Os chumbos da matemática
«QUEM TEM CULPA DOS CHUMBOS A MATEMÁTICA?
Começa a ser tempo de apurar causas, responsabilidades e culpas, se ao fim de um ano lectivo 70% dos alunos chumbam a matemática deverão haver causas e irresponsabilidades. Ontem de manhã, quando ouvi a notícia da rádio bastaram alguns segundos para vir um representante da associação dos professores de matemática assegurar que os professores não são os responsáveis.
Sejamos honestos, se os professores não têm culpa esta deve ser em exclusivo dos alunos pois nem sequer podem ser apontadas responsabilidades aos livros, já que estes são concebidos e escolhidos pelos professores. Como para dar aulas de matemática basta uma sala a culpa só poder ser mesmo dos alunos. E como o resultado dos exames evidencia o percurso ao longo de nove anos de escola, os alunos são culpados desde os seis anos de idade, quando têm o primeiro contacto com a disciplina.
Esta forma de abordar o problema recorda-me uma velha anedota. Um compadre foi a um bordel e quando estava na companhia de duas meninas apareceu uma rusga da polícia. A primeira menina desculpou-se dizendo que era cabeleireira, a segunda porque era manicura ao que o compadre exclamou “Querem ver que a p.. sou eu?”.
Sejamos honestos, algo está mal e não me venham, dizer que a culpa é dos alunos, das famílias que os entregam ao cuidado da escola e das paredes dos edifícios escolares. Enquanto o principal agente do ensino é ilibado de quaisquer responsabilidades na primeira declaração nem vale a pena discutir o tema.»
Comentário
Nos meus tempos de estudante estudava-se sensivelmente na véspera dos exames e suspeito que hoje em dia não há-de ser diferente. Sendo que actualmente os verdadeiros momentos de avaliação coincidem com o final de cada ciclo, em que momento estudarão os alunos? Será que o fazem no 7º, 8º e 9º ou apenas na véspera do exame do 9º ano? É público que o actual modelo educativo incentiva a não retenção do aluno em anos intermédios...
Ou vendo doutra forma: se os professores não mudaram significativamente, tendo até mais qualificações actualmente; se os alunos não passaram a nascer mais burros; e se, finalmente, o sistema educativo tem mudado de rumo ao sabor de cada governo, onde é que estará o elo mais fraco?!
Para perceber porque reprovaram 70% dos alunos a matemática no 9º ano não ajuda encontrar bodes expiatórios. Há que reconhecer que, nos anos intermédios de cada ciclo, os alunos não precisam de se esforçar para passar. E quando o ciclo chega ao fim não estão, obviamente, preparados. Que mais valia traz este sistema?
Os iluminados do ME que acabem com a avaliação por ciclos e que se reponha a passagem ano-a-ano. Querem apostar que os alunos passariam a estar melhor preparados? Mas se calhar estragava um pouco os números das estatísticas do fantástico sucesso escolar. Mais vale bater nos profs.
Concordo com "o Jumento" numa coisa que é o facto de uns imputarem as responsabilidades a outros. Ainda por cima continuam nisto durante anos e os prejudicados já se sabe quem são: os alunos.
É verdade que se heneralizou o estudo no dia anterior. Porquê? Há que averiguar os motivos, talvez haja desinteresse escolar e nesse caso a única maneira de acabar com maus resultados é tentar que haja interesse escolar.
De qualquer modo, dizer que os profs. estão isentos de culpa é completamente hipócrita. Pois são eles, que estão mais próximos os alunos, é a eles que cabe a árdua tarefa de os cativar para a matéria, de inventar se for necessário, de convencer os alunos a estudar/trabalhar. Mas pela minha experiência e de outros não é várias vezes o que acontece.
Muitas vezes só se preocupam em "despejar" matéria e, em elogiar os alunos que estudam árduamente e desprezar os que estudam pouco ou têm dificuldades.
Olá Alexandra. Obrigado pelo teu ponto de vista. Concordo contigo quando dizes que "os prejudicados já se sabe quem são: os alunos".
Do meu ponto de vista, de alguém externo ao sistema educativo, noto alguns aspectos interessantes:
- tal como nas outras profissões, haverá bons e maus profissionais - professores - nas escolas; no entanto os bons professores não vêm o seu mérito reconhecido e os maus professores não são penalizados; de realçar que segundo a regulamentação do ECD que está para ser aprovada, serão penalizados os professores cujos alunos reprovem mais do que a média das sua escola - isto apenas incentiva a passar os alunos, independentemente da sua preparação; não premeia a excelência;
- os programas propostos pelo ME mudam com demasiada frequência; até aqui não tem sido invulgar um mesmo aluno ser abrangido por mais do que uma reforma curricular;
- quando há reformas curriculares, elas têm sido aplicadas a todos os alunos, em vez de tal ser feito apenas aos alunos que estejam a começar um novo ciclo;
- os programas são extremamente extensos, o que certamente contribuirá para o "despejar" da matéria; além disso o número de disciplinas é insolitamente elevado;
- o número de alunos por turma é excessivo;
- as políticas seguidas pelo ME têm colocado ênfase na não retenção do aluno, em vez de na aprendizagem; mesmo que pareça semelhante, há consideráveis diferenças: a) elevada burocratização do processo de retenção de aluno a meio do ciclo; b) avaliação com efeitos na passagem realizada apenas no final de cada ciclo; inexistência de limite de faltas para efeitos de retenção de ano;
- o ME tem tido por vezes decisões estranhas como a "experiência educativa TLEBS", o uso precoce da calculadora, a crença de que a memorização não é parte importante no processo de aprendizagem (gostava de saber como conseguirá um aluno resolver um polinómio se não souber a tabuada...).
