a política na vertente de cartaz de campanha

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Enriquecimento curricular - notícia na RTP - Parte II

Este texto é a segunda e última parte do texto «As aulas de substituição - notícia na RTP - Parte I».

Ontem, 25-02-2007, o Telejornal da RTP emitiu três peças jornalísticas versando a temática da Educação. A primeira decorreu do facto de o Ministério da Educação ter sido condenado a pagar as aulas de substituição de um professor. Sobre as segunda e terceira reportagens, não se percebe qual o enquadramento para terem ido para o ar neste preciso momento mas, como vimos ontem para a segunda e como vamos ver agora para a terceira, tudo leva a crer que serviram apenas para fazer propaganda política.

As notícias em causa podem ser vistas na totalidade no site da RTP [link], começando estas no minuto 14:30'. Aqui serão apresentados extractos relevantes à argumentação em causa.


nota: este vídeo não corresponde à reportagem completa, tendo sido apenas mantidas as partes relevantes; reportagem completa em [link], após o minuto 14:30'.

Sinopse
A notícia começa com uma breve e correcta descrição do problema. Onde estas actividades já existiam, asseguradas pelos ATL, passaram a ser, maioritariamente, empresas contratadas pelas autarquias a serem responsáveis por esta prestação de serviços. Valter de Lemos assegura que apenas uma minoria (10%?) de escolas apresenta problemas. Opinião não partilhada pelos pais, segundo a reportagem, por existir quebra de qualidade, falta de diálogo entre as empresas prestadoras deste serviço e as escolas, "o problema da formação dos professores e a falta deles".

[Ainda estou para ouvir um governante assumir responsabilidades por algo que não corra bem. Há-de estar sempre bem e quem se queixa, obviamente, está a agir de má fé. Uma atitude destas, de não assumir erros, significa que estes nunca são corrigidos. Porque está tudo bem!]

Neste ponto, a jornalista Ana Rita Freitas, identifica as causas dos problemas:
  • "para as aulas de música não existem professores em número suficiente";
  • "nas outras disciplinas muitos desistem, seja porque consideram que não têm condições nas escolas ou tão só porque financeiramente não compensa."
"Em quase todo o país, foram as autarquias que ficaram responsáveis pelos projectos [...] [mas] nas escolas onde houve um envolvimento dos encarregados de educação, as coisas estão a correr melhor".

[Porque será que autarquia e ineficiência aparentam sempre tanta sinergia?]

A jornalista conclui afirmado que "o enriquecimento curricular veio trazer igualdade de oportunidades a todas as crianças".

[Portanto, em vez de se levarem os bons exemplos ao resto do país, nivelou-se por baixo, destruindo o que já estava bem. É esta a igualdade de oportunidade dada a todas as crianças.]

A questão central
Nesta reportagem, foi gasto considerável parte do tempo com temáticas cor-de-rosa (p.ex. as entrevistas às crianças) sem que isso trouxesse informação adicional. Este tempo podia ter sido investido no aprofundamento da razão de os projectos organizados pelas autarquias terem corrido mal.

Num outro post deste blog foi abordada a questão financeira das aulas de inglês no 1º ciclo, tendo sido demonstrado que uma das empresas ligadas ao processo (a Know How, de Maria João Lopo de Carvalho, Assessora da vereadora da Educação da CML à altura) tinha a possibilidade de gerar lucros fantásticos.

Mas e o que se passa com aqueles que vão prestar o serviço efectivamente, os professores?

Sobre este assunto, vale a pena ler um post que Maria João Lopo de Carvalho mantém no seu blog Frases da Lua com o título "oferta de emprego"
[...] Tenho andado numa azáfama a angariar professores de inglês e nada … [Queixam-se que] os horários são pequenos, o preço hora curto, a escola longe… [...]
[A quem] se dispõe de sorriso na cara a dar aulas de inglês ao 1º ciclo não se importando com os 90 km ou mais diários que têm por vezes de percorrer para chegar à escola, sem pedirem à cabeça qualquer extra para a gasolina e agradecidas por terem arranjado emprego, os meus parabéns! são uma espécie de professoras em vias de extinção! [...] Haja mais portugueses assim!
Um verdadeiro apelo à imbecilidade! Todos, excepto esta menininha, compreendem que seja difícil arranjar "professores" que queiram fazer 90 km ou mais diariamente para chegar à escola (ou seja, 180 Km diários), para ganhar umas poucas e mal pagas horas de trabalho.

Li num comentário do Público que "[...] os professores que vão dar as aulas de inglês, educação física, música etc... nas escolas primárias, que nem contrato possuem, é a recibos verdes, só ganham as horas que trabalham e ganham desde 5 a 10€ consoante a bondade das câmaras.[...]". Não tenho informação confirmada sobre o assunto; agradecem-se esclarecimentos.

As pistas apontam que assim seja, o que explicaria em grande medida a falta de sucesso da menina dos olhos do M.E.

Tem sido prática corrente e recorrente introduzir medidas na Educação de forma urgente, como se nunca se pudesse esperar um pouco para se planear. Mas o facto é que esta maneira de fazer política já há décadas que vem sendo praticada e nunca houve tempo para parar para pensar. Foi sempre urgente. Assim parece que tenha acontecido com estes enriquecimentos curriculares: não houve planeamento e deixou-se que a mais nobre instituição portuguesa - o desenrascanço - fizesse o seu trabalho, com os resultados que vemos. Acabou-se o que estava bem, propagaram-se os maus exemplos.

Conclusão
Sem dúvida que havia muito material para um jornalista aprofundar. Obviamente, não foi essa a intenção de Ana Rita Freitas. A ela interessou-lhe mais passar a ideia de que "o enriquecimento curricular veio trazer igualdade de oportunidades a todas as crianças", mesmo que fosse uma fraca oportunidade e apesar dos existentes problemas.

Estas reportagens parecem uma peça de teatro em três actos:
  • acto 1: os professores não querem dar aulas de substituição se estas não forem pagas;
  • acto 2: mas as aulas de substituição estão a fazer baixar o absentismo;
  • acto 3: nós ainda conseguimos fazer bom trabalho, apesar dos professores.

Registe-se, portanto, a forma de moldar a opinião pública.


2 comments :

  1. Eurydice disse...
     

    Vim espreitar depois de ler o seu comentário no Gato Maltês. :)
    Gostei deste post, tanto mais que não vejo TV e as suas explicações permitiram-me perceber o caso. :)
    Gostaria de sublinhar uma das coisas que comenta: é que realmente não se percebe a facilidade com que as pessoas acham que os PROFESSORES DEVEM PAGAR PARA TRABALHAR em vez de serem pagos pelo seu trabalho, como essa senhora que cita.
    Pergunto-me como reagiria ela se, sendo licenciada, lhe oferecessem um ordenado abaixo do de uma empregada doméstica de limpezas (profissão não especializada), que ainda por cima tinha que chegar para pagar a gasolina, o desgaste do carro etc etc.. além de TALVEZ para comer e pagar uma renda de casa?

  2. Anónimo disse...
     

    as radios e televixoes tao xaeias de incompetentes e comissarios POLITICOS. Ja ninguem tem duvidas. A Escola sovietica ta a funcionar. GRANDESXICOS........

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