Gasolina, Gasóleo e Brent: preços 2005 - Jul. 2010 (II)
Este é o segundo texto de uma série de três com uma análise da evolução dos preços dos combustíveis entre 2005 e Julho de 2010:
- Parte I - apresentação dos dados
- Parte II - o presente texto: Análise dos dados
- Parte III - Divagações sobre as "infames gasolineiras"
Parte II - Análise dos dados
Na primeira parte desta série, vários gráficos foram apresentados, mostrando a evolução dos preços do brent, do gasóleo, da gasolina e do câmbio dólar/euro:
Os primeiros quatro gráficos têm "apenas" interesse documental, sendo a presente análise baseada no último dos gráficos, aqui reproduzido:
Este gráfico mostra a evolução dos preços de dois combustíveis (gasolina de 95 octanas e gasóleo rodoviário) e do preço do brent (ver no post anterior detalhes sobre a interpretação deste gráfico).
Como se pode constatar, as curvas azul e púrpura (os combustíveis) não seguem na perfeição a curva amarela (custo da matéria prima). Sumariamente e tomando como exemplo as linhas brent-gasóleo (linha amarela e linha púrpura), quando a distância entre estas duas linhas diminui significa que passamos a pagar menos pelo gasóleo do que pagaríamos se o aumento fosse proporcional à variação do preço do brent.
Nitidamente, há situações em que o brent desce muito mais do que os combustíveis (ou seja, ficamos a pagar mais do que seria de esperar) mas também há situações em que o preço dos combustíveis sobe mais devagar do que o preço do brent.
A nossa carteira diz-nos repetidamente que nos estão a ir ao bolso, mas terá esta percepção sustentação na realidade? Para responder a esta questão teremos que pensar numa espécie de sistema de créditos.
A imagem ao lado mostra duas grandezas, a A (azul escuro) e a B (roxo). Também é mostrado o valor que B tomaria (azul claro) se B variasse em cada ponto de forma proporcional à variação de A (Bteórico). O saldo Bteórico-B corresponde ao ganho (valores positivos) ou perda (valores negativos) em cada ponto. Somando estes saldos, no fim percebe-se se B aumentou promocionalmente mais do que A (saldo final negativo) ou não (saldo final positivo). Quem quiser fazer experiências com este exemplo pode usar a folha de cálculo que lhe deu origem descarregando-a daqui.
Aplicando esta metodologia ao estudo em causa (A corresponde ao brent e o B é a gasolina ou o gasóleo), resulta uma folha de cálculo como a mostrada no extracto seguinte:
Os saldos finais das variações dos preços da gasolina e do gasóleo são:
- Saldo final das variações da gasolina sem chumbo 95: 0.0785276. Este valor ligeiramente positivo significa que o preço da gasolina acompanhou de perto o preço do brent mas houve mais períodos em que a gasolina subiu menos do que subiria se acompanhasse exactamente as variações do brent (daí o valor positivo deste saldo).
- Saldo final das variações do gasóleo: 0.092485. Este valor ligeiramente positivo significa que o preço do gasóleo acompanhou de perto o preço do brent mas houve mais períodos em que o gasóleo subiu menos do que subiria se acompanhasse exactamente as variações do brent (daí o valor positivo deste saldo). Sendo este saldo superior ao equivalente para a gasolina sem chumbo 95 conclui-se que os consumidores de gasóleo têm tido preços mais simpáticos do que os consumidores de gasolina.
Olhando para o gráfico aqui em discussão (segunda imagem do post) podemos então afirmar que os períodos em que os combustíveis estão mais caros são anulados por outros períodos em que os combustíveis estão mais baratos, com ligeira vantagem para o consumidor.
Nestas análises há outros factores a ter em conta e que levam também a que as curvas do PVP e do brent não variem exactamente (mesmo atendendo ao desfasamento entre as variações no brent e nos PVP). Exemplo disso são os custos fixos (salários, infra-estruturas, etc.) que levam a que as curvas dos PVP sejam mais suaves do que as do brent. Estes e outros factores são detalhados de forma muito clara neste post: Factores a considerar na comparação de preços.
Terminadas as duas primeiras partes desta sequência, de cunho exclusivamente factual, o próximo e último texto será de cariz opinativo, numa dissertação sobre as "infames gasolineiras".
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