a política na vertente de cartaz de campanha

Buzz this

Afinal, quem faz os exames?

A Ministra da Educação, Valter de Lemos e Jorge Pedreira afirmaram recentemente em momentos e palcos diferentes que não é o Ministério que produz nem corrige os exames, que esta tarefa é feita por professores e que afirmar que o Ministério estaria a produzir exames mais fáceis em ano eleitoral seria um insulto aos professores.

anteriormente frisei que a realidade é um pouco mais complexa. Resumindo, é uma estrutura do Ministério, o Gabinete de Avaliação Educacional (GAVE) que tem a responsabilidade de produzir as provas e os critérios de correcção (estes últimos determinam que respostas podem ser consideradas certas e erradas). Portanto, os exames têm um responsável político: o GAVE e, por inerência, o ME e a própria ministra.

É certo que há professores a produzir as provas e os critérios de correcção mas não são "os professores", a classe como um todo, a que se referia a ministra. São "alguns" professores, nomeados pelo ME para o fazer.

Excepto se alguém do GAVE tiver a bondade de relatar em que ambiente produzem o material para os exames, só se poderá olhar para a estrutura orgânica do GAVE e tentar perceber até que ponto esta é uma estrutura autónoma como frisou Maria de Lurdes Rodrgues. As imagens seguites, extractos do site do ME e de páginas do Diário da República, procuram esclarecer este ponto.




Fig. 1: A missão do GAVE (Gabinete de Avaliação Educacional)



Fig. 2: Provas e critérios de correcção - competências do GAVE



Fig. 3: director do GAVE: cargo de nomeação política



Fig. 4: A ligação política - antes de ser director
do GAVE, Carlos Ferreira já era assessor no ME




Fig. 5: Estrutura e competências do GAVE



Fig. 6: Flash back - o GAVE já vem de trás e produzir os
exames e os respectivos critérios de correcção não é novidade



Fig. 7: O Júri Nacional de Exames: competências
e cargos de nomeação


Do exposto resulta que o GAVE, bem como o Júri Nacional de Exames, é uma estrutura funcionalmente dependente do ME, repleta de cargos de nomeação política. E em que consiste exactamente a nomeação política se não na escolha de pessoas que concordem com as decisões dos seus superiores?

Desta breve incursão nos meandros do Ministério da Educação não é possível concluir que o ministério tenha ordenado que se fizessem provas mais fáceis mas face à estrutura orgânica do GAVE também não podemos concluir que isso está fora de questão.

Os miúdos garantem que as provas foram fáceis. Coincidência ou acto deliberado? Cabe-lhe a si a conclusão.

Adenda 21.06.2009
- Gralhas corrigidas por amável sugestão de ACS, que também enviou este comentário:
Talvez fosse de frisar que os professores não têm autonomia ao corrigir os exames, seguem critérios de correcção estritos quer a nível do conteúdo quer a nível formal. Portanto, é duma profunda desonestidade dizer que os professores são responsáveis pela elaboração ou pela correcção.
- Um comentário pertinente sobre este assunto, por MJP.

Algumas notas adicionais
- Pretendi foi desmontar a tese “os exames são feitos e corrigidos pelos professores”. Demonstro que os exames são feitos pelo Ministério da Educação e são corrigidos de acordo com os critérios definidos pelo Ministério da Educação. Isto é, os exames têm um responsável político, para o bem e para o mal.

- Convencem-se os alunos a estudar não lhes dando segundas oportunidades gratuitas. A percepção “se falhar desta posso fazer depois”, implícita no conceito das aulas de recuperação e no programa Novas Oportunidades, leva ao laxismo.

- Convencem-se os alunos a estudar aumentando a exigência. Basta uma reportagem à saída de um exame com miúdos a dizerem “o exame fui bués da fácil” para passar a mensagem “não estudes”.

- Obviamente que não defendo que os exames não sejam feitos pelo GAVE nem defendo a inexistência de critérios de correcção. Pretendo, isso sim, que haja responsabilidade e responsabilização de quem é titular da responsabilidade: o GAVE. Dizer que os exames são feitos e corrigidos pelos professores é fugir com o rabo à seringa. O louros e as críticas que houver a distribuir devem ter um destinatário claro (o GAVE) e não uma entidade difusa (”os professores”).


2 comments :

  1. Anónimo disse...
     

    O que diz corresponde à realidade excepto na nomeação política dos membros do JNE. A função das estruturas do JNE é, sobretudo, de organização e gestão dos exames e muitos dos seus membros nomeados em DR já estão desde 1997, ou seja, sem qualquer ligação partidária. Não é por acaso que nenhum governo PS ou PSD/CDS mexeu na única estrutura que assegura a realização dos exames sem responsabilidade na sua elaboração. O GAVE já é outra história.

    Quanto à facilidade dos exames nacionais, pelo menos sabemos as cotações e os critérios utilizados, mas já agora questione-se a forma como as provas de aferição são classificadas e os resultados produzidos. As classificações são produzidas "algures" depois de todas as grelhas dos classificadores, carregadas de códigos, serem analisadas, só depois são "descodificadas" e os resultados enviados às escolas para produção de pautas. Quais são as cotações? Parece-me um processo
    muito propenso a definir cotações à posteriori de modo a possibilitar um sem número de especulações.
    E não há recurso...

  2. j. manuel cordeiro disse...
     

    Obrigado pelo feedback. Como elemento externo à escola, olho para os sinais que são emitidos pelo sistema. Daí minha surpresa com o JNE, ao encontrar tanta nomeação.

Enviar um comentário