a política na vertente de cartaz de campanha

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O novo Público

Finalmente comprei o jornal. Apanhei-o esgotado alguns dias na papelaria aqui da zona mas hoje lá esperava por mim.

Não gosto do novo grafismo. Duas coisas notáveis: a edição é toda ela a cores e as fotografias ocupam parte significativa de cada página. Em muitas páginas, 75% da área é ocupada pela foto do artigo. Só me ocorre pensar que quem tem pouco para escrever, .... escreve menos.

Houve uma altura em que O Público foi o meu jornal favorito. Tinha então os suplementos Computadores e Economia. Um lifting deu origem ao grafismo anterior ao actual e pelo caminho, entre outras áreas que tinha em grande consideração, caíram estes dois suplementos, substituídos por uma coisa a quem chamaram DIA D. Em vez de excelentes artigos da actualidade tecnológica, uns textos em jeito de curiosidades e novidades passaram a abordar a temática. Numa escrita que parece saída da revista Caras. Significativamente, esta revista além de ter sobrevivido neste novo Público, parece ter sido a musa inspiradora do presente grafismo.

No site do Clube de Jornalistas [link] está o texto da Direcção Editorial do Público sobre o novo jornal onde é dito
"A pressa da vida moderna nem sempre tolera espaço e tempo para o prazer de ler jornais."
Nota-se que realmente esta poderá ser a actual trave mestra deste diário. Com efeito, com as enormes fotografias e a cores, o jornal desfolha-se mais do que se lê, tornando-se compatível com essa pretensa vida moderna em que não há tempo para ler nem para pensar. Como refere esse editorial, a competição na oferta de textos escritos, debate público e a realidade do potencial individuo-comunicador, proporcionada pela rede em banda larga, é incontornável. Mas o que distingue um jornal dum blog em formato de papel? Não serão certamente as fotografias, que essas encontram-se online em tantos sítios, desde o Flickr.com ao worldpressphoto.com. Nem os textos breves ou não maturados como tão facilmente tropeçamos na net. Nem muito menos boatos e campanhas de desinformação. Não, estas não são as características que se espera encontrar num jornal de referência. Deverão, antes, ser o rigor da notícia, o ir mais além da superficialidade na abordagem dos temas e, sem dúvida, não ser sobretudo um canal de comunicação das agências de comunicação (leia-se empresas de marketing político). Cor, fotografias grandes e textos pequenos não contribuem para estes objectivos.

Está, ainda, escrito nesse editorial:
[...] decidimos avançar com um novo caderno [...]: o P2 [...]. Um lugar com espaço para novos temas e onde a disciplina porventura mais nobre do jornalismo, a grande reportagem, será presença assídua.
Uma ideia interessante. Ficamos a aguardar pela concretização.

Sobre a edição online, continua fantástica e a respectiva assinatura vale a pena. Particularmente interessante é a pesquisa agora do Última Hora estar disponível desde 1 de Março de 1999. Pelo menos neste momento, o jornal disponibiliza um utilizador e password para demonstração do que é esta assinatura, usando para isso a edição de 12-Fev-2007. Utilizador: demo password: demo





PS: sobre a questão das agências de comunicação, é de notar que cerca de 70% das notícias publicadas têm origem em "fontes organizadas de informação", ou seja agências, assessorias e gabinetes de Imprensa. O lado das agências de comunicação defende que isso decorre da evolução do mercado. Uma leitura da realidade, sem dúvida. Outra leitura é a de que os órgãos de comunicação social descobriram que precisarão de menos trabalhadores se receberem as notícias já preparadas e prontas a publicar, poupando assim nos salários. No entanto, como as agências de comunicação têm por objectivo prestar um serviço aos seus clientes (políticos, empresas, organizações, etc.), é de esperar que essas notícias sejam trabalhadas para apresentar a vertente do cliente. O que não coincide necessariamente com a realidade. Basta notar como certas notícias de repente passam a fazer parte do quotidiano, tratadas todas da mesma forma nos diferentes órgãos de comunicação social. Luis Paixão Martins, director-geral da LPM-Comunicação, defende
"As fontes profissionais, como as agências de comunicação, têm de ser credíveis porque querem continuar a trabalhar neste mercado. Não estou a ver como seria possível a um colaborador da minha empresa mentir a um jornalista acerca de um cliente. No dia seguinte vai ter de voltar a falar com esse jornalista sobre outro assunto. A credibilidade é essencial."
Mas trabalhar uma notícia não se trata de mentir. Basta omitir informação, emitir opiniões de forma selectiva ou, simplesmente, realçar apenas alguns aspectos. Um caso prático: veja-se a forma como foram tratados os números da OCDE relativamente à educação e como serviram de base à justificação das opções políticas na educação. Primeiro criou-se uma campanha de destruição da imagem dos professores junto da opinião pública. Depois, fizeram-se opções que normalmente levariam ao descontentamento da população em geral mas, como a credibilidade da classe docente estava na mó de baixo, ninguém ligou quando os professores reclamaram que as medias adoptadas iriam baixar a qualidade na educação.




1 comments :

  1. Anónimo disse...
     

    Bonito bogue1 gostei1

    Me visita e... sorri também!

    www.rouxinoldebernardim.blogspot.com

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