Alexandra, é hipócrita dizer que os professores estão isentos de culpa e, realmente, não foi isso que pretendi transmitir. No entanto, responsabilizá-los pelos maus resultados a matemática no 9º ano é procurar um bode expiatório.
Na minha opinião, o ME tem sido o actor do sistema educativo que mais instabilidade tem criado. Julgo ser nas estratégias definidas pelo ME que se devem encontrar as razões para a actual situação. Afinal de contas, é o ME que define a estratégia, sendo os profs quem a executa.
E o caminho apontado é o do fiasco total mascarado de sucesso. Sim, porque o que interessa ao ME não é a construção de um edifício sólido, o que interessa é a construção de uma fachada a qualquer preço, ou melhor, malhando nos professores.
Eu não apanhei exames, tínhamos provas globais. Mas estudava todo o ano, para testes, aulas, TPC's. E na semana das provas, era difícil! No Secundário, exames eram para quem chumbava e penso que melhorias etc. era boa aluna mas não sobredotada, estudava para ter resultados. Estudava durante os fins-de-semana e férias porque tb estudei música. Os tempos mudaram ... Quis ser professora porque gostei dos meus e queria ensinar. Hoje, estou à beira de tomar uma decisão forte ou ser expelida pelo sistema. A verdade, é que não me deixam ensinar bem. A fasquia é muito baixa ... E já há alguns/demasiados anos. Começou tudo com a política do sucesso ... Uma treta. Deixassem-nos ensinar, contribuir para a formação dos indivíduos e a coisa seria diferente. Ah ... também notei, no ensino superior, formação de professores, que havia um facilitismo generalizado. A falta de habilitações de alguns professores e a mesma política do sucesso era empecilhos à qualidade do ensino.
Agora, a coisa chegou ao ponto do "nada se aproveita" assim, ou há uma reviravolta gigantesca ou ... ensinemos os nossos filhos em casa e tentemos evitar que passem muito tempo na escola. É que "aquilo" não é ambiente que se cheire ... Lá estou eu a brincar com as palavras ... (citando o João Rato).
Bom fim-de-semana :)
Um post? Uma caixa de comentários?
Não me parece seguramente o espaço para discutir um assunto com tantas variantes como este!
Seguramente existe um problema com a matemática, seguramente os professores não podem enfiar a cabeça na areia...
A sociedade evolui, os jovens evoluem, e a tecnologia - que tem como matriz a matemática - é das coisas que mais tem evoluído nos últimos anos! Não podemos resumir as nossas conclusões em função de números retirados de processos académicos tradicionais, baseados na pureza liceal de anos idos!
Questionar a pertinência dos conteúdos, a cotação das questões, os critérios de correcção, são também variantes a ter em conta...
Estou-me a contradizer... posso estar a deixar mal entendidos... este não é seguramente o local para esta discussão...
Sugiro apenas um primeiro passo para ultrapassar o problema:
a demissão da equipa deste Ministério da Educação é urgente!:::
-Então rapaz, como te correu o exame de Matemática?
(encolhe os ombros)
-MAs correu mal?
-Oh, professora, não precisava da nota... nem estudei!! Tinha 4 de nota final!
Depois querem que eles estudem e, como se não bastasse, querem analisar os resultados pondo a culpa nos professores...
Anónimo, é para inglês (técnico) ver :-)
Moriae, penso que fazes bem em manter o teu nível de exigência. São os professores exigentes (e justos) que ficam na memória e que marcam, de facto, uma carreira.
João, nem por sombras este cantito pretende ser um espaço de debate da educação. Para minha sanidade mental, vou colocando por estes lados reflexões que vou tecendo, as minhas leituras do mundo que nos rodeia. Os comentários costumam ser um espaço de contraponto por excelência.
"Questionar a pertinência dos conteúdos, a cotação das questões, os critérios de correcção, são também variantes a ter em conta..."
Sim, concordo em absoluto. Pelo que tenho percebido tem acontecido serem os critérios de correcção a causa de alguns desaires.
"a demissão da equipa deste Ministério da Educação é urgente!"
Mas.... e serão melhores os senhores que se seguem? Não advogo a sua manutenção mas penso que esta é uma questão a ter em conta.
Professorinha e isso foi num exame para avaliação do aluno, pelo que percebi. Imagino como será nas provas de aferição...