a política na vertente de cartaz de campanha

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O governo Sócrates ama o chicote (saiba porquê)

Este excelente texto de João Miguel Tavares no DN  adianta uma explicação para o comportamento nervoso do governo PS face a quem dele discorda. A ler na totalidade.

http://dn.sapo.pt/2007/07/03/opiniao/o_governo_socrates_o_chicote_saiba_p.html
O GOVERNO SÓCRATES AMA O CHICOTE (SAIBA PORQUÊ)
«Tenho andado para aqui a matutar: porquê? Porquê esta sucessão de casos em que o Governo aparece travestido de carrasco da liberdade de expressão, a chicotear o lombo a quem se atreve a pecar contra essa extraordinária coisa a que chama devotamente "autoridade do Estado". Um professor larga uma piadola sobre o primeiro-ministro? Corra-se com o professor. Um blogue mais mexido anda a levantar dúvidas sobre o impoluto currículo de Sócrates? Enfie-se o autor do blogue em tribunal. Um médico coloca uma fotocópia comentada nas paredes de um serviço de saúde? Pontapé na directora, que não arrancou o papel à velocidade que se exigia. A rapaziada que manda no País anda com os nervos à flor da pele. Por este andar, qualquer dia vai ser preciso bater a continência cada vez que passarmos em frente a São Bento.

Matutemos em conjunto: porquê? É que, convenhamos, tudo isto é um bocado burro. O que se ganha em meter funcionários públicos e cidadãos anónimos "na ordem" não compensa minimamente o desgaste que tal provoca na popularidade do Governo. Entre as próprias fileiras do PS há sempre um Manuel Alegre que não perde a ocasião para recordar os tempos de Caixas e sublinhar que "a esquerda" não pode fazer destas coisas. Então, porque é que os ministros se deixam enredar em questiúnculas da treta, que só servem para se queimarem? A minha tese é esta: eu diria que é assim porque eles não conseguem que seja de outra forma - bramir o pingalim é uma espécie de segunda natureza dos governos reformistas em Portugal.

Estranhamente, aqui na terriola não se consegue ter o melhor de dois mundos. Ou se tem governos panhonhas que não se mexem (género Guterres ou Durão), ou se tem governos esforçados, com vontade de mudança, mas que depois acham que toda a gente tem de dobrar a espinha ao seu extraordinário esforço patriótico (género Cavaco ou Sócrates). Uns não fazem nem chateiam; os outros fazem e por isso acreditam sinceramente que lhes devemos estar muito agradecidos por isso. Isto não é falta de cultura democrática - é mesmo falta de cultura de competência. O primeiro-ministro, a ministra da Educação ou o ministro da Saúde acham, à sua maneira, que são special ones - ou, pelo menos, que fazem parte de um special governo, que está finalmente a pôr o País na ordem. E, por isso, não acham graça nenhuma às pequenas rebeldias de indígenas ingratos. Aqui, sim, falta-nos uma terceira via: sermos um dia governados por gente que perceba que reformar é o seu trabalho natural, e que ao mesmo tempo possa ouvir uma crítica sem de imediato soltar os cães. Um dia. Quem sabe um dia.», in DN, 3-Julho-2007


14 comments :

  1. Maria Lisboa disse...
     

    E se se inscrevessem num clube de S&M e nos deixassem em paz...

  2. Anónimo disse...
     

    A arrogância é a resposta dos incompetentes.

  3. Zé Povinho disse...
     

    A vaidade vai redundando em autoritarismo e o socialismo já foi para a inceneradora.
    Isto está a ficar feio de verdade.

  4. Maria Lisboa disse...
     

    E que dizer desta obra de peso?

  5. Espectadora Atenta disse...
     

    Caro raposa Velha
    Gosto muito do seu blogue... e este post está muito bom!
    Volatmos à bufaria pidesca, como alguns apelidam já Policia de Intervenção de Esquerda! Mas acredite que não vai ser fácil a este governo siar impune a certas atitudes que tem vindo a adoptar. Pode acreditar que não vai ser nada fácil... Hoje pavão, amanhã espanador:)))

  6. Eva disse...
     

    Ora aqui está alguém que sabe "matutar" e até tem umas opiniões respeitáveis.
    Só não concordo é que algum dia chegue a tal terceira via. Nem sequer um dia...

  7. Fliscorno disse...
     

    maria, desde que não fossemos nós a pagar a jóia, tudo bem :)

  8. Fliscorno disse...
     

    anónimo, ora aí está uma frase interessante, a qual assino por baixo com um xis.

  9. Fliscorno disse...
     

    zé povinho, creio que o chucha-lismo é que está em vigor...

  10. Fliscorno disse...
     

    maria, ora, ora, mas quando falamos de peso não é mesmo fast-food? Agora exercício físico na adolescência, ai, que raio de ideia.

  11. Fliscorno disse...
     

    espectadora atenta - que é atenta é, agora espectadora é que não me parece, obrigado pelas palavras simpáticas. Essa do espanador é gira. E para ser franco até dá jeito, ao menos vemos na limpeza do lar alguma utilidade dessa exuberância. Exuberância?! Que não restem dúvidas, hoje estou para eufemismos.

  12. Fliscorno disse...
     

    eva, João Miguel Tavares esteve cinco estrelas, sem dúvida. Agora quanto à terceira via, posso adiantar-te algo. Já chegou ao Cacém e já vai em obras no troço até Sintra.

  13. Pata Negra disse...
     

    O Miguelinho pode vez enquando acertar umas, não faz outra coisa se não pensar nelas, acha que trabalha muito por isso, acha que paga muitos impostos e é especialista em tudo menos naquilo em que cada um de nós sabe alguma coisa.
    Desta vez correu-lhe a pena a favor dos ventos dos seus comparsas de ofício e nós concordamos, apoiamos e até agradecemos!
    Mas não nos traia a memória! Não foi este opinador de profissão que ainda há tão pouco tempo tentava convencer, nos seus tempos de antena, que a revelação sócrates era uma espécie de salvação e castigo para os que mereciam uma ou outra destas duas coisas?!
    Não, o menino pode até dizer que eu sou boa pessoa e que mereço ganhar um décimo do que ele ganha, mas nem assim ele me convence!
    Prefiro os textos do raposa velha!

  14. Fliscorno disse...
     

    João, obrigado pela preferência, é bem vinda já que estas palavras e rabiscos que por aqui vou colocando não passam de carolice :) Sobre o "Miguelinho", não tenho presente os respectivos textos anteriores. Mas obrigado pela nota, hei-de dar uma olhada. De qualquer das formas, acho que o texto presente tem o seu mérito.

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