A abertura do ano lectivo
- A divisão administrativa da carreira docente com o cargo de professor titular? Mera gestão salarial (link).
- Os portáteis de 150 euros*? Apenas show off, acondimentado com o excelente negócio para as empresas de telecomunicações envolvidas que aumentam a sua base de clientes à conta de dinheiros comunitários e do Orçamento de Estado - o nosso dinheiro. E se os equipamentos informáticos são assim tão indispensáveis à actividade de docência, porque hão-de ser pagos pelos respectivos profissionais? Bom, não surpreende. Se estes já têm que pagar do seu bolso a caneta vermelha para corrigir os testes, porque há-de ser diferente para os instrumentos informáticos?
- As aulinhas de inglês? Já anteriormente aqui escamoteei este chorudo negócio (link). Ao expandir este negócio, ups, serviço, fez o governo a avaliação do que se passou até ao momento? Se sim, foi tornada pública?
- Os quadros electrónicos? Francamente, alguém acredita que o sucesso educativo virá por este meio?
- As Novas Oportunidades? Enfim, o governo descobriu a forma de dar canudos a torto e a direito, haja ou não aproveitamento escolar. Algo que sistematicamente têm procurado atingir sem sucesso por causa desses chatos dos professores que teimam em chumbar os alunos que não estudam. Finalmente os números do sucesso educativo vão disparar. Isto é que vão ser estatísticas das boas em 2009...
Ainda um outro aspecto de considerável importância: é do conhecimento comum que a tendência dos preços de telecomunicações é de descida para a oferta do mesmo serviço ou, pelo menos, de manutenção do preço mas com aumento da qualidade de serviço. Basta notar que é o que tem acontecido com a oferta de internet de banda larga (serviço fixo), com os preços a baixar e a velocidade de ligação a subir. No entanto, isso não é o que se antevê quando se tem um contrato de fidelização de 36 meses. Durante três anos, haja ou não melhoria do serviço de internet móvel prestado, que é mau no presente, o operador sabe que a receita dos 17.50 euros não desaparecerá, graças ao contrato de fidelização. Nada mau negócio, não é?
E já que chegámos até aqui, o que dizer dos portáteis oferecidos? Serão o the state of the art? Da Vodafone e da Optimus ainda nada se sabe, mas a TMN, empresa que curiosamente já tinha uma oferta no momento em que o governo anunciou este "programa", já anunciou que portátil vai vender. Podemos dizer que foi o topo de gama há.... uns três ou quatro anos! O portátil em causa (Fujitsu Siemens Amilo Pro V3515), custa actualmente na Fnac 499.00 euros ( link), com sensivelmente a mesma configuração (diferenças no software e na quantidade de memória, mas com baixo impacto no preço final). Bem menos do que os 780.00 euros (150 + 36*17.50) que custa a "oferta" da TMN. Certo, no caso da TMN ainda tem uma espécie de ligação internet incluída. Atendendo a este detalhe, poderá ter algum interesse. Agora o que não vale mesmo a pena é comprar o portátil só pelo portátil, pensando que se está a aproveitar alguma pechincha.
Já agora, para terminar, esta tarifa de 17.50 euros foi anunciada pelo governo com tendo um desconto de 5 euros em relação aos planos base que os operadores tivessem. Como as empresas não são instituições de caridade, adivinhem de onde é que virão estes 5 euritos....
Quando não há grande coisa para mostrar, o melhor mesmo é empolar o que se tem. É disso que se trata nesta performance dos magníficos sete.
[EDIT]
O presente texto de opinião deve ser entendido apenas um contributo para uma tomada de decisão fundamentada. Aderir ou não ao programa eescola deverá ser o resultado duma análise pessoal de custo/benefício, ciente de que haverá pessoas a quem este programa trará vantagens e a outras não.
Ver todos os posts sobre o tema eescola: link
Mas o que passa para a opinião pública é que com todos esses meios (QUE NÂO CHEGAM ÀS ESCOLAS!!!!!) o insucesso escolar mais uma vez se deve aos professores que são uns "tipos" que não querem fazer nada...
