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Os combustíveis low-cost e a estratégia de desviar a atenção


Da saída da refinaria até à bomba, os impostos fazem os preços da gasolina e do gasóleo aumentarem, respectivamente, 87% e 135%
Alguns deputados do PS estão muito preocupados com a concorrência no que toca a questão dos combustíveis. Em 2008 a preocupação foi de tal forma forte que até acabou por haver um extenso estudo por parte da Autoridade da Concorrência para se saber se as dúvidas repetidamente expressas pelo governo eram ou não fundamentadas. Suspeitava-se então que os preços dos combustíveis estavam inflacionados pela situação de monopólio que existe na refinação de combustíveis. Meses de investigações levaram a uma conclusão que se antecipava: os preços dos combustíveis, antes dos impostos, seguem o que se passa nos outros países.
Agora que estamos numa nova crise de preços, eis que, outra vez, as hostes socialistas se incomodam com os preços que andamos a pagar. Desta vez a ira não vai para os preços à saída da refinaria mas sim para o facto de não haver combustíveis low-cost em todas as esquinas. Bem, pode-se sempre fazer uma lei para isso. Para quem já não não tem mercado a funcionar sem o aval do governo, mais uma já pouco importa.
Há nestes dois casos uma linha estratégica comum: desviar a atenção da real causa de termos combustíveis a elevados preços. Olhe-se para Espanha, por exemplo, já que agora é moda. Combustíveis muito mais baratos do que em Portugal, como bem o constatam todos os que vivem a alguns quilómetros da fronteira. Será que têm os espanhóis poços de petróleo escondidos do resto do mundo? Não. Será que compram os combustíveis em locais diferentes dos portugueses? Não. Será que os preços dos combustíveis espanhóis são muito mais baratos à saída das refinarias do que em Portugal? Não. Há no entanto uma enorme diferença: o imposto sobre produtos petrolíferos e o IVA é muito mais baixo em Espanha.
Para tornar a sua argumentação mais incisiva, diz Jorge Seguro Sanches que chega a haver uma diferença de 20 cêntimos por litro entre os combustíveis low-cost e os topo de gama. Uma comparação falaciosa que não olha para o combustível mais barato que existe no posto de abastecimento e já disponível a todos queiram. Claro que aí a diferença de preços nem chagaria a metade do valor apresentado(ver tabela em baixo). Mas adiante. Afinal, o que procuram estes deputados do PS ao pretenderem que existam combustíveis low-cost por todo o país? Se fosse o preço a sua preocupação, estariam a explicar porque é não temos o gasóleo a 71 cêntimos e a gasolina a 64 cêntimos, como se pode ver a seguir.
Preços dos combustíveis a 24 Janeiro 2011
Fonte dos dados: DGEE e maisgasolina.com A título de curiosidade, PVP=(PST+ISP)*(1+IVA), onde IVA=0,23
Com estas cargas fiscais sobre os combustíveis compreende-se que estes deputados pretendam apontar um novo bode expiatório, a ausência de combustíveis low-cost em todos os postos, que possa ser facilmente transformado numa “causa” do Facebook ou numa campanha nos blogs. Que depois segue para os jornais e a seguir para os telejornais. E enquanto se chamam nomes às gasolineiras, não vão os eleitores reparando que da saída da refinaria até à bomba, os impostos fazem os preços da gasolina e do gasóleo aumentarem, respectivamente, 87% e 135%.


Leitura adicional: comparação de preços e factores para o actual elevado preço de venda ao público (PVP)
Nota: para que conste, os deputados que estão a apontar esta estratégia de spin são Jorge Seguro Sanches (autor) e, segundo o Público, «é apoiado por outros parlamentares, entre os quais se contam três membros da direcção - Mota Andrade, Duarte Cordeiro e Jorge Strecht - e nomes como Marcos Sá, Miguel Laranjeiro, João Galamba e Ricardo Gonçalves».