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Globalização e flexigurança

Como é que uma empresa se torna competitiva? Não havendo fórmulas mágicas, as possíveis hipóteses passam por um ou mais destes caminhos:
  1. a empresa produz o mesmo que as outras a menor preço;
  2. a empresa produz o que nenhuma outra produz;
  3. a empresa vende onde as outras não conseguem ou podem vender;
  4. a empresa paga menos impostos do que a concorrência.
E como é que se chega a estes resultados? Vejamos cada um destes itens.

1. A empresa produz o mesmo que as outras a menor preço:
Existe uma enormidade de factores que conduzem a este resultado. Alguns são:
Vantagem competitiva
Forma de a atingirExemplo
a empresa consegue comprar matérias primas a menor preçocapacidade negocial da empresa

a empresa dispõe de técnicas de produção mais eficazes do que a concorrência
investigação; compra de tecnologia; formação dos colaboradores (chefias incluídas)
indústria dos moldes
a empresa tem menores custos salariais
salários mais baixos do que a concorrência;
têxteis
a empresa tem infraestruturas públicas à sua disposiçãoplaneamento e construção de infraestruturas públicas
redes viárias, ferroviárias, portuárias e aéreas

2. A empresa produz o que nenhuma outra produz:
Vantagem competitiva
Forma de a atingirExemplo
exclusividade na produção de determinado bem ou serviço
contractos de exclusividade com a entidade compradora, como por exemplo com o Estado
produção de material militar
produto patenteado
investigação
produtos farmacêuticos
tecnologia não disponível às outras empresas
investigaçãoaviação e aeroespacial

3. A empresa vende onde as outras não conseguem ou podem vender:
Vantagem competitiva
Forma de a atingir
Produtos adaptados ao mercado alvo
Estudo do mercado alvo
Interdição à importação de bens produzidos em condições precárias
Identificação das empresas sem ética social e/ou ambiental

4. A empresa paga menos impostos do que a concorrência:
Vantagem competitiva
Forma de a atingirExemplo
Energia mais barata
Menos impostos sobre os combustíveis
Menor ISP; menos impostos sobre a electricidade
Menor carga fiscal
Maior eficácia do Estado
O Estado mostra-se capaz de funcionar com menos dinheiro

Não tenho formação em economia mas isso não me impede de ter uma visão empírica sobre o assunto, como acabei de fazer. A leitura que faço é que as questões laborais relacionadas com o empregado/trabalhador/colaborador, conforme o jargão que se queira usar, representam apenas uma pequena parte no puzzle da competitividade. Aliás isso nem surpreende, pois algumas das mais competitivas empresas são também as que pagam melhor. Por isso, não tenho problemas de consciência em afirmar que Victor Constâncio, ao defender a necessidade de flexibilizar a relação laboral para aumentar a competitividade, é desonesto, mal intencionado e não está mais do que a fazer um favor ao seu querido PS, fornecendo "argumentos" para futuras políticas.

E o mesmo se aplica a António Perez Metello, a quem hoje ouvi na Antena 1 papaguear a mesma linha de argumentação do sr. Constâncio. E diz-se ele economista. Só se eventualmente estiver a pensar nas suas economias com esta bajulação socrática.

Primeiro veio Manuel Pinho (apoiado pelo PM!) pedir aos chineses para investir em Portugal, pois temos nos salários uma vantagem competitiva. Agora é o sr. Constâncio a pretender que as nossas leis laborais têm que ser flexibilizadas. Parece-me, portanto, que estamos novamente na rota do sonho oriental. Mas desta vez o objectivo não é cruzar mares nunca antes navegados mas sim transformar Portugal naquilo que são esses países asiáticos. Uma vez que o sr. Constâncio apenas foca a flexibilização laboral como forma de tornar a economia mais competitiva, vejamos com o vídeo seguinte até onde teríamos que ir nessa flexibilização laboral para conseguirmos competir com estas economias.


Bangladesh Sweatshops


Sumário do vídeo:
Bangladesh Sweatshops
Horário de trabalho: 14 a 20 horas diárias
7 dias por semana, 2 dias livres por mês
80% dos trabalhadores são mulheres de 16 a 25 anos


Bangladesh Sweatshops
Empregados sujeitos a objectivos apertados:
coser um botão: 8 segundos
coser um bolso dum casaco: 1 minuto


Bangladesh Sweatshops
Salário duma costureira: US $0.11 a US $0.17 (US $5.28 por semana)
Salário duma ajudante: menos de US $0.8 por hora (US $3.80 por semana)


Bangladesh Sweatshops
É preciso pedir autorização para ir ao WC (duas vezes por dia, no máximo)
Não há baixa por doença, segurança social ou reforma
As tentativas de formar sindicatos levam, geralmente, à prisão
Aos 35 anos é-se despedido, sendo-se substituído por jovens raparigas
Não havendo local para comer, usa-se o telhado


Sr. Constâncio, v.exa está errado! É impossível competir com estas formas de produzir. A única forma de mantermos as empresas europeias competitivas é terminando com a treta desse comércio livre (livre de deveres) substituindo-o pelo comércio justo. Depois deste passo, quando todas as empresas estão sujeitas aos mesmos deveres, então sim, podemos pensar na forma das empresas serem competitivas.


3 comments :

  1. Fliscorno disse...
     

    Maria: porque será que estas contas nunca são feitas também para a classe política? Por exemplo, olhando para o número de deputados per capita, temos um dos maiores parlamentos da UE. E se incluirmos os parlamentos regionais, então ficamos nitidamente bem posicionados.

  2. Maria Lisboa disse...
     

    E não só os deputados! Quanto terão recebido os srs que fazem estes estudos para chegar a estas conclusões?

    Também não me refiro ao que os deputados ganham porque qualquer trabalho tem que ser pago. A mim preocupam-me muito mais as altas reformas que certas pessoas recebem por terem estado durante certo tempo em determinadas funções. Pergunto: porque é que não recebo uma reforma de cada escola em que estive?! Claro que, ao fazer esta pergunta, estou a brincar. Mas não é uma coisa semelhante o que se passa com eles?
    Suponho que esta seja uma das razões porque as contas não chegam "lá". Outra será a de que pensam que, estando "ao leme" da nação, todos os gastos consigo próprios são devidos. E claro que ninguém se atreve a pôr a situação deles em destaque... a não ser quando se zangam as comadres ;)

  3. Fliscorno disse...
     

    Maria: claro que os deputados, como qualquer outro profissional, têm direito a ver o seu trabalho remunerado. Mas:
    a) apenas eles têm a reforma por completo ao fim de 12 anos de trabalho - nada mau, hmm?
    b) o respectivo nº per capita é incrivelmente alto em Portugal;
    c) quando há mudanças para apertar o cinto, contam-se pelos dedos as vezes em que a classe política é incluída.

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