Ministério do Poder
Do ponto de vista do conhecimento, claro que um ministério da educação não faz sentido. Que legitimidade tem um estado para determinar o que é o conhecimento oficial? Compreendo e aceito que existam lotes de conhecimento que se possam considerar basilares. Mas a actual acção do estado vai muito mais além, determinando ao ínfimo detalhe a vida escolar dos alunos. O estado não tem que definir conteúdos programáticos. Basta que certifique, quem assim o desejar, que forma aprendidos.
Mas a questão do estado na educação não é a do saber mas sim a do poder. Uma teia burocrática emana do ministério e com ela uma rede de pessoas mantém-se colada ao seu poder. Tanto se tem falado na autonomia das escolas mas depois vamos ver os pormenores e lá está o ME a tudo determinar.
Acabar com certos ministérios, como o da educação ou o da economia, seria aceitar que as pessoas são capazes de se organizarem sem a existência dum estado-paizinho. Seria aceitar que as escolas são capazes de ensinar sem a supervisão do ME e que as empresas sabem fazer negócios sem que o estado as tutele.
No entanto, sem estes ministérios fica o estado menos forte, logo serão menos poderosas as pessoas que o comandam em determinado momento. Ministério da Educação? Não, Ministério do Poder.
Divagação decorrente do excelente texto N medidas para melhorar a educação (work in progress).
Reflectindo um pouco sobre a extinção do ME, vê-se que algo aparentemente utópico se transforma em bastante verosímil. A certificação dos cursos superiores já é feita pelo MESup, a supervisão pedagógica e científica do ensino e dos professores podia ser feita do mesmo modo pela Inspecção Geral de Educação, mas com independência do poder político, com regras de recrutamento e estatuto semelhantes à magistratura, e a as linhas gerais dos currículos escolares seriam concretizadas também por órgãos independentes, recrutados entre a comunidade científica.
As restantes competências estariam fixadas na lei, ao abrigo do livre arbítrio de burocratas, ou seriam atribuídas às escolas.