a política na vertente de cartaz de campanha

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O expresso da vitória

[Re-editado às 13:51]

No Bar Velho Online, DJ comenta as excursões do Partido:
- "De que bairro é que a senhora é?"
- "Não sou daqui. Sou de Famalicão."
- "E o senhor? É daqui?"
- "Não. Também sou de Famalicão."
- "A senhora vem de onde?"
- "Sou de Cabeceiras de Basto."
- "E o que é que está aqui a fazer?"
- "Não sei bem. Disseram-me para vir no autocarro e eu vim..."

Aí está uma verdadeira candidatura por Lisboa. Tanto a campanha, como a respectiva sede, têm muita gente, pena é que ninguém seja do município no qual houve eleições. Começa no Presidente da Câmara, que nem em Lisboa reside, e acaba nos restantes.
Eu bem sei que Portugal é pequeno, mas daí Famalicão e Cabeceiras de Basto estão um "bocadinho" fora da periferia da capital.


E no # % @ Código : Urbano § ? & Ricardo Belo de Morais escreve:
Tão fabulosa e memorável foi a vitória de António Costa com 29,54% nas eleições intercalares para a CML (resultado que objectivamente se traduz na legitimidade dada por mais-ou-menos 8% dos votantes inscritos na capital) que foi preciso o PS ir buscar velhinhos a lares de idosos, pelo país fora (Teixoso, Cabeceiras de Basto, Alandroal, Mafra...), em autocarros fretados, a fim de engrossar a massa de "população festejadeira", em aclamação a Sócrates e ao seu ex-vice. «Nem sabíamos que vínhamos para aqui, disseram-nos que vínhamos para uma festa», contavam às televisões os velhinhos "recrutados", sob o sorriso seráfico e irónico de repórteres, pivots e comentadores.

Os caciques locais do PS* resolveram organizar excursões às redondezas de Lisboa com passagem pelo hotel Altis. Se o fizeram foi porque tiveram a percepção de que o seu gesto teria retorno por parte do seu líder.
Um espectáculo deprimente.

* Sim, caciques. As bandeiras PS que os «excursionistas» empunhavam, aliadas às declarações que tinham vindo para um passeio, não deixam margem para dúvidas.

A maior vitória sem coligação?
Quem ouvisse as declarações de vitória dos quadros PS diria que tiveram uma votação notável, esmagadora da oposição. Nem uma coisa nem outra. A frase encenada e recorrentemente repetida sobre o PS ter tido a maior votação de sempre em Lisboa numa eleição sem coligação não passa de propaganda política. Costa foi eleito com menos 17,115 dos votos com que Carrilho perdeu em 2005. Portanto, é verdade que será a maior vitória sem coligação mas não é a maior votação que o PS teve sem coligação. Onde está essa esmagadora vitória que transbordava dos discursos de ontem?

AnoCandidato
Votos%MandatosAbstenção
2005
Carrilho
75,02226.56%5 47.35%
2007
Costa
57,90729.54% 662.61%
Votações PS em Lisboa em 2005 e 2007. Fonte: MJ

O mandato de Costa parece de facto começar como extensão da sede no Second Life: virtualmente alheado da realidade.


14 comments :

  1. Maria Lisboa disse...
     

    Estão convencidos que a ignorância matemática do povo português joga a favor deles! Ainda não perceberam que o insucesso da matemática só se manifesta nos resultados escolares... que o povo sabe fazer as contas que lhe interessa fazer!

    Com uma abstenção de 60 e tal %, nem 40% das pessoas votaram! E estão eles tão satisfeitos por terem 29, 54% desse universo de 40%!!! Deviam era ter vergonha e pensar seriamente no desinteresse que o povo manifestou e no cartão vermelho que esta abstenção representa.
    Foram salvos pelos militantes convictos! No entanto deviam descer do seu pedestal para perceber que 29% de um universo de 40% transformado em 100%, não é absolutamente nada!!!

    Afinal o insucesso matemático deles é muito maior do que o do país!!! (eu sei que são leituras políticas que têm que fazer... mas eles não pensem que somos burros!!!!)

    Camionetas!!!! Lembro-me bem de uns passeios que se faziam à capital para encher o Terreiro do Paço!...
    Como é bonito o revivalismo político!!! ;)

    PS: A propósito do post sobre o hotel aqui no nas docas do Bom Sucesso, que colocaste no outro dia e que eu não comentei, digo-te que aquela obra é horrível. E não só essa como a que estão a fazer na frente do Ministério da Marinha, mesmo junto ao rio (onde em tempos havia um parque de estacionamento e um acesso directo à parte de trás da estação do Cais do Sodré).

    O rio está a ficar tapado por um muro de cimento. Lisboa está ficar sem vistas, asfixiada pelos lucros de "uns alguéns". E parece que o responsável por estas obras é um sr que vai ser o 2º da CML. Calculo que vá querer rentabilizar os restinhos que ainda não estão ocupados. Até porque o sr a quem foi atribuída a gestão da zona ribeirinha não se deve importar muito...

  2. Watchdog disse...
     

    Realmente! Vale de tudo... Para mim, Costa e o PS foram os grandes derrotados, pela abstenção e pela Roseta! Pensavam que iam governar Lisboa apartir do gabinete do Sócrates. Estou curioso para ver com quem vão fazer aliança... 1 Abraço!

