Há uma etapa entre estas duas fotos mas já lá irei. Tendo encontrado a fotografia 1, feita nos anos 80, procurei reproduzi-la na actualidade, sendo o resultado a fotografia 2. E qual é a imediata e óbvia constatação? O número de árvores é manifestamente inferior.

Será este o significado de "requalificação"? Cortar uma considerável quantidade de árvores? Uma vez que ainda não encontrei este termo aplicado ao desbaste da Amazónia, deve haver algo mais. Vejamos pois esta metamorfose mais em pormenor.




3. Jardim da Figueira da Foz, Agosto 2005

Aparentemente "requalificar" inclui edificar painéis de propaganda - 5 no caso, mesmo antes do período eleitoral.

Este ímpeto de lenhador começou, na verdade, no mandato de Pedro Santana Lopes. A Av. Foz do Mondego, contígua ao jardim, perdeu a quase totalidade das árvores existentes. Mas ganharam-se uns dois lugares de estacionamento, pagos e ao sol. O próprio jardim sofreu então o primeiro abate, se bem que ainda tímido, ficando com o aspecto da fotografia seguinte.

4. Jardim Municipal durante o mandato de Pedro Santana Lopes

Nesta fase, a transformação mais visível foi o abate das árvores entre o passeio e a estrada, dando lugar ao relvado em forma de ondas.

Sobrepondo esta fotografia com o plano da Câmara para o novo jardim, ficamos com uma ideia grosseira da extensão do abate de árvores.

5.Transformação do Jardim Municipal

As cruzes não denotam árvores mas sim a mancha verde correspondente a árvores. As cruzes vermelhas indicam as áreas onde foram cortadas árvores no mandato de Pedro Santana Lopes e as azuis no 1º mandato de Duarte Silva. As bolas azuis correspondem à substituição do relvado em forma de ondas pelo actual sistema de repuxos. Realço que não disponho de informação exacta sobre o número de árvores cortadas, sendo portanto aqui apresentada uma quantificação subjectiva. Mas basta ter olhos e memória para perceber que entre o antes e o agora muitas árvores foram cortadas.

Outros aspectos da "requalificação" foram:
  • O parque infantil foi equipado com os materiais que agora parece se terem tornado normal em todos os parques infantis, como se dum franchising nacional se tratasse.
  • O lago desapareceu e, realmente, não deixa saudades.
  • O coreto foi substituído por uma "moderna" pala. Já alguém verificou se a respectiva sombra realmente abriga os músicos do sol?
Estas alterações, por si, não justificam tamanha obra, a qual custou aos contribuintes a módica quantia de € 979,922.95 (adjudicação da obra) mais 122.124,78 €, correspondendo estes aos clássicos "trabalhos a mais não previstos" das obras públicas (12% do valor adjudicado!!!). Ou seja, € 1,102,047.73 - cerca dum milhão e cem mil euros. Com toda a certeza que o município não precisava dum investimento de 220 mil contos em mais nenhum outro lado.

Neste momento já estou mais esclarecido. "Requalificar" implica cortar árvores, fixar propaganda e gastar muito dinheiro.

E o Presidente da Câmara Municipal, terá algo a dizer sobre este assunto? Eis uma transcrição:

Acta da Assembleia Municipal de 26-02-2004
«Relativamente à questão ambiental que preocupa muita gente, preocupa imenso a Câmara [...]. Portanto há aqui uma preocupação: - a reflorestação da Cidade, a melhoria dos parques, o projecto para remodelação do Jardim Municipal.»
Reflorestação da cidade?! Mas que estive aqui a escrever! Afinal não cortaram as árvores do jardim, devem ter sido transplantadas. Assim sendo dou por terminada a escrita, ainda para mais porque tenho ali um trabalhinho para fazer. Um raio duma figueira já há muito que me estorva à vista. Não que ela seja desagradável, antes pelo contrário. A questão é que está no meio dum pomar tão mal cuidado que acaba por destoar. Pelo que não tendo vontade de melhorar todo o pomar, corto-a. E no lugar dela ponho uma tabuleta a dizer "Cuidado, veneno nas maçãs". Não é verdade mas sempre fica a dúvida.


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Tempo


Se o tempo fosse como a água poderia dispôr duma reserva para usar quando quizesse. Como por exemplo agora. Por outro lado ficaria sem desculpa para escrever estes lugares comuns!


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A raposa velha

Raposa Velha
Admirável animal pela sua vivacidade, a raposa é o alter ego deste blogger. Custa-me compreender como são possíveis e permitidas as batidas à raposa quando este animal está em risco de extinção. A parte ridícula traduz-se em 20 homens passarem uma manhã a percorrer mato para depois exibirem o seu troféu: uma raposa morta.


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Ser e parecer


SOBRE O FLISCORNO
Fliscorno: do Alemão Fluegelshorn, contracção de Fluegel (asa, ala, flanco) com Horn (corno, corneta). Instrumento musical de sopro, próximo do trompete mas de timbre mais suave. Afina em Si bemol.

O fliscorno tem a sua origem na corneta. Passou a incorporar pistons à volta de 1830, sensivelmente ao mesmo tempo que o trompete. O seu nome remonta às pequenas orquestras militares e de marcha, onde o seu posicionamento era a respectiva ala esquerda, antes da ala dos tenores.

Hoje em dia é usado em orquestras de sopro como instrumento da melodia e também no jazz (p. ex. Freddie Hubbard, Clark Terry, Shorty Rogers). Esporadicamente, tem também presença na música clássica (p.ex. Igor Strawinsky).

Como já, certamente, terão notado, fliscorno não é uma grafia alternativa para corno feliz. Ser e parecer é coisa nem sempre coincidente, trate-se de música ou de política. É esta última, na sua vertente de cartaz de campanha, que alimentará o presente blog.


O AUTOR
O autor deste blog, Jorge de seu nome próprio, tem a mania que sabe umas coisas e, pior que isso, tem os meios para as publicar. O seu maior objectivo na vida é pagar impostos e a casa, coisa que faz em sequência, primeiro até Maio e depois durante o resto do ano. Estudou por Coimbra em coisas de electricidades mas isso nunca o impediu de escrever sobre outros assuntos, coisa que faz procurando parecer sério pela citação dissimulada de textos da Wikipédia. A ligação mais próxima que alguma vez teve a um partido deu-se quando procurava impressionar uma miúda com um copo de imperial equilibrado no nariz, coisa efémera que obviamente terminou com o respectivo copo estilhaçado, partido, em plena Praça da República. Tem uma política - esta frase serve para concretizar o profundo desejo de ter uma política - de semi-reserva de identidade para garantir que a sua vida privada... bom... continua privada. Usa este blog para o que lhe der na telha, o que inclui escrever bacoradas como estas.