Esquecem-se de que em todas as profissões há bons e maus trabalhadores...Mas o exemplo ^vem de cima!!!!!!
Os professores, que não sabem fazer nada, gostariam muito que esses cérebros fossem para uma sala nas condições do dia a dia, numa qualquer escola, numa qualquer turma, e nos mostrassem como resolviam as situações ali diante dos nossos olhos!!!!!
Assim ficaríamos sábios e bons profissionais e o insucesso desapareceria das estatísticas da UE!!!!
Bom esclarecimento. Parabéns. Conto citá-lo!
Abraço
Só uma dúvida: estão esclarecidas as questões relacionadas com o volume de tráfego? Há limites? Se há, em caso de excesso quais são os preços?
Deixem lá ...que quanto mais subrir, maior será a queda!!!
Andei a distribuir AMIZADE sincera , vai à minha palhota buscar a parte que te toca .
Beijão grande
Excelente Post Raposa velha!
Muito bem analisado sim senhor...
avelaneiraflorida,
"em todas as profissões há bons e maus trabalhadores": até poderei concordar se excluirmos os nossos políticos. Ah, mas espera, esses não trabalham :)
João,
Apesar de tante propaganda à volta destes portáteis, esses detalhes práticos não estão claros, pelo menos para mim. Suponho que as condições serão as mesmas dos tarifários base que servem aos operadores para lançar a oferta.
Oh Laurentina, estragas-me com mimos :)
Espectadora Atenta, obrigado, creio que será defeito profissional.
Vou AFIXAR ESTE TEU POST na sala de profs da minha escola... anda meio mundo indeciso acerca do portátil e tu esclareces muito bem o "embróglio"!
Gotinha, estás à vontade :)
Isto dos portáteis não passa de uma aplicação simples das teorias de manipulação de massas, uma experiência desenvolvida num país em que a mentalidade do povo está "em construção". Possivelmente os resultados desta investigação neo-liberal, sociológica e tecnológica, serão exportados para países que estão "em construção", quer sejam novos países ou países destruídos pela globalização.
Não se percebe como o nosso País, que está construído há quase um milénio, seja objecto de tais experiências.
Se este teatro dos portáteis se passasse em certos países da antiga europa, os povos antigos, como nós, mas que tiveram o seu 25 de abril 30 ou 50 anos antes dos Portugueses, aceitariam o tal PC por 150 euritos e, depois, não pagariam mais nada. E este teatro não passava na TV, ninguém ligava ao assunto.
Amanhã é segunda-feira e trabalhar é uma coisa terrível num país que alguns entendem estar "em construção".
Mentalidade em construção, ugh? Isso faz-me recordar muitas páginas web, daquelas com um ícone animado a dizer "UNDER CONSTRUCTION" mas que nunca saem desse estado :)
«O portátil em causa (Fujitsu Siemens Amilo Pro V3515), custa actualmente na Fnac 499.00 euros com sensivelmente a mesma configuração (diferenças no software e na quantidade de memória, mas com baixo impacto no preço final). »...
pois, verifiquem melhor os preços porque esse baixo impacto não é tão baixo assim:
este (na Fnac) tem metade da RAM (512 Kb), não tem um processador Core Duo, não tem o MS Office (versão de ensino), (e só isto já vale os 780 - 499 = 281 € de diferença), não tem placa de rede móvel e a oportunidade de ter uma "fraca" mas útil ligação à Internet em qualquer local onde haja rede móvel durante três anos, quando qualquer computador (topo de gama ou básico) estará de certeza obsoleto!
Ah! e sabem! isto não é nada original! O nosso governo não foi pioneiro nesta iniciativa, ela já existe há vários anos nos países com quem gostamos de nos comparar(ou não!).
Mas esta questão da 'iliteracia' informática não se resolve pondo portáteis nas mãos de professores e alunos!
E menos ainda se resolve o insucesso escolar!
Houvesse ousadia dos governantes para investir numa formação eficaz e em materiais didácticos para reinventar práticas educativas, teriam certamente professores receptivos à inovação!