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Os salários dos professores e a OCDE

Disse a nossa querida Ministra da Educação:
"Quando se fazem as comparações internacionais da estrutura salarial dos nossos docentes, o que se percebe é que no início de carreira, os professores têm um salário baixo e um topo de carreira têm um salário mais elevado que os professores de outros países do espaço da OCDE"

Por isso, pretende o ME
"reduzir esta desigualdade, aproximando justamente os salários dos professores em início e no topo carreira"

O relatório da OCDE a que a ministra se refere é um estudo publicado em 2004 com dados de 2002. Está disponível em:

- ficheiro Excel com os dados referidos pela ministra:
www.oecd.org/dataoecd/61/34/33671263.xls (é este o documento em discussão aqui)

- o relatório completo: http://www.oecd.org/document/7/0,2340,en_2649_34515_33712135_1_1_1_1,00.html

- todas as tabelas:
http://www.oecd.org/document/11/0,2340,en_2649_34515_33712011_1_1_1_1,00.html



Aqui vai um resumo. Após breve análise da tabela D3.1, verificamos que os nossos rankings são (1 é o primeiro lugar e 30 o último lugar):

A

B

C

D

Início carreira

Com 15 anos experiência

Topo da carreira

Relação (salário aos 15 anos de carreira) / (PIB per capita)

1

ensino primário:

22

16

5

4

2

ensino secundário (1ª metade):

14

9

17

11

3

ensino secundário (2ª metade):

16

14

19

16

Posição dos salários dos professores portugueses entre os países da OCDE

Concluímos que a Sr.ª Ministra baseou todas as conclusões nos salários dos professores primários, nitidamente o grupo que apresentava os dados que lhe convêm. Para os restantes grupos verifica-se que Portugal se encontra maioritariamente no meio da tabela.

Estranho os valores 1.C e 1.D por fugirem tanto ao restante panorama. Desconfio que haverá erro, pois tanto quanto sei os salários dos professores primários até são inferiores aos dos do ensino secundário.

Em relação às afirmações da ministra, creio que estes números mostram quanto são falaciosas. Será preciso acrescentar algo mais? Ou fica evidente a má fé e mentira da ministra?

Esclareço que não sou professor nem jornalista. Lamento o jornalismo que temos, o qual se limita ao papel de megafone ministerial. Estes dados que aqui apresento obtive-os em alguns minutos com uma pesquisa no Google. Penso que qualquer jornalista o poderia ter feito e, posteriormente, ter pedido esclarecimentos à ministra, prestando um bom serviço de informação.


7 comments :

  1. Anónimo disse...
     

    Estou totalmente de acordo, do princípio ao fim (e sobretudo aí).

    Acresce a tudo isto o facto de a profissão ser avaliada na sua condição ideal. Como seria bom se todos os professores / educadores em Portugal tivessem o tão almejado horário completo. E como quem não vê caras, não vê corações, fica o povo na alegre ignorância.

    E, já agora, ficam ainda por mencionar as substituições por pouquíssimas horas ou num curto espaço de tempo, uma realidade que é bastante mais frequente que a do utópico horário anual completo.

  2. Orlando Braga disse...
     

    O estudo baseia-se em rendimentos dos professores tendo em conta o PIB per capita de cada país -- e é aqui que está a estultícia da ministra. No Luxemburgo, o PIB per capita é de 35.000 USD (em Portugal é de 16.000 USD) e os professores ganham 5.000 Euros no topo da carreira -->logo, não constam do topo da lista da OCDE.
    Esta ministra é uma vergonha.

  3. Anónimo disse...
     

    só se fazem comparações utilizando o rácio per capita. é assim em todas os indicadores. os cálculos estão do ponto de vista cientifico perfeitamente correctos. Não se confundam as coisas. Os valores apresentam uma situação concreta. Não se discute se ganham mal ou bem.. ou as condições de ensino.isso é outra discussão.
    As suas conclusões são muito discutiveis e não vejo nada disso no quadro.(no 3.1 pelo menos)
    Em primeiro lugar os dados que foram lançados pelo director de estatística da OCDE não se baseiam nestes quadros.Aquilo que a ministra diz está correcto.
    A sua interpretação não está.
    Por exemplo no tal quadro que refere, e que representa isto: "Ratio of salary at the top of scale to starting salary." Portugal ocupa o 2 lugar com um racio de 2,67 ou seja os ordenados do topo e de partida no ensino primário tem um racio de 2,67 ou seja se uma pessoa ganhasse 1000 no inicio ganharia 2670 no final. E portugal é o segundo país onde esse diferencial é maior.E foi isso que o senhor citou das declarações da ministra- E os numeros confirmam.
    já agora em média e tendencialmente o professor primário ganha mais . Motivo : entrou mais cedo na carreira atinge mais rapidamente o topo. Isto para a actual geração de professores claro
    A utilização do pib percapita não é manha nenhuma. Demonstra de facto o poder de compra da profissão localmente. Para o aumentar é preciso acima de tudo aumentar o PIB , a produção do país. Se aumentarmos a produção poderemos aumentar os salário. Em portugal 93% do orçamento do minsiterio vai para salários. Não pode ser. Não é aceitável.Acho correcto que se tente reduzir este fosso entre os professores que começam e os do topo. Não percebo porque se protesta contra isso.
    E por último temos professores a mais e não a menos.
    Façam um cálculo muito simples. (sobretudo se estiverem num agrupamento ou numa escola secundário) Perguntem o número de professores da escola. Depois o numero de alunos e façam as contas. podem ter a certeza que temos muitas escolas com um rácio de 7 ou 8 alunos por professor da escola( não é na turma) , mas os professores estão lá e recebem.
    Mas aquilo que eu achei muita piada foi ter sido um sindicato a convidar o senhor da ocde a dizer dizer estas coisas.