  3. Anónimo disse...
     

    Isto é vergonhoso :S

  4. Pata Negra disse...
     

    Raposa, sou testumunha, vi estas deprimentes declarações na televisão - é o nosso povo da província unido ao nosso povo da capital - contava escrever sobre o assunto mas como já está escrito!... permite-me o link!
    um abraço

  5. ATG disse...
     

    Não sei se a ignorância matemática do povo português joga a favor deles. Mas a ignorância em geral continua a funcionar.
    Sócrates teve mais uma prova para seguir com o seu regime, que aos poucos se vai formando, e Cavaco Silva ganha mais motivos para seguir passivo relativamente à forma de actuar do Governo.
    Os portugueses estão assim por culpa própria, e isso, sim, é triste.

    Agradeço ao Raposa Velha a citação no blogue. Aproveito e peço-lhe autorização para o colocar nos blogues de referência do Bar Velho Online. Não conhecia o seu blogue, vim ver e achei muito interessante. Serei leitor assíduo.

    Cumprimentos a si e a todos os seus leitores. Votos de sucesso.

  6. Fliscorno disse...
     

    Maria, de manhã, quando ouvi estes anedóticos relatos e, depois, quando vi a reportagem na RTP, senti revolta. Os meus pais, agricultores e convencidos que as pessoas no geral são tão bem intencionadas como eles, poderiam ter sido dos que "vieram ao passeio". Nos tempos glórios de Cavaco, os caciques locais faziam transporte de carro das pessoas até à junta de freguesia porque "era preciso ir descarregar o voto, se não cortavam as reformas". E claro, a referência era explicita: "não se esqueça, é ao lado da mão fechada". Curiosamente, o cacique também era PS. Pelos vistos, no domingo o pretexto foi uma excursão mas a manipulação lá continua.

    Agora, a algumas horas de distância, apenas sinto tristeza. Essa gente apenas age assim porque a recompensa política virá.

    As docas do Bom Sucesso... verdade, fotografei esse mostrengo há dias. Mas repara, se é verdade que o degelo está a acontecer, não estarão a zelar pelo nosso bem ao construir um muro à beira rio? ;)

  7. Fliscorno disse...
     

    Watchdog, se calhar a aliança é como naquela canção:

    «O anel que me deste
    No domingo da trindade
    era-me largo no dedo,
    apertado na amizade.
    [...]
    O anel que tu me deste,
    era de vidro, quebrou;
    tanto dure a tua vida,
    como o anel me durou.»

    http://alfarrabio.di.uminho.pt/cancioneiro/html/235.html

    :-)

  8. Fliscorno disse...
     

    Cláudia, creio que chamar vergonhoso é um eufemismo. ;-)

  9. Fliscorno disse...
     

    João, esteja à vontade. Sabe o que me ocorre? Finalmente percebi porque havia tanta pressa na conclusão de certas autoestradas: para os autocarros chegarem a horas ao Altis!

  10. Espectadora Atenta disse...
     

    Caro raposa Velha
    O titulo que escolheu para o Post não podia estar mais adequado... Expresso! Foi uma vitória expresso, umas eleições expresso e será um descalabre expresso!!!:)))
    Mais de 60% de abstenção é um bom cartão vermelho para a classe política não lhe parece? Para Lisboa, esta campanha e estas eleições forma vergonhosas...

  11. Fliscorno disse...
     

    DJ, obrigado pelas palavras simpáticas e não precisa de pedir autorização: esteja à vontade. Sabe, creio que o poder deve cegar mesmo. Só assim posso explicar a razão dos seus detentores pensarem que a mentia camuflada poder passar despercebida.

  12. Fliscorno disse...
     

    Espectadora Atenta, não sei bem o que pensar de tamanho desinteresse pelo acto democrático. Constantemente na nossa tomamos decisões, o que fazemos por um processo de peso e contra-peso. Acabamos por ir por um caminho em vez de por outro por acharmos, mesmo que apenas com elaboração emocional, que é a melhor escolha. Neste domingo, perante ficar em Lisboa e ir votar ou ir para outro local e não votar, parece que mais de 60% das pessoas optaram pela segunda opção. Porquê? Talvez o façam por achar que em nada poderiam contribuir para os destinos em causa na presente eleição. Sentimento certamente ampliado quando as promessas eleitorais não correspondem ao programa executado.

    No entanto, pese todas as explicações possíveis, o que mais acho é que os portugueses têm em larga escala um défice de formação cívica. Veja-se a cuspidela no chão, o largar do lixo pelas costas, a agressividade com que se conduz e por aí fora.

  13. Maria Lisboa disse...
     

    Raposa, os passeios a que me referi eram os do tempo da outra senhora. E as pessoas eram literalmente "arrebanhadas". Não havia desculpa para não virem. Se não viessem era porque eram do "contra" coisa que não muito "saudável" naquele tempo, porque ou seria o passeio a lisboa... ou o passeio a caxias, com possibilidade de reenvio para outros destinos, igualmente "exóticos".

    Sei que poderiam ter sido os teus pais... os meus avós... "quaisquer uns" que vivessem pela província, especialmente no campo.

    PS: Esses muros nem para isso servirão. Apesar de Brecht falar da violência das margens que controlam os rios, estes nunca foram muito atreitos a manterem-se presos quando sentem a força da revolta... ao contrário de nós, seres humanos. ;)

  14. Fliscorno disse...
     

    Sim, Maria, sei que falavas da outra senhora :) A persuasão nesse tempo tinha outra força mas agora poderá ter ganho outra subtileza. ;)

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