Adriano Correia de Oliveira
Tejo que levas as águas
correndo de par em par
lava a cidade de mágoas
leva as mágoas para o mar
Lava-a de crimes espantos
de roubos, fomes, terrores,
lava a cidade de quantos
do ódio fingem amores
Leva nas águas as grades
de aço e silêncio forjadas
deixa soltar-se a verdade
das bocas amordaçadas
Lava bancos e empresas
dos comedores de dinheiro
que dos salários de tristeza
arrecadam lucro inteiro
Lava palácios, vivendas
casebres, bairros da lata
leva negócios e rendas
que a uns farta e a outros mata
Tejo que levas as águas
correndo de par em par
lava a cidade de mágoas
leva as mágoas para o mar
Lava avenidas de vícios
vielas de amores venais
lava albergues e hospícios
cadeias e hospitais
Afoga empenhos favores
vãs glórias, ocas palmas
leva o poder de uns senhores
que compram corpos e almas
Leva nas águas as grades
de aço e silêncio forjadas
deixa soltar-se a verdade
das bocas amordaçadas
Das camas de amor comprado
desata abraços de lodo
rostos, corpos destroçados
lava-os com sal e iodo
Tejo que levas as águas
correndo de par em par
lava a cidade de mágoas
leva as mágoas para o mar
Canção Com Lágrimas
Intérprete: Adriano Correia de Oliveira
Música: José Niza
Letra: Manuel Alegre
Eu canto para ti um mês de giestas
Um mês de morte e crescimento ó meu amigo
Como um cristal partindo-se plangente
No fundo da memória perturbada
Eu canto para ti um mês onde começa a mágoa
E um coração poisado sobre a tua ausência
Eu canto um mês com lágrimas e sol o grave mês
Em que os mortos amados batem à porta do poema
Porque tu me disseste quem em dera em Lisboa
Quem me dera me Maio depois morreste
Com Lisboa tão longe ó meu irmão tão breve
Que nunca mais acenderás no meu o teu cigarro
Eu canto para ti Lisboa à tua espera
Teu nome escrito com ternura sobre as águas
E o teu retrato em cada rua onde não passas
Trazendo no sorriso a flor do mês de Maio
Porque tu me disseste quem em dera em Maio
Porque te vi morrer eu canto para ti
Lisboa e o sol Lisboa com lágrimas
Lisboa a tua espera ó meu irmão tão breve
Eu canto para ti Lisboa à tua espera...
É sempre agradável recordar a música e as letras destas canções. Tenho pena que também tenha de me recordar do que pensava naquele tempo e das causas porque muito lutámos, e ver que hoje, passados muitos anos estamos prestes a caír no mesmo. O poder não aprende, e abusa sempre que o pessoal afrouxa a pressão.
Cumps
Acrescento ao que o guardião disse: e que tenha também de recordar aqueles que me disseram "quem me dera em Lisboa e depois morreram..."
A voz do Adriano é deliciosa de ouvir. Quanto à mensagem da sua música, não é do meu tempo. Apesar de ter nascido ainda na ditadura, em 68, não posso dizer que me recorde desse tempo. Recordo-me, sim, da manhã de 25 de Abril. Soalheira, pintalgada com alguns farrapos de nuvens.
Atenção, o poema é do Manuel da Fonseca e não do Manuel Alegre e a música é do Adriano Correia de Oliveira
Atenção, rectifico: Na canção Tejo que levas as Águas, o poema é do Manuel da Fonseca e a música e interpretação é do Adriano Correia de Oliveira