Delírio hipócrita
Não há volta a dar-lhe. As eleições europeias foram mais uma vez disputadas num registo nacional, como julgamento político do Governo em funções. Como partido do Governo, o PS perdeu e as oposições ganharam. Não é provável que as posições dos partidos quanto à Europa e às políticas europeias tenham influenciado a decisão de voto de muitos eleitores.
Estas foram eleições europeias com a Europa ausente. Não que não tivesse havido por parte de algumas candidaturas - incluindo, à cabeça, a do PS - um esforço honesto de colocar na agenda da campanha eleitoral a crescente importância da UE, o relevo destas eleições europeias em especial (desde logo, por causa dos poderes acrescidos que o Tratado de Lisboa confere ao Parlamento Europeu), bem como ideias e propostas para as principais políticas europeias, desde a política económica à política de defesa. De nada valeu, porém. Desses esforços só algum eco chegava aos eleitores, e quase sempre de forma distorcida (como sucedeu com a questão do chamado "imposto europeu"), por efeito da filtragem de uma comunicação social mais interessada sobretudo nos assuntos domésticos ou na especulação política do que nos temas europeus.
Mas em que mundo viste este homem? Então andou durante uma semana a bramar por causa da agressão do 1º de Maio e outra semana a falar da roubalheira do BPN. Quer fazer-nos crer que não sabia que eram estes os assuntos que a comunicação social focaria? Quer tomar-nos por ingénuos procurando convencer-nos que não escolheu premeditadamente estes temas para que fossem sublinhados pela comunicação social? É por hipocrisias destas que eu gradualmente vejo a minha crença nos políticos diluir-se com o passar dos anos. É possível que o mesmo se passe com aqueles que optam por não ir votar, mostrando a sua indiferença por esses que "são todos iguais".
Como dizia o outro: - "É preciso ter lata!".
(Refiro-me ao Vital, claro!)