Quando se poderia pensar que a TLEBS tinha sido enterrada juntamente com a anterior equipa do ME, eis que o
zombie se ergue da tumba para nos perseguir de novo, numa prova acabada de que as máquinas ministeriais estão muito para além das cabeças da hidra. Foi o que fiquei hoje a saber por António Jacinto Pascoal numa crónica do
Público.
Dicionário Terminológico - voltar à vaca fria
António Jacinto Pascoal - 2009-11-08
Agora, que as águas estão mais calmas, no que concerne a questões de linguística, surge-nos de chofre o Novo Programa de Português (NPP). Poderíamos pensar que estaríamos descansados em relação à arqui-designada TLEBS (Terminologia Linguística para o Ensino Básico e Secundário), porém, para quem não sabe, o NPP traz à colação o Dicionário Terminológico, nova designação para a tal terminologia linguística.
Se concluirmos (o que pode ser refutável) que o NPP em pouco acrescenta ou altera os Programas de Língua Portuguesa dos três ciclos, ficamos com a impressão - quiçá errada - de que o novo programa está ao serviço do Dicionário Terminológico (convém referir que a versão on-line, do Ministério da Educação, se encontra em http://www.dgidc.min-edu.pt/linguaportuguesa/Paginas/DT.aspx e que existe já uma edição em papel, não oficial e distinta da organização da versão do ME, editada pela Plátano Editora, de Isabel Casanova, intitulada Dicionário Terminológico, compreender a TLEBS). Se assim for, há razão para nos alertarmos e até preocuparmos. Seria, a ser verdade, uma forma pouco deontológica de impor uma verdade que, até ver, carece de consenso. Até agora, não está provado que a nova gramática seja um benefício pedagógico para os alunos: a complexidade terminológica e a distinção quase subtil de conceitos gramaticais surgem como um impedimento a uma assimilação de conceitos que, na gramática tradicional, não se poriam. Nessa gramática, não só não se esmiuçavam certas noções, como havia uma margem, ao critério dos professores (ainda que com certa base científica), para a ressalva de incongruências possíveis ou zonas de ambiguidade. Com a nova terminologia, toda a linguagem metalinguística se torna complexa, surgindo novas zonas de ambiguidade mais delicadas ou que, ao que parece, implicam a sua dose de relativismo.
Saliente-se que foram vários os protestos contra a TLEBS, surgidos essencialmente em 2006. Desde Eduardo Prado Coelho a Saramago, passando por Maria Alzira Seixo ou Manuel Gusmão (que escreveu o excelente artigo "Uma triste Vocação para o Desastre", sobre essa matéria - Expresso, 27 de Janeiro de 2007), várias foram as vozes críticas e discordantes. Passou-se a ideia de que havia, para além de critérios académicos, interesses económicos e particulares associados à implantação dessa nova terminologia.
Recordo aqui algumas palavras da cronista Helena Matos, do jornal PÚBLICO: "O monstro chama-se TLEBS. Para memória futura convém defini-lo desde já como o maior contributo dado por Portugal para a iliteracia das gerações futuras (11 de Novembro de 2006)" e "Podemos discutir interminavelmente as vantagens e desvantagens da nova terminologia. Pessoalmente considero-a confusa, desadequada e prolixa. Pode objectar-se que a terminologia substituída pela TLEBS padecia dos mesmos defeitos. Em alguns casos sim, mas em grau muitíssimo menor (18 de Novembro de 2006)". Num ponto - até porque a cronista não pode provar certas afirmações - Helena Matos está certíssima: a TLEBS (agora Dicionário Terminológico) é prolixa. Implica imensas noções para explicitar uma, tende a favorecer a minudência, é sumptuosa nas evidências. Mas isto são sinais dos tempos, num tempo em que os professores são triturados nas pilhas de papéis que também eles criaram, ou em que se concebem reuniões por matérias vácuas.
Desfolhando o Dicionário Terminológico de Isabel Casanova ao acaso, paro na página 50, onde encontro a entrada "Assassínio linguístico". Diz a referência: "Diz-se da morte linguística causada por uma língua politicamente dominante". Ora, não será mesmo disto que se fala, quando se fala de nova terminologia? De uma espécie de Novi-língua de Orwell? Estaremos assim tão perto daquele 1984? Professor
Gostaria de manifestar o meu profundo descontentamento face às "utilíssimas" acções de formação sobre a implementação dos novos programas de Língua Portuguesa que proliferam de norte a sul do país.São aflitivamente surrealistas. Leituras de powerpoints sobre teorias vazias que não servem para nada, impraticáveis, ambíguas, confusas, intragáveis. Ninguém percebe nada de dada. O grau de exigência quanto à realização de trabalhos é assustador: reflexões, sínteses, planificações, glossários do abstracto, fóruns sobre teorias que ninguém entende. Os trabalhos são enviados e publicados no moodle e muita gente não domina o moodle. Nada é explicado. Somos nós que estamos a formar ( sem saber como) as formadoras, porque nós é que fazemos tudo sem apoio, sem esclarecimentos. Toda este este trabalho inútil está a roubar o tempo que deveríamos dedicar aos nossos alunos e à planificação das nossas aulas. Este pesadelo vai ter a duração de um ano. E eu pergunto: quem frequenta estas acções acha que está em condições de formar os seus colegas de grupo? Mas em que país estamos? Quando deixam de humilhar os professores?
É deveras preocupante.
Já li exemplos de frases analisadas segundo a TLEBS e concluo que vamos ficar todos analfabetos, aliás como já o disse a cronista Helena Matos, do jornal PÚBLICO: "O monstro chama-se TLEBS. Para memória futura convém defini-lo desde já como o maior contributo dado por Portugal para a iliteracia das gerações futuras (11 de Novembro de 2006)"
Bom... também é sabido que um povo inculto e iletrado é mais fácil de domar.
Não sei se poderei concordar com o "Anónimo" acima quando diz "ninguém percebe nada de nada". Eu acho que toda a gente que frequenta as acções percebe tudo de tudo. Problema grande é mesmo a duração, 120 horas. Até ao final do ano lectivo. Objectivo? Soterrar os professores em papéis para não lhes dar tempo de fazerem o trabalho com os alunos, contribuindo assim, involuntariamente, para a degradação das aprendizagens e consequente má imagem da escola pública. Uma estratégia da senhora ex-ministra da Educação.
É preciso considerar os professores muito burros para os obrigar a "estudar" um programa(que é praticamente "filho" do anterior)durante 120 horas.
Este número e horas é hoje suficente para obter uma pós graduação.
E parece que só querem atribuir 2 créditos...