a política na vertente de cartaz de campanha

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Ministério das Estatísitcas Educativas

Volta e meia, cá sai no Fliscorno uma ou outra referência ao interessante blog O Jumento. Calha esta ser de desacordo. Queixa-se o respectivo autor de que na comunicação social espanhola não há, por exemplo, «uma única notícia sobre as ASAEs dessas paragens, ou associações de professores de matemática ou de química a pronunciarem-se sobre exames». Ocorre-me que isso possa ser por lá não existirem motivos para essas manchetes... Mas adiante. Já antes tinha «O Jumento» repetidamente lançado a questão no tom de quem se admira por a Associação de Professores de Matemática ter criticado o reduzido grau de dificuldade do exame nacional de 9.º ano usando o argumento «o mais engraçado destas críticas é que esquecem os autores do exame, os próprios professores de matemática». Uma abordagem fácil de ser aceite por quem estiver menos informado, o que não é garantidamente o caso do autor do blog. Como bem sabemos, é o GAVE que faz as provas de exame. Este gabinete faz parte da estrutura do Ministério da Educação e os seus dirigentes são escolhidos por nomeação política. São alguns professores, convidados pelo GAVE e sob a tutela deste, que de facto que fazem os exames. Mas a responsabilidade destes exames é do GAVE, ou seja, do próprio Ministério da Educação. A constatação deste facto é a própria atitude da ministra em desvalorizar as críticas, apelidando de «pessimistas de serviço» os respectivos autores, sem no entanto atribuir a autoria das provas aos «professores». Faze-lo seria demagógico e desonesto. «Alguns» professores e, para mais, escolhidos pelo GAVE, não são «os» professores. Elementar, não é?

As posições expressas pela Associação de Professores de Matemática e pela Sociedade Portuguesa de Química quanto à facilidade das provas, foram ainda complementas com dois outros aspectos. O positivo foi a inexistência de erros nas provas. Havendo um gabinete do ME específico para este assunto nem outra coisa seria de esperar dum serviço competente. O segundo ponto foi sobre o maior tempo disponível para realizar a prova. Todos os que já tenham realizado exames sabem muito bem que o tempo é um factor crítico numa prova e que é também factor de avaliação. É indiscutível que aumentar o tempo da prova constitui uma forma de promover melhores resultados. Torna, também, inválidas as comparações de resultados com anos anteriores.

Apesar das posições destas duas associações, a Associação Portuguesa de Matemática e o departamento de Educação da Sociedade Portuguesa de Física já vieram dizer que as provas tem grau de dificuldade adequado, validando assim as teses do ME. Como não tenho competência para me pronunciar, fico-me pelo que dizem as partes e pelo que leio por . Mas como não acredito em milagres, tenho dificuldade em perceber como é que do ano passado para este se diminui a taxa de reprovação em metade. Foram os alunos que progrediram assim tanto dum ano para o outro ou foi o nível de exigência que baixou? Como diz o editorial do Público, cada qual que tire as suas conclusões.

Mas devemos ainda perguntar se constitui motivo para preocupação serem as provas de exame fáceis. Afinal de contas, fica alguém a perder? Exceptuando os alunos que de facto se esforçaram para se preparem para as provas constatarem que a balda compensa e de se contribuir para a eterna fraca dos portugueses, nada há a lamentar. Acresce ainda que as famosas estatísticas da OCDE, construídas com base nas informações disponibilizadas pelas entidades oficiais de cada país, sairão bem melhores. O facto é que para o ano que vem, ano da publicação trianual «Programa Internacional para a Avaliação de Alunos» da OCDE, quando a curta memória da opinião pública já tiver esquecido este episódio, lá estarão os habituais comentadores e políticos a cantar louvores às políticas seguidas pelo ME. Alguém se vai lembrar que os exames foram, eventualmente, mais fáceis e que tiveram mais tempo para a sua resolução?

Se há uns milhares de professores, já os pais são milhões e os alunos nem sequer votam. Um governo tem que ter prioridades e ter eleitores felizes está na ordem do dia.


3 comments :

  1. Alien David Sousa disse...
     

    Do teu texto apenas vou sublinhar isto:
    Não há milagres. E sim!, o nível de exigência baixou, está a baixar de uma forma assustadora. Qualquer dia para se passar num exama basta saber assinar o nome, como dizia o outro senhor.

    Mencionaste algo que para mim faz todo o sentido. Colocando de lado a realidade de os exames serem mais fáceis - porque os alunos não estão mais inteligentes -, o factor tempo tem um GRANDE PESO no meio disto tudo.
    Se colocarmos este cenário, exames mais fáceis, sem alongar o tempo para realizar os mesmos, já daria merda. Acredito que muitos alunos já teriam mais dificuldade. O tempo é sim um factor importante, sempre o foi, é importante saber com que rapidez um aluno consegue responder a determindas questões. Qual será o futuro? Um dia inteiro para responder a um exame que um miudo que 7 anos consegue em meia hora?

    Fico por aqui, poderia dizer mais , mas tu já disseste muito e muito bem.

    Beijinhos

  2. Anónimo disse...
     

    Claro que os pequenos só querem trepar! E isso é muito chato - ocupa um tempo de antena que é roubado aos grandes!

    Infelizmente, neste país, para tolo, tolo e meio...
    ...ou não falassem a mesma língua: "(...) como desta vez não houveram erros (...)

    Estás bom?

    :)

    Bjs

  3. Maria Lisboa disse...
     

    PS:

    Claro que falo de jumentos...
    ... e de vozes que se ficam pelo inferno...

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