  4. Fliscorno disse...
     

    Sem dúvida que Ben Johnson ter proferido estas declarações a convite do sindicato é hilariante. Sempre me surpreendeu como é que os professores se deixam representar pelos sindicatos!

    Mas vejamos. Compreendo que analisou o ficheiro Excel que aqui refiro. Uma das folhas tem o título TableD3.1 (o senhor refere a folha "TableD3.1 continued"). Esta folha tem três grupos de colunas ("Primary education", "Lower secondary education", "Upper secondary general education"), cada qual subdividida em outras quatro. 12 colunas, portanto. Se ordenar cada uma destas colunas por ordem numérica decrescente e anotar a posição em que Portugal se encontra, acabará por construir a tabela que aqui apresento. Atenção: dependendo da forma de ordenação poderá haver diferenças (2 posições) devido à inexistência de dados em dois casos. Corrigi a tabela usando a média OCDE quando não existiam dados.

    Os dados estão lá, basta lê-los. Enquanto na maioria das situações Portugal se encontra no meio da tabela, no caso dos professores primários, colunas 1.C e 1.D da minha tabela, isso não se verifica. A afirmação da ministra não corresponde ao panorama geral.

    A tabela que refere de qualquer das maneiras está mal calculada. A coluna "Primary education" do grupo "Ratio of salary at the top of scale to starting salary" apresenta de facto os valores da divisão entre "Salary at top of scale /minimum training" e "Starting salary/ minimum training". As duas colunas seguintes, não seguem esta lógica (erro na fórmula Excel?). Para a "Primary education", a relação entre o salário máximo e o mínimo é de 2.67, correspondendo de facto à 2ª posição de Portugal em 30 países. Mas apesar dos valores de salários apresentados na tabela TableD3.1 serem diferentes para as colunas "Lower secondary education" e "Upper secondary education, general programmes", esta relação continua a valer 2.67. Errado, portanto. O valor correcto para estas duas colunas é 1.55. Novamente, muito diferente da situação "professor primário".

    Quanto à sua explicação, de os professores primários ganharem mais, em média e tendencialmente, tem situações concretas que possa apresentar? É que duvido que entrar um ou dois anos mais cedo para a carreira docente possa fazer tanta diferença.

    Afirma que os dados lançados pelo director de estatística da OCDE não são os do relatório que refiro. É porque sabe quais são. Elucide-me, por favor.

    Uma relação salários vs. PIB per capita, como referi, avalia o peso dum salário na capacidade produtiva do país. Admito que manha não foi a melhor escolha para classificar a metodologia. Continuo no entanto interessado em ver indicadores semelhantes para outras profissões.

    Surpreende-me essa estatística do DN de que "há em Portugal mais de um professor por cada dez alunos", no sentido de não ter essa noção de que a taxa de natalidade em Portugal está tão baixa. É preciso não esquecer que, necessariamente, o número de professores aumentou, pois passámos a ter ensino pré-escolar. Que eu saiba nunca foram admitidos professores que não fossem necessários e se isso aconteceu foi por ineficiência do ME. Mas foram admitidos numa altura em que a taxa de natalidade começou a decrescer espantosamente. Creio que esta situação não será culpa dos professores, salvo se os seus "monstrinhos" lhes tiram a vontade de deixar descendência! :-)

  5. Fliscorno disse...
     

    Gostaria de acrescentar mais uma coisa: os escalões 1 e 2 são apenas para os que ingressam na carreira docente como bacharéis. Actualmente já não se formam bacharéis. Além disso se licenciados e com estágio não conseguem aceder à carreira docente, muito menos o conseguiria um bacharel.

    Ou seja, actualmente ninguém é pago pelos escalões 1 e 2.

    Este estudo compara o salário correspondente ao menor escalão com o do escalão máximo, quando devia comparar o salário do 3º escalão com o do escalão máximo.

    Apesar de formalmente correcta, a relação (salário de topo)/(salário inicial) é inconclusiva.

    Dito doutra forma, os dados deste estudo são inválidos.

  6. Anónimo disse...
     

    Ao ler os comentários vejo que "raposa velha" não me deixou nada a acrescentar e preparou-se da forma que todos os jornalistas deveriam fazer.

    Quanto ao senhor "mocho" gostaria de saber em que escolas é que anda para dizer que há um ratio de 7/8 alunos por professor...

  7. Anónimo disse...
     

    Quería saber cuanto cobra un maestro que da clases a niños de 3a 6 años
    Gracias

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