a política na vertente de cartaz de campanha

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Os serviços de "inteligência"

Em

http://semanal.expresso.clix.pt/1caderno/opiniao.asp?edition=1767&articleid=ES231638

Henrique Monteiro, director do Expresso, brinda-nos no seu editorial de 2006-09-09 com esta pérola:
«O único combate eficaz ao terrorismo é, a curto prazo, a sua prevenção. Ora a prevenção, trocado por miúdos, significa inteligência, serviços secretos. E serviços secretos, é outra forma de dizer segredo, métodos pouco claros, opacidade, falta de controlo democrático.»
Gostaria de realçar que a "inteligência" a que o Sr. Henrique Monteiro se refere não é certamente aquela que lhe faz falta (e afinal de contas também a todos nós) nem muito menos a tradução de "intelligence". É que "intelligence services" traduz-se por espionagem. Ao contrário do que alguns bazaroucos por vezes escrevem e dizem.

Sobre a forma de acabar com o terrorismo, creio que este toma as dimensões que toma devido à divulgação que lhe é dada. Não deixaria de ser brutal se uma, dezenas, centenas, milhares ou quantas pessoas morressem devido a um acto de terrorismo. Mas se o acto não se espalhasse pelas televisões, rádios e imprensa como fogo em cima de pólvora, os autores desse atentado nunca conseguiriam atingir o seu principal objectivo: deixar a restante população em pânico para assim conseguir impor a sua vontade pelo medo.


Constatando que um dos efeitos laterais do terrorismo tem sido a redução da liberdade individual, não deixa de ser irónico que a liberdade de expressão, tão querida à comunicação social, seja ela própria o seu carrasco. É esta realidade de livremente relatar actos hediondos, quantas vezes até com insistência e detalhe muito superiores à necessidade de informar, que funciona como autofalante de seres cuja voz de outra forma não saíria dos seus próprios escombros.

E, agora, eis uma daquelas afirmações que dá direito a pares de estalos com diversas proveniências: se o indivíduo tem que ver a sua liberdade diminuída em consequência das medidas anti-terroristas, porque não há-de o mesmo suceder com a comunicação social, quando esta nem sequer é um ser humano? É verdade que sem o peso da censura pública certos grupos sentir-se-iam livres para fazerem o que bem entendessem. Mas também não podemos cair no outro extremo, o qual permite a outros grupos ganharem o medo público fazendo o que bem entenderem.

Como um ecossistema, também a sociedade precisa de equilíbrios. A comunicação social precisa de auto-conter a forma predadora como se alimenta das desgraças.