Sobre o debate do Orçamento de Estado 2008
Dos ecos que me chegaram do Parlamento Fight Club, retive algumas idiossincrasias:
- um PM que não respondeu às questões concretas sobre o Orçamento;
- uma comunicação social mais interessada num duelo, publicitado por uma das partes, do que na reflexão sobre o que nos espera no próximo ano;
- uma oposição fraca, fonte de soundbytes, em vez de escrutinadora do documento em debate;
- a técnica de guerrilha usada por Sócrates, apresentando de surpresa e em tempo inapropriado medidas a implementar pelo SNS;
- a disciplina de voto imposta e a consequente questão sobre se elegemos deputados ou grupos parlamentares.
Esperava, ingenuamente, sim, que o debate nos poupasse o trabalho de ler e estudar o OE para sabermos coisas concretas como:
- continuará a carga fiscal a aumentar?
- vai o Estado diminuir a despesa porque vai desperdiçar menos ou porque reduzirá a qualidade e quantidade de serviços prestados?
- prevêem-se medidas para que a Justiça finalmente comece a funcionar, procurando acabar com o estado de bandalheira e impunidade em que vivemos?
- continuará o dinheiro a servir para forrar estradas em vez de ser usado para formar pessoas?
- e os poderes local e regional, continuarão a viver sem controlo do maná que é o OE?
Nesta semana apresentou o Governo a forma como tenciona gastar os meus salários de Janeiro até Maio, que é em média quanto cada um de nós contribui em impostos para o Estado. Não fiquei mais elucidado. Apenas constatei novamente que, para os partidos políticos, o Estado não passa dum lugar a ocupar.
Nesta semana, o Parlamento limitou-se a representar o lixo novelesco de cariz latino-americano do OE, com o natural e antecipado enfoque sobre o desempenho dos principais protagonistas, tão pobres quanto o argumento mas outra coisa não seria de esperar.
Outra esperada verdade é o facto de pagarmos mais impostos para que se mantenham as sanguessugas do Estado a champanhe e caviar, enquanto nós, os pagantes cretinos, vemos "o pão nosso de cada dia" fugir-nos na nova especulação dos biocombustíveis.
Mas como falar pode acabar em dentadas na língua e pensar causa dores de cabeça, lá vamos, "cantando e rindo".
abraço
Raposa, pelo que aqui leio tu és uma raposa bastante inteligente e que acompanha de perto o mundo podre da politica por isto fiquei surpreendida quando li : " Não fiquei mais elucidado"
Esperavas mesmo ficar?
Eu sinceramente não esperava. Vi os resumos e foi mais do mesmo...não vou mentir e dizer que assisti a tudo, não não vou, até porque fiquei enervada...sim fico assim quando o Sócrates fala e como muito bem o disseste quando tira coelhos da cartola para desviar a atenção do que realmente deve/devia ser discutido. Mas enfim, é o governo e a oposição que temos e desculpa o palavrão mas estamos Fodidos.
BEijinhos
Raposa Velha:
"a disciplina de voto imposta e a consequente questão sobre se elegemos deputados ou grupos parlamentares."
Sim. Para mim, a questão mais bicuda.
Aboliu-se a monarquia porque o Rei não tinha representatividade. Agora elegem-se deputados que se deixam acarneirar por quem nem requer foi eleito.
.
Belos os dias em que as pessoas confiavam em si próprias. Onde está o povo? É frustrante.
Abraço Raposa
Graça, gostei dessa do "lixo novelesco de cariz latino-americano do OE". Até houve suor e lágrimas.
Alien, ai que me deixas encavacado. Pronto, já limpei a baba :) É como dizes, estamos lixados com F maiúsculo e tudo, como costumo dizer. Mas apeteceu-me dar para o ingénuo ;)
Range-o-dente:
"Aboliu-se a monarquia porque o Rei não tinha representatividade. Agora elegem-se deputados que se deixam acarneirar por quem nem requer foi eleito."
Tiro certeiro!!!
Carreira, ainda não tive ocasião de ler com atenção os textos em causa mas hei-de por aqui reagir.
Moriae, pessoalmente não acredito no Povo. Apesar da vivência em sociedade, o nosso comportamento pauta-se pelo interesse individual, sendo o Povo apenas a emergente mediana desse colectivo.
sim, Raposa. Tb não acredito no povo e isso até podia ser de menor importância se ... o povo ainda acreditasse nele próprio.
Sou adepta da liberdade e da não massificação, libertária em essência.
Obrigada e abraço.
E depois querem que paguemos os impostos voluntariamente!
João, aqui há uns tempos recebi algo de uma lista espanhola em que se apelava massivamente ao não pagamento de impostos. A mim, agradou-me desde logo a ideia. Achei-a justa e eventualmente mais eficaz do que as greves. No entanto, da forma como o sistema está arquitectado, poucos de nós têm essa possibilidade (só quem não tem bens em seu nome é que se safaria e como se sabe, os portugueses não têm essa tradição. empenham-se todos para 'ter' e no fundo só perdem liberdade), não é? A seguir tiram-nos o pouco que temos e esses bens são logo tomados ou vendidos ao desbarato. Os tubarões humanos é que se safam. Sim ... porque aqueles que andam nas águas estão em vias de extinção tal é o consumismo e poluição dos humanos.
Não estavas a apelar a tal mas aproveitei a deixa. sinto-me mais e mais revoltada a cada dia que passa.
Obrigada Raposa e abraço ao amigo João
Mais uma pergunta : Continuarão os ricos a ser mais ricos e os pobres a ser mais pobres?