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«Comprar os jornais»



PRIMEIRO PLANO
Comprar os jornais
por Ricardo Reis, Publicado em 24 de Outubro de 2009

Há países onde já há estudos sobre a manipulação do governo nos jornais. Em Portugal continuamos a debitar opiniões avulsas...

Durante as campanhas eleitorais falou-se muito na suposta manipulação da comunicação social por parte do PS. As acusações de que os media são enviesados e manipulados pelo governo são uma constante em todas as democracias do mundo. No entanto, ao contrário de Portugal, noutros países esta discussão já foi para além da teoria da conspiração.
Por exemplo, dois economistas argentinos, Di Tella e Franceschelli, fizeram um cálculo simples para detectar o controlo dos media pelo governo. Mediram o espaço da primeira página dos quatro principais jornais argentinos que é dedicado a expor escândalos de corrupção entre 1998 e 2007. Depois compilaram os dados públicos sobre os destinatários dos gastos em publicidade do Estado. Por fim, simplesmente olharam para a correlação entre estas duas variáveis. O resultado salta à vista: por cada 230 mil euros que o governo dá em publicidade a um jornal, esse jornal tem em média menos meia página por mês dedicada à corrupção.
De seguida, os economistas olharam para o tratamento de cada caso de corrupção por cada jornal. Mostraram que quanto mais publicidade estatal mais casos em que o jornal não noticia o escândalo, menor a probabilidade de o jornal ser o primeiro a noticiá-lo e menor o número de artigos que lhe são dedicados. Por fim, mostraram que estas opções editoriais não correspondem aos desejos dos leitores. Por cada página a menos por mês dedicada a expor escândalos de corrupção, cada jornal tem menos 1,48 milhões de circulação esse mês. Os estudos que se seguiram mostraram que os jornais que declaram frequentemente o seu apoio a candidatos de esquerda têm mais notícias sobre o desemprego se o presidente é de direita do que se é de esquerda e vice-versa. Por fim, outro estudo recente identificou as expressões não usadas pelos políticos de esquerda que os de direita mais usam nos seus discursos. Por exemplo, a direita diz "a guerra ao terror" e "o imposto sobre a morte" enquanto a esquerda diz "a guerra no Iraque" e "o imposto sucessório". Os autores mostram que os jornais se dividem claramente em matéria de uso de vocabulário de esquerda ou de direita.
É óptimo que se discuta a "asfixia democrática" em Portugal. Mas, por favor, com tanta energia e tempo gastos em debates e opiniões avulsas, não há ninguém no país que queira investir antes umas semanas a recolher alguns factos a sério sobre este assunto tão importante?

Professor de Economia, Universidade de Columbia 

Artigo no i



Comentário: agora liguem este artigo ao facto de o Público ser um jornal onde o estado ou empresas participadas não colocarem um cêntimo em publicidade. Um comentador no 31 da Armada diz que isto é totalmente falso. Talvez haja dois cêntimos de publicidade... Basta comprar o jornal e verificar que os omnipresentes anúncios da energia solar e das novas oportunidades, só para apontar dois casos que encheram outdoors e jornais pelo  país fora, estão fora deste diário.