No supermercado duas pessoas tocam-se acidentalmente. Um movimento distraído faz encostar a mão de uma ao ombro da outra. Mil desculpas, perdão e talvez mais uma ou outra palavra de delicadeza. Que cordialidade extrema vestem os portugueses. Que educação. Basta no entanto umas gotas de chuva para que a capa de cortesia se dissolva na água que acaba na sarjeta. No bairro onde vivo, um satélite do IC19, há permanentes engarrafamentos que pioram exponencialmente em dias de chuva como o de hoje. A maior parte das pessoas engrossa uma fila para sair dali mas a tentação está mesmo à mão de semear. Se se virar para as traseiras dum prédio, volta-se a entrar uns metros mais à frente, sem violar regra alguma de trânsito mas dando o golpe descaradamente, à vista de todos e, inacreditavelmente, com a voluntariosa colaboração dos que já esperavam, abrindo-lhes espaço. Esgota-se toda a polidez de quem salta perante um encosto com a oportunidade do chico-espertismo. Talvez esta dualidade esquizofrénica explique porque são tolerados aqueles que dão o salto à Vara na política. Há a indignação de terem sido eles mas sobrepõem-se a compreensão de podermos ser nós.
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