a política na vertente de cartaz de campanha

Buzz this

Gasolina, Gasóleo e Brent: preços 2005 - Jul. 2010 (III)

Este é o terceiro e último texto de uma série de três com uma análise da evolução dos preços dos combustíveis entre 2005 e Julho de 2010:

  • Parte I - apresentação dos dados
  • Parte II - Análise dos dados
  • Parte III - o presente texto: Divagações sobre as "infames gasolineiras"

As duas primeiras partes desta sequência foram de cunho exclusivamente factual, enquanto que esta terceira parte será a minha interpretação dos factos.

Mas antes disso tenho um pequeno segredo a revelar.

Antes de começar a escrita desta série já tinha recolhido os dados e feito a sua análise, mesmo que não a tenha escrito. Por isso já sabia que agora estaria a escrever sobre as malvadas gasolineiras, como é frequente ouvir-se dizer. Pude confirmar que a análise que havia feito há 3 meses se matinha válida pelo que, desculpem-me a preguiça, a vou reutilizar, com as necessárias adaptações.

Volta e meio recebo no email um apelo ao boicote às gasolineiras. No calor dos preços, em 2008, eu próprio já participei em iniciativas destas. Entretanto concluí que estas iniciativas são muito giras mas inúteis. É que o grosso do preço dos combustíveis (60% a 70%) são impostos.

Nesta sequência de textos apresentou-se a evolução das grandezas em causa (parte 1) e procurou-se responder à questão se estamos ou não a pagar pelos combustíveis o preço espectável (parte 2).

No geral, os preços dos combustíveis vistos numa escala alargada (5 anos no caso presente), seguem os da matéria prima, o brent. Mas há períodos em que os combustíveis estão em média mais altos do que o esperado e outros em média mais baixos do que o seria de esperar.

Ao analisar se estes períodos se anulam mutuamente ou se, por outro lado, permitem que as gasolineiras acumulem lucros à conta das flutuações no preço do brent, concluí que o saldo é quase nulo mas ligeiramente negativo para as gasolineiras.

Agora, poderemos perguntar, se assim é porque é que o governo deixa passar a ideia oposta, de que as gasolineiras poderão estar a cobrar mais do que o devido? Esta ideia tem sido passada de forma implícita pelo modo de actuação do governo, nomeadamente com os painéis de preços nas auto-estradas (para as gasolineiras não "abusarem"), com sucessivos estudos das autoridades competentes, com diversas declarações dos políticos responsáveis pelas pastas e até com a famosa Taxa Robin que, ao que sei, deu em nada.

Ora, acontece que o governo tem todo o interesse em manter as atenções viradas para essas "sacanas" gasolineiras em vez de os eleitores se exaltarem por a carga fiscal sobre os impostos ser o que é.

São estes impostos que fazem com que tenhamos os combustíveis mais caros do que Espanha e que tanto nos doa na carteira no momento de abastecer.

Portanto, em vez de perdermos tempo com estas mobilizações de massa contra as "infames" gasolineiras (nas quais participei, como já referi), devíamos mesmo era fazer barulho contra os impostos que o governo nos leva nos combustíveis. É que em vez de 5 cêntimos que poderíamos levar das gasolineiras, em causa estão 60 a 80 cêntimos de impostos. Bem diferente.