a política na vertente de cartaz de campanha

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25 de Abril


Não queria deixar passar o dia sem uma referência 33º aniversário do dia da revolução.

Tinha 6 anos e estava uma manhã primaveril fantástica em toda a aldeia. Eram 10 da manhã e o meu pai e eu íamos a sair de casa para sulfatarmos uma vinha. O nosso vizinho de frente, com quem não falávamos fazia anos, cruzou-se connosco e, surpreendentemente, dirigiu-nos a palavra:

- Então oh vizinho, está a haver uma revolução, sabia?

O meu pai, homem da terra e mais preocupado com a abundância de água para as searas do que com golpes de estado, nem respondeu. Continuámos o passo apressado mas eu estava curioso:

- Oh pai, o que é que aconteceu?
- Xiu, cala-te. Isso não interessa para nada.

A forma receosa como ele me respondera calou-me realmente e só anos depois é que soube o que era uma revolução.

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Muito se tem dito sobre estes anos em que passámos a viver em democracia. O Jumento dissertou duma forma clarividente sobre o tema das heranças do 25 de Abril, colocando em palavras alguns pensamentos dispersos que por mim se cruzaram. Destaco, em particular, o facto de os portugueses ainda olharem para o Estado como o pai que por eles olha. Mas o Estado somos nós, os políticos apenas tomam conta dele por lhes pagarmos para o fazerem. Enquanto este pensamento não se instalar na mentalidade dos portugueses, nunca se exigirá que os políticos sejam responsáveis e responsabilizados pelas suas acções. Até lá, continuaremos a ver a classe política zelar mais pelos seus interesses do que pelos do país.

Para não me ficar apenas com abstracções, deixo um exemplo concreto. Em 2002, um membro do governo alemão foi notícia porque se tornou público que usara as milhas acumuladas em voos de serviço para uma viagem particular com a sua família. A razão do escândalo era o entender da população que ele estaria a ter um benefício privado à custa dum cargo público e que esse benefício não fazia parte das regalias que lhe estavam atribuídas. Ele admitiu que assim era e demitiu-se do cargo. Um exagero? Talvez, segundo os nossos padrões em que gestores públicos atribuem a si próprios prémios de desempenho, em que autarcas com suspeitos de corrupção são eleitos e, além disso, se mantém nos cargos quando passam a arguidos, em que os gestores dos comboios, água, luz, etc. são cargos de nomeação política, em que .... e a lista continua. Um Exagero? Uma questão de princípio, diria eu.

A transformação que ainda falta acontecer é a classe política deixar de encarar o Estado como o seu porquinho de mealheiro e a população em geral exigir que esse comportamento termine.

PS: para que não restem dúvidas e porque tem andado no ar um certo clima saudosista, estamos inquestionavelmente melhor do que antes do 25 Abril. Por exemplo, lembro-me perfeitamente de partilharmos uma sardinha para cada duas pessoas na minha família.


4 comments :

  1. José Lopes disse...
     

    Boa tarde
    Estamos melhor de vida mas estamos politicamente quase na mesma. Antigamente conhecíamos os caciques todos pelos nomes, hoje há tantos a comer da gamela que nem sabemos quantos são. Se eles fizessem só metade do que prometem, quando estão na oposição, estávamos nós bem!
    Tchau

  2. Fliscorno disse...
     

    guardião: se calhar é altura de se fazer um blog do quem é quem a comer do tacho.

  3. Teresa disse...
     

    Vivemos indiscutivelmente melhor. A prova disso é o facto de estarmos a ter esta conversa, sem temer pela nossa liberdade!

  4. Bea disse...
     

    Olá...
    ia convidálo para este desafio, mas afinal já está feito. Interessante! Como o tempo passa.
    Fique bem